CRISTINA FERREIRA
A instituição financeira que será criada tem uma filha de Eduardo dos Santos no quadro accionista, para onde poderá entrar também Américo Amorim.
Um grupo de quadros superiores do Banco de Fomento de Angola - controlado pelo grupo Banco Português de Investimento (BPI)-vai abandonar a instituição para criar um novo banco comercial. A instituição será dominada por capitais angolanos e contará, no quadro accionista, com a empresária Isabel dos Santos, filha do Presidente José Eduardo dos Santos, e, numa segunda fase, com o grupo de Américo Amorim.
O novo banco, que se designará Banco BIC (Banco Internacional de Crédito), irá arrancar com um capital social de 10 milhões de dólares, e será liderado por Fernando Teles, que ontem abandonou formalmente as funções que vinha desempenhando no Fomento de Angola(BFA), onde era administrador executivo. Contactado em Luanda pelo
PÚBLICO, Teles admitiu estar de saída para constituir o BIC, onde irá deter também uma participação accionista.
O gestor confirmou, igualmente, que será acompanhado por quatro directores portugueses a trabalhar com ele no Fomento de Angola, que é hoje o maior banco comercial daquele país, liderando no segmento de depósitos, com 25 por cento de quota de mercado em termos nacionais.
O Ministério das Finanças de Angola e as autoridades reguladoras do país já foram informadas das alterações que estão em curso na maior instituição financeira comercial angolana.
Para além de Fernando Teles, farão ainda parte da estrutura accionista do BIC, entre outros, a empresária Isabel Santos, com 25 por cento do capital, Manuel Ferreira, proprietário da Martal(supermercados e ramo imobiliário), e ainda Sebastião Lavrador, presidente do Banco Sol e ex-governador do Banco Nacional de Angola.
Isabel dos Santos possui uma posição na operadora de telecomunicações angolana, a Unitel, uma parceria com a Portugal Telecom, e que possui os direitos de exploração do serviço móvel de telefones em todo o território angolano.
O PÚBLICO apurou que o conjunto de accionistas angolanos do Banco BIC tem mantido conversações com o grupo Amorim, para este entrar no capital da instituição, uma operação que está ainda dependente da aprovação em Conselho de Ministros. Contactado o grupo nortenho pelo PÚBLICO, através do correio electrónico, para confirmar a presença de Américo Amorim na estrutura accionista do novo banco, foi comunicado que o industrial não estava presente na empresa, pelo que não poderia responder.
Há cerca de dois anos, Américo Amorim vendeu o Banco Nacional de Crédito (BNC) ao Banco Popular Espanhol, onde assumiu uma posição accionista. Já este ano, o industrial anunciou que possuía também dois por cento do BPI.
Nova administração escolhida
O PÚBLICO confirmou junto do Português de Investimento as mudanças ocorridas na gestão do BFA, nomeadamente a saída de Fernando Teles, que deixou o cargo de administrador a seu pedido, tendo requerido a passagem à reforma. A instituição angolana, que pertencia ao Banco de Fomento Exterior (BFE) - adquirido pelo BPI em 1992 -, conta
actualmente com 180 mil clientes e 607 trabalhadores. Possui ainda uma rede comercial de 36 balcões (40 até final do ano). Em 2002, o BFA foi transformado de sucursal em banco local.
Ontem, o BFA promoveu em Luanda uma conferência de imprensa para anunciar os novos corpos sociais. O conselho de administração do banco angolano vai integrar Fernando Ulrich (presidente do BPI), António Domingos, José Amaral, José Manuel Toscano, Emlídio Pinheiro, Benjamim de Pinho e Carlos Ferreira. Estes três últimos gestores, todos residentes em Angola, vão fazer parte da comissão executiva que será encabeçada por Emídio Pinheiro.
PÚBLICO - 07.04.2005