AO MESMO TEMPO QUE EXPRESSA DESENCANTO COM THABO MBEKI
A Secretária de Estado dos Estados Unidos da América, Condoleezza Rice, também tratada por Condo por pessoas mais chegadas, faz uma avaliação positiva da conduta do actual Presidente da República de Moçambique, Armando Guebuza, relativamente ao seu relacionamento com o regime de Robert Gabriel Mugabe, no Zimbábuè.
Segundo fontes diplomáticas devidamente informadas, Condo tem expressado estes sentimentos em círculos restritos, ao mesmo tempo que não esconde o seu desapontamento com a atitude adoptada pelo chefe de estado da África do Sul, Thabo Mbeki, em relação a Mugabe – que ela própria define como sendo complacente.
Outros governos cuja conduta tem merecido aplausos de Condo pelo seu “distanciamento” a Robert Mugabe são os do Malaui e Angola, segundo os mesmos observadores.
O Foreign Office (Ministério dos Negócios Estrangeiros do Reino Unido) também tem uma visão crítica da atitude de Mbeki face a Mugabe. A política dos EUA e da Grã-Bretanha para o Zimbábuè é objecto de uma concertação abrangendo também a Austrália. Visa, no essencial, criar condições adversas à continuação de Mugabe no poder há 25 anos.
Da short list dessas condições faz parte o isolamento de Mugabe, em especial na região – e como forma de manifestação de reprovação da sua política por parte dos seus próprios vizinhos e parceiros.
“Mau exemplo”
O desapontamento de Rice, em que degeneraram as expectativas iniciais dos EUA (ainda no tempo de Collin Powell) de poderem contar com uma posição compreensiva e cooperante de Thabo Mbeki tendo em vista o afastamento de Mugabe, é considerado especialmente ingrato: o PR da África do Sul e o Congresso Nacional Africano (ANC) converteram-se, afinal, no seu mais importante sustentáculo regional do regime de Harare.
Os EUA e a Grã-Bretanha receiam especialmente que as perversões de que a política de Mugabe se alimenta, a persistirem impunes, possam vir a constituir um mau exemplo para o futuro da própria África do Sul e outros países da região.
As principais perversões das políticas de Robert Mugabe:
a) Uma obsessão contra os brancos; embora não pareça reflectir genuínos sentimentos rácicos, sendo antes um estratagema de conservação do poder, tal obsessão é em si um fenómeno considerado perigoso, entre outras razões devido aos riscos de contágio na África do Sul.
b) As medidas insensatas que tem seguido e levaram à ruína da outrora pujante economia do Zimbábuè; de país exportador de cereais passou a importador; o desemprego atingiu a taxa-recorde de 80% e a inflação de 600%.
c) A displicência com que organiza eleições consideradas manifestamente fraudulentas e o modo arrogante como reage às críticas afins é um precedente capaz de tentar outros governos.
Alternativas
Depois de terem concluído que não poderiam contar com Mbeki nos seus esforços para isolar Mugabe, os EUA e a Grã-Bretanha viraram-se para outros países da área, tentando obter o seu apoio. Angola, Moçambique, Malaui e Botsuana foram os países que mais se prontificaram a tal, ainda de acordo com as nossas fontes, geralmente bem informadas.
Factores que terão sido determinantes da receptividade de Angola e Moçambique às pretensões norte-americana:
a) Moçambique: o novo PR, Armando Guebuza, pretenderia dissipar suspeitas de que adoptaria uma política mais benevolente em relação a Mugabe; o distanciamento que tenciona guardar em relação ao Governo de Harare vai dar azo a benefícios políticos e materiais – importantes para um país cujo orçamento depende em mais de 50% da ajuda internacional, avaliada em USD 700 milhões/ano.
b) Angola: na formulação da sua política externa, o factor mais determinante é agradar aos EUA; precisa de fazer demonstrações de boa vontade, conquistar/reforçar a confiança norte-americana, de modo a captar apoios para as suas políticas internas e externas; precisa, em especial, do apoio norte-americano para adquirir respeitabilidade externa e não quer irritar os EUA devido à sua nova aliança com a China Popular.
José Eduardo dos Santos e Armando Emílio Guebuza evitaram estar presentes nas cerimónias que marcaram as celebrações dos 25 de governação de Mugabe, na passada segunda-feira. Em seu lugar, ambos despacharam delegações chefiadas pelos respectivos primeiros-ministros, nomeadamente Luísa Dias Diogo e Fernando da Piedade “Nandó”.
(Redacção) – CORREIO DA MANHÃ(Maputo) – 20.04.2005