Ungulani Ba Ka khosa
Confesso: não gosto deste título. Moí e remoí a minha pobre mente à procura
dum título que fosse mais sectorial, mais específico, mas não encontrei
outro título. Sei que este é abrangente. E a abrangência leva-nos, quer
queiramos ou não, ao totalitarismo. E de fascismos a História anda farta. Os
leitores que me desculpem por esta costela fascista. Mas é da imprensa que
quero falar.
O governo saído das últimas eleições tem pautado por uma conduta que muito
se assemelha a ofensiva política organizacional do tempo samoriano (anos
oitenta). Nessa altura, devo dizer, Samora, depois de ter decretado, em
1976, sanções contra a então Rodésia, resolveu arrumar a casa. E nasceu a
Ofensiva política organizacional. Viramos a nossa conduta política para o
nosso umbigo. E Samora foi impecável. Depois apareceu o Chissano. Diziamos
dele que era "mariazinha". Um termo pejorativo. Mas dele poucos disseram que
foi um grande presidente, pois na sua governação trouxe-nos aquilo que é
muito caro no nosso continente: a paz e a liberdade de imprensa. A nossa
imprensa, vulgarmente designada por livre, dá-nos, nos dias que correm, a
imagem de um Chissano mau gestor. É assim que educamos, melhor, que
transmitimos valores dignificantes a outras gerações? A resposta é óbvia.
Não! E um dos grandes culpados por este deslize é a nossa imprensa. Ela não
consegue assumir o seu verdadeiro papel que é do quarto poder! Ela não passa
de uma meretriz dos poderes instituídos. Assim não dá. Se hoje olhamos o
Chissano como um diabo, amanhã o Guebuza será um ser maquiavélico.
Olhemos os nossos presidentes dentro dum quadro histórico bem preciso. E saibamos assumir que a imprensa só é Imprensa de facto quando ela assume o seu papel valorativo e educacional. Queremos uma imprensa que nos dê auto estima, que nos dê dignidade. Não queremos uma imprensa "Moleque".
VERTICAL - 25.04.2005