PARA ESCONDER PREJUÍZOS CAUSADOS E DEFENDER COMICHE
Laurindos Macuácua
- A FRELIMO votou contra a ideia do grupo JPC de se contratar um auditor externo para explicar os possíveis prejuízos que possam advir do rombo verificado e culpabilizar os seus mentores. Esta atitude é entendida pela oposição com assento na Assembleia Municipal como uma tentativa de defender Eneas Comiche.
- Entretanto, Comiche diz que não respondia a quaisquer abordagens fora da reunião da Assembleia Municipal, pelo que, frisou, “se quiserem qualquer tipo de esclarecimentos é melhor irem às sessões”.
(Maputo) A gerência da edilidade da cidade de Maputo, nestes tempos do edil Eneas Comiche, parece estar envolta em águas turvas. Fala-se de 854 milhões de meticais e 100 mil dólares norte-americanos que terão desaparecido dos cofres do município sem nenhum justificativo.
Para o sumiço do primeiro valor, soubemos, Eneas Comiche, pontapeando a lei, teria celebrado um contrato verbal com a MOCAUTO, uma empresa que faria a assistência à frota de viaturas da Direcção da Salubridade e um vasto leque de tractores distribuídos pelas administrações.
Como não tivesse havido lugar para a realização de um concurso público e o contrato com a empresa retromencionada haja sido verbal, sempre que esta precisasse de acessórios para as viaturas do município comprava-as, com o dinheiro dos seus cofres, e no fim remetia as facturas à edilidade com valores já acrescentados.
Este facto resultou em sobrefacturação pelo que a bancada municipal do grupo cívico Juntos Pela Cidade (JPC) pediu que se criasse uma comissão ad- hoc, composta por esta formação, a RENAMO-União Eleitoral (RUE) e a FRELIMO, para investigar a questão.
Apurou-se haver, inequivocamente, valores gastos sem justificativos e a questão levantou tanta poeira.
Para se terminar com a dança de ventre, o JPC pediu que o município contratasse um auditor externo para auditar e explicar a quantas anda o município financeiramente.
É aqui onde as três formações políticas entram em rota de colisão, porque os deputados da FRELIMO, a maioria, votaram contra a ideia de trazer um auditor externo, deixando sem alternativa a RUE e o JPC.
“Como não tínhamos outra alternativa, acabámos encerrando o processo e o dinheiro desapareceu sem nenhum justificativo”, disse Issuf Mohamed, deputado da Assembleia Municipal pelo grupo JPC.
Por outro lado, o município teria, no ano passado, se comprometido a construir, em consonância com o sector privado, sanitários públicos em diversos locais da sua jurisdição. Para o feito, explicaram as nossas fontes, já estavam garantidos 100 mil dólares norte-americanos para o arranque do projecto que teria o seu cume em Junho do ano transacto.
Para o espanto dos deputados da oposição, como se não bastasse, o facto de o projecto não ter ganho forma, Eneas Comiche apareceu, em uma entrevista à nóvel estação televisiva (STV) na semana finda, a dizer que tal não se consubstanciaria, porque o município “não tem dinheiro”.
São estes, pois, os factos que fazem com que a oposição, com assento na Assembleia Municipal, devasse tudo para saber onde é que foram parar os balúrdios de dinheiro alocados à edilidade para tarefas a ela inerentes.
Chegámos à fala com Eneas Comiche, mas este disse, laconicamente, que não respondia a quaisquer abordagens fora da reunião da Assembleia Municipal. Pelo que, “se quiserem qualquer tipo de esclarecimentos, é melhor irem às sessões da Assembleia municipal”.
DIÁRIO DE NOTÍCIAS (Maputo) – 14.04.2005