Salvador Raimundo
EFECTIVAMENTE, a sucessão de Chissano da presidência do Partido Frelimo já era previsível. O próprio teria manifestado o receio de vir a ser forçado a prescindir do cargo. Os primeiros sinais surgiram quando da campanha eleitoral, num encontro que Chissano manteve com a classe empresarial, no qual teria afirmado que enquanto presidente da República determinadas decisões não podiam ser tomadas sem que antes fosse consultado o Secretário-Geral da Frelimo, Armando Guebuza. Depois, Chissano teria dito aos empresários que uma vez Guebuza presidente da República – ele acreditava que seria eleito – automaticamente os papéis iriam-se inverter, ou seja, passaria o antigo presidente da República a “controlar” a acção do Chefe de Estado, Armando Guebuza, se, teria sublinhado Joaquim Chissano nesse encontro, não lhe tirassem também do cargo de presidente do Partido Frelimo. Provavelmente Chissano tenha sido forçado a prescindir de se candidatar a mais um mandato para a Ponta Vermelha, acontecendo o mesmo, eventualmente agora com a retirada “voluntária” da presidência da Frelimo. Tanto Chissano quanto Guebuza ainda não emitiram sinais claros de que o ex-presidente tenha sido coagido a prescindir dos cargos que vinha exercendo. Do mesmo modo que nada de convincente existe capaz de amenizar o clima de especulação que paira nalguns sectores da Frelimo e não somente. Até ao momento nada que se pareça. E é nisto que a Frelimo marca a diferença. A roupa suja é lavada entre as quatro paredes, onde se admitem cenas inimagináveis prolongando-se por aí além, com direito a espaço para amenizar os ânimos antes de se apresentar em público. Esta postura reflecte a grandeza do Partido que, se calhar por isso, mesmo assim deveria saber esclarecer os moçambicanos sobre determinados sinais que escapam das paredes da agremiação, como a súbita retirada de Chissano, por exemplo. É enorme a ansiedade... EXPRESSO(Maputo) - 14.03.2005