O luso-angolano Pedro Vaz Pinto obteve em Fevereiro esta foto de um grupo de palancas negras gigantes. Esta é a «prova de vida» que faltava do animal mais emblemático de ANGOLA e que constitui um símbolo de esperança para o 30. ° aniversário da independência.
A PALANCA negra gigante, símbolo nacional de Angola e o mais belo antílope do mundo segundo os especialistas, não está extinta, como se temia. Pela primeira vez desde 1982, o luso-angolano Pedro Vaz Pinto, director da Fundação Kissama e professor do Centro de Estudos e Investigação Científica da Universidade Católica de Angola (UCAN), obteve, em Fevereiro, fotos de uma manada do emblemático animal no Parque de Cangandala, na província de Malange.
O «achamento» da palanca negra gigante pôs em alvoroço cientistas e amantes da Natureza, mais habituados a más notícias em matéria de defesa da biodiversidade.
O «Hippotragus Niger», nome científico da palanca negra gigante, foi descoberto em 1909 e figura desde 1932 na lista das espécies «sob protecção absoluta», estabelecida pela «Convenção para a Protecção da Fauna e da Flora Africana». Apesar da criação das reservas integrais do Luando e de Cangandala, a palanca negra já era considerada em «risco crítico» três décadas mais tarde, com uma população total reduzida a 2500 exemplares.
O símbolo de Angola
Ao alcançar a sua independência, Angola escolheu naturalmente como símbolo este animal, que não existe em nenhuma outra parte do mundo e nunca foi exibido em jardins zoológicos.
A selecção angolana de futebol tomou o nome de «Palancas Negras», e a companhia aérea nacional adoptou como emblema uma cabeça de macho adulto - o único que se veste de preto na idade adulta e cujos chifres «gigantes» podem medir até 1,5 metros.
Com o início da guerra civil, as palancas negras ficaram entregues à sua sorte no Planalto Central, palco dos mais violentos combates entre tropas governamentais e da UNITA. Poucos acreditavam que tivessem sobrevivido num cenário de guerra e destruição, com os velhos caçadores a incluírem-nas entre as vítimas inocentes do conflito.
Desde que, na década de 90, um grupo de generais angolanos criou a Fundação Kissama, para apoiar o Estado na preservação e recuperação do património natural de Angola, que obter «provas de vida» da palanca negra foi uma das preocupações de todas as pessoas envolvidas no projecto. Pedro Vaz Pinto é uma delas.
Um projecto arrojado
As primeiras tentativas foram infrutíferas, apesar dos relatos insistentes de populares que tinham avistado pequenos grupos de palancas nos seus antigos santuários.
Em Setembro de 2003, a UCAN e o Governo Provincial de Malange iniciaram o ambicioso projecto que acaba de ser coroado de êxito. Duas expedições -em Outubro de 2003 e Abril de 2004 - recolheram indícios consistentes, mas nenhuma prova cientificamente irrefutável da sobrevivência das palancas.
Na terceira expedição foram utilizados dois «microlight» (aviões ultraligeiros) para fotografar as palancas do ar. Mas o método, que deu excelentes resultados em todo o continente, revelou-se inadequado por falta de visibilidade na floresta cerrada, o habitat natural das palancas negras.
Mudou-se a estratégia. Em Outubro, teve início a formação de 20 «pastores de palancas», recrutados entre a população local, para patrulhar o parque, e Pedro Vaz Pinto montou «armadilhas» para «caçar imagens» em duas salinas naturais. Seis câmaras fotográficas disparavam de cada vez que um animal atravessava um feixe de raios infravermelhos. «Todos os meses, visitava os locais para mudar as pilhas e os rolos. As primeiras colheitas foram uma decepção: havia antílopes, mas nenhuma palanca», diz Pedro.
Êxito e esperanças
Em 26 de Fevereiro, «tive logo quase a certeza do êxito», revelou ao EXPRESSO o jovem investigador. Tinha visto no chão pegadas frescas e «inconfundíveis». Os resultados excederam as suas expectativas. Dois dos rolos enviados para Lisboa para serem revelados produziram 15 fotos «excelentes» de um grupo de palancas negras, fêmeas e crias.
O macho dominante, que devia andar por perto vigiando o seu harém, não foi apanhado, «mas duas fêmeas visivelmente prenhes confirmam que os animais estão de boa saúde», comenta Pedro.
Há que tomar sem demora as medidas necessárias para a sua protecção, e em Angola a luta contra a caça furtiva «é uma história de polícias e ladrões em que os primeiros estão (quase sempre) em desvantagem».
«O que nos vale é o apoio de alguns mecenas e instituições e das populações locais» diz Pedro, que cita outros indícios de regeneração da fauna dizimada pela guerra. Foram avistados elefantes no Parque da Kissama, ao sul de Luanda. Pensava-se que tinham sido totalmente exterminados, mas alguns refugiaram-se nos confins montanhosos e florestados e poderão bastar para repovoar o parque. «Populares dizem ter ouvido, de noite, um leão rugir perto do rio Kwanza», diz o investigador, acrescentando: «Seria uma notícia fabulosa, porque os grandes predadores só aparecem onde a caça é abundante».
Foto: Dois dos rolos enviados para Lisboa para revelar produziram 15 fotografias de um grupo de palancas negras, fêmeas e crias. Passeavam-se no Parque de Cangandala, na província de Malange.
May 08, 20:44
Fonte:Expresso (Nicole Guardiola)
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