A tradição oral africana já é um facto adquirido nos meios científicos. É através deste processo que durante vários séculos da nossa história os conhecimentos se transmitiram de gerações para gerações e é dessa forma que nos chegou muita informação sobre a nossa cultura e o nosso passado.
Um conhecido historiador e etnólogo africano, de referência em tradição oral do Mali, de nome Amadou Hampâté Bâ (1901-1990), proferiu uma vez a célebre frase - "Em África, cada velho que morre é uma biblioteca que se queima” - para caracterizar melhor a importância da oralidade na transmissão de conhecimentos dos mais velhos para os mais novos.
Mas se é verdade que em África os conhecimentos se transmitem há muito tempo dessa forma, também não deixa de ser menos verdade que essa tradição se extrapolou hoje para outras andanças, que não aquelas a que os mais velhos estavam habituados.
Na Guiné, os factos, pouco tempo após terem sucedido, já estão a ser noticiados de boca em boca, de uma forma mais rápida do que qualquer outro meio de comunicação social. Dessa maneira as notícias chegam frescas a terceiros, mas já num estado bastante distorcida, “salgadas e cafumbadas”, uma vez que cada informador se encarrega de difundi-las da maneira como lhe convém e quase sempre acrescentando algo mais, de forma a torná-las mais condimentadas.
A esta forma de difusão de notícias nós chamamos de “Jornal di Tabanca”. Como nem sempre é fiável, convém sempre precavermo-nos, dizendo antes de transmitir qualquer informação proveniente desse tipo de fonte - i ca ami ki fala, é conta’n nan – para evitar, no caso da notícia em causa ser falsa ou mal contada, que os outros venham nos acusar de termos mentido.
É verdade que hoje os nossos jovens andam muito desocupados, em virtude da estagnação dos nossos sectores produtivos e da degradação dos equipamentos colectivos de utilização pública, e o “Jornal di Tabanca” foi uma das muitas formas encontrada por eles para se entreterem. Mas não só os jovens, também os próprios políticos já se dão ao trabalho de fomentar este tipo de informação, com o intuito de difamar os adversários ou de se afirmarem perante a sociedade.
Depois das notícias sofrerem tanta distorção, elas acabam muitas vezes por assumir formas de boatos, crenças, mitos e até preconceitos sociais.
Retirado da net - Site Guiguis