A nova constituição da República prevê Conselho de Estado.
Antes de tudo, ouviu-se que o presidente Guebuza convidou o Dhlakama a tomar o seu lugar no Conselho de Estado e pelos vistos, quase todos os órgãos de soberania estão a funcionar, desde Assembleia da República até aos órgãos judiciais.
Já houve almoço com presidentes derrotados, com excepção do da Renamo, já houve “mata-bicho” com os editores, só não houve “mata-bicho/almoço/ jantar com representantes dos partidos políticos.
Já houve desdobramento pelas províncias a agradecer o povo por ter votado na Frelimo e no Guebuza. Agora o Guebuza está numa “presidência aberta” pelo país e aproveita para agradecer ao povo por ter votado nele e no seu partido.
Alguns jornalistas, acorrentados ao regime, não poupam esforço de fazer tudo por tudo que estiver ao seu alcance para agradar o novo chefe evitando fazer perguntas pertinentes.
O novo chefe diz que o povo está pronto para assumir as mudanças. Mas eu sinto que o povo sempre esteve pronto para assumir as mudanças seja com quem for.
O que sinto é que o governo do Guebuza não está pronto para as mudanças porque o informe do Madeira que faz parte do Guebuza não traz nenhuma mudança, continuamos a ouvir as mesmas coisas do regime do deixa andar!
A única diferença que noto nestes três meses é que este governo quer imprimir a maior rigorosidade mas a política, os pontos a atacar são os mesmos do deixa andar.
Na minha óptica, não se pode imprimir nenhuma rigorosidade enquanto as políticas sectoriais estiverem falhadas e a caminhar assim não se combate nenhuma coisa que está sendo dito.
O informe do PGR não trás nenhuma mudança, estamos no regime do deixa andar. Na minha opinião o termómetro está no Madeira e não no povo, para acabar com todos os males que grassam o país.
Gostaria de saber se o Guebuza está satisfeito com o informe do Madeira? Quem abriu as portas para o Anibalzinho sair da cadeia? Quem pagou passagem para Toronto? Se ainda não tem nada a dizer sobre coisas quentes porque não pediu a assembleia para adiar até que tenha algo de substancial?
Se eu fosse jornalista, iria perguntar ao Guebuza que para quando está marcada a tomada de posse do Conselho do Estado? De certeza se o lugar fosse daqueles que foram ao almoço e não Dhlakama, já teriam tomado posse há muito tempo, logo a seguir aos deputados mas como o povo atribuiu ao Dhlakama e não há meio legal para acomodar os que estiveram no almoço, então pode
se tomar posse qualquer dia quando a Frelimo e Guebuza entenderem.
Afinal o que diz o Tribunal Constitucional sobre a matéria? S ó perdem tempo em estar presentes em assuntos que só dizem respeito ao partido no poder e amigos e não assuntos constitucionais que dizem respeito ao povo no geral. Só estava preocupado com Guebuza e Assembleia da República tomar posse e mais nada e onde o Conselho de Estado?
(...) Tive ocasião de ler na imprensa as denúncias de irregularidades feitas pelos organismos internacionais que fiscalizaram o processo eleitoral moçambicano: votos a mais nas urnas, troca propositada de cadernos, chegada tardia do material de votação nas assembleias, a não colocação do material de votação em certas assembleias de voto, sobretudo nas zonas de influência da Oposição, impedimento de fiscais da Oposição, etc., etc. e no entender das mesmas organizações e alguns analistas moçambicanos, tais irregularidades não afectaram o resultado final.
A questão que coloco é: se eu estiver a fazer um exame de 5 perguntas e cada pergunta tem 4 valores e for surpreendido a copiar a última pergunta apenas, a nível do mundo, pedagogicamente, anula-se todo o exame e neste caso concreto, qual a diferença entre o ser apanhado a copiar a última pergunta e encontrar votos a mais – 5, 56, 500 – a favor de alguém e dizer que não afecta o resultado?
Porque é que a pedagogia não anula a última pergunta em causa e não aplica nota zero ao estudante? Sabendo que anulando aquela pergunta não afecta o resultado do estudante pois ele continua com 16 valores? Em vez de lhe atribuir nota zero, isto é anular todo o exame? Gostaria que esta questão pedagógica fosse vista da mesma maneira com as irregularidades que aconteceram nas últimas eleições.
Um amigo meu, casado com uma estrangeira que pertence à União Europeia ter-me-ia advertido que mesmo que a Frelimo perca as eleições, os observadores iriam declarar a favor dela e não da Renamo mas eu não tomei em consideração e por isso mesmo não adverti a Oposição. Mas mesmo se tivesse advertido em que haveria de contribuir!
BATANANHI CHIGOGORO
IMPARCIAL – 11.04.2005