João Craveirinha
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Era uma vez no País do Deixa Andar. O ano de 2003, gatinhava pachorrentamente no entrar do novo ano. Um início pesado e dramático para a família de um Poeta. A Neta desse Poeta é estudante universitária numa Faculdade local.
Em homenagem ao Poeta, é atribuído o seu nome à Biblioteca de uma Escola Portuguesa, com certeza.
Quatro paredes caiadas, um cheirinho a maresia…
É com certeza, uma Escola Portuguesa! (Aí fadista!).
Na cerimónia inaugural, eis quando senão, ao canto da sala discretamente, um Gato de botas altas (pouco limpas), sussurra algo à Neta do Poeta com uma Humildade que Mia. No final todos de acordo. Afinal o que miara o Gato das botas altas? Muito simplesmente e tardiamente, pedira desculpas à Neta do Poeta pela arrogância cometida durante uma das aulas da Faculdade em que leccionava como Monitor. O assunto –, ofensa ao Avô da Neta do Poeta. Melhor mesmo começarmos do início. Recuemos talvez a 2001 ou 2000. O Gato das botas altas na Terra dos Zarolhos – nem todos mas porém – Professor assistente da Neta do Poeta ao saber da ligação familiar desta com o laureado teria dito numa aula em bom som: -. “Esse (o Poeta) já era!”…
Hirta, muda, paralisada, reage tremendo de indignação, amarfanhada, humilhada, vertendo lágrimas chega a casa que partilha paredes-meias, com o Avô Poeta, numa casa Moçambicana com certeza. O Pai preocupado e o Avô (ainda em condições
físicas assim, assim), indagando da causa das lágrimas, viria a resposta:
-. Ouvi que o Avô já era!... Bem, já era, presumimos, no sentido de estar ultrapassado, acabado, velho…Rei morto, Rei posto…Mas, Ah! …”Gennus Irritabile Vatum”… Essa Raça Irritável dos Poetas.
E cada Poeta é duas Raças dicotómicas – uma Calma outra Irritável. É só provocarem. O Avô da Neta do Poeta, reage, acusa o toque. Ele, que já superara a Raça, no contexto do Gato das botas altas, da Humildade que Mia. Pois é…tal e qual como na Fábula do Francês Jean de La Fontaine (1621-1695). A Fábula do “Leão Moribundo” (Le Lion devenu vieux), em que na ante agonia o outrora todo-poderoso Rei Leão era escarnecido por todos os antigos súbditos ou discípulos neste caso. Até o Burro vinha aos pinotes, aos pulos, eufórico para o escoicear…Mas aí o Leão num último esforço de reserva de energia, num último alento, ergue-se e dá um grande rugido monumental na Televisão via satélite, afirmando-se…ser um Poeta e Escritor da Cacimba Africana e não do Orvalho Europeu…Mas La Fontaine, esqueceu-se do Gato. Coitado. La Fontaine não podia adivinhar tudo no seu século XVII. Apesar de ter um Poema em que menciona o Império de Muene-Mutapa. É que, para além do Burro aos pinotes, vinha atrás todo espertalhão, o “maalantro” do Gato das botas altas (pouco limpas).
Todos os bichos bichando para injuriar o Leão Moribundo. Consta, segundo as Masseves (sogras - comadres) da má-língua… que, tudo afinal não passava de um maior protagonismo do Gato das botas altas, tentando ultrapassar a do Poeta – Leão da Mafalala / Munhuana, de renome firmado em todo o Mundo, ao reescrever a Moçambicanidade com dignidade no assumir da própria etno-História sem alienações,
demagogias e retóricas. Toda a História de um Povo tem os seus sacrifícios e os seus Heróis, ainda discutíveis que sejam…Negar isso é esvaziar o processo da Moçambicanidade em curso, por mais doloroso que sejam certos detalhes Históricos. Caso contrário só trará FUDJO (confusão - desordem), na cabeça dos menos atentos sobretudo na camada mais jovem. Mas as Masseves iam mais longe: -. Que o Gato, fazendo jus ás suas características egocêntricas, bem aburguesadas, dos pequenos felinos domésticos, a que pertence, já nem “panhava” ratas. Só ratos. Mas no final mesmo, tudo ficou bem entre nós na Terra dos “ceguetas” do País do Deixa Andar –, com o devido respeito para os Invisuais que vêm mais que a maioria de nós –, e aos não invisuais na aparência, mas cegos na dignidade. Enfim. Isto tudo por causa de um Gato de botas altas que Mia Humildade. Coisa pouca. Não chega a rugir. Não é Leão. É Gato e não é Maltês. Não toca piano e não escreve francês. (FIM)
(Glossário: FUDJO: - palavra suahili significando CONFUSÃO em português e nada tem a ver com o verbo Fugir…Fudjista “aportuguesamento” da palavra Fudjo também baseada no FFU (Field Force Unit) Polícia de choque Tanzaniana popularmente chamada: Fanya Fudjo Utaona. (Cria Confusão Verás). Aos desertores da Frelimo em Tanzânia seriam chamados de Fudjistas não por fugirem da luta mas por Confusos ou CONFUSIONISTAS ideológicos em 1º lugar).
CORREIO DA MANHÃ(Maputo) – 04.04.2005