«Angola está a preparar uma réplica da `Operação Vassoura´», garantiu um oficial da Frente de Libertação do Enclave de Cabinda (FLEC) ao Ibinda.com. Após o abate reivindicado pela FLEC de um helicóptero Ecuriel da Polícia Nacional, estão a ser mobilizados meios sem precedentes para a localização dos destroços do aparelho e dos seus tripulantes, o piloto Higino de Jesus Coelho Figueiredo e o co-piloto Jacinto Bunda, apesar das dificuldades nas buscas. «As buscas efectuadas até ao entardecer de domingo não vislumbraram qualquer vestígio do aparelho nem dos seus ocupantes, devido às dificuldades de penetração na densa floresta do Maiombe», adianta uma notícia da agência angolana Angop, que argumenta que «a floresta do Maiombe tem variedades de precipício que podem atingir, em algumas zonas, uma profundidade de até cinco quilómetros», uma irrealidade geográfica notada por muitos observadores que lembram que a montanha mais alta do continente africano, Quilimanjaro, tem 5895 metros.
Outra nota da Angop do dia 22 de Maio indica que os membros da tripulação e um oficial de Guarda Fronteira encontravam-se a bordo do helicóptero abatido, «em missão de rotina para reabastecimento aos efectivos, em zonas de difícil acesso fronteiriças aos Congos, Democrático e Brazzaville», confirmando assim a existência do dispositivo militar que foi assinalado por várias testemunhas.
Entretanto, vários observadores estranharam a notícia difundida pela agência noticiosa estatal angolana segundo a qual «efectivos da Polícia de Intervenção Rápida (PIR) em Cabinda realizaram uma campanha de limpeza a praia Girasol». Tendo em conta que a PIR é um corpo de elite da polícia, os mesmos observadores consideraram que esta acção de «limpeza da praia» esconde um real objectivo de reforço dos efectivos no enclave para uma operação de envergadura em vista.
Um analista contactado pelo Ibinda.com explicou que há cada vez mais divergências no seio do MPLA quanto ao futuro de Cabinda. «A direcção do partido MPLA recomendou que sejam estabelecidas conversações secretas com os cabindas sem, no entanto, dar um grande alarido para que o processo não descarrile, tendo em conta os desafios de momento», revelou. Segundo a mesma fonte, os negociadores devem fazer tudo para que as conversações «sejam secretas, longe da comunicação social e de preferência sem recurso a mediação estrangeira».
O observador avançou ainda ao Ibinda.com que «um dos desafios que se coloca tem a ver com a organização das eleições gerais em Angola no próximo ano cujo o processo em Cabinda não deixa os estudiosos tranquilos tendo em conta a situação de guerra que se vive».
É nesta óptica, segundo fontes, que as FAA foram consultadas para dar o seu parecer quanto às possibilidades de se encetar o dialogo com a FLEC. As mesmas fontes garantem que os militares sugeriram ao MPLA que «lhes dessem mais um tempinho para retomarem as operações militares onde secretamente alguns especialistas Israelitas poderiam fornecer a sua perícia».
A colaboração de Israel com as FAA, apesar de discreta, tem sido intensa. Tal como garantiram alguns especialistas, Israel, desde a era de Mobutu, estabeleceu uma forte cooperação militar na região, conhecendo assim as particularidades do terreno. Várias fontes indicam também que foram localizados instrutores israelitas da conceituada tropa de elite Golani, conhecidos como especialistas em «operações relâmpago». Nas vésperas da «Operação Vassoura», em Outubro de 2003, a empresa petrolífera ChevronTexaco adquirira drones israelitas que foram utilizados na detecção das movimentações dos resistentes da FLEC no terreno.
As mesmas fontes garantem que «convencidos da vitória militar sobre a UNITA no Luena, a opção militar foi mais uma vez aceite e ensaiada há mais de 15 dias». Testemunhas indicam de que o balanço dos últimos 15 dias de «retomada da operação os resultados não são famosos sobretudo com a queda de um helicóptero da PN além do número de feridos que afluem o Hospital militar de Cabinda».
Fontes do Ibinda.com confirmaram que desde 23 de Maio foram «avançadas novas orientações de prosseguirem com a operação militar numa conjugação de esforços com outras forças de defesa e segurança nas repúblicas vizinhas» e acrescentam que «nas matas as operações vão continuar sob pretexto de buscas do helicóptero desaparecido». Indicaram ainda que nos vizinhos Congos estão em curso «operações de raptos de chefias político-militares da FLEC» a fim de fragilizar o movimento e facilitar a ofensiva em preparação para o início do próximo mês de Junho, comandada pessoalmente pelo general Correia Banza, que «pretende fixar o seu estado maior no Maiombe».
Um especialista indicou ao Ibinda.com que o mês de Junho «não foi escolhido ao acaso», dado que estação climática cria as condições favoráveis durante os três meses seguintes para uma operação destas características, devido ao facto de ser um período de fraca pluviosidade facilitando assim uma movimentação massiva de militares no Maiombe.
Várias informações indicam também que as FAA reactivaram a antiga base do MPLA na lagoa de Massabi e tem sido registada a presença de um grupo de mercenários instalados no Hotel Maiombé, no quadro da preparação de uma forte ofensiva.
As FAA pretendem assim cercar a resistência no seio do Maiombé, através das forças terrestres já disponibilizadas para o terreno e estrangular com os efectivos baseados na RDC ao longo de toda a fronteira. Neste processo contam com o apoio das autoridades da RDC. Recentemente, o inspector-geral da Polícia Nacional da RDC, Daniel Katsuva Wa Kasivwira, deslocou-se a Cabinda no quadro da cooperação com Angola.
Estas informações surgem quando o Alto Comissariado das Nações Unidas para os Refugiados (ACNUR) prevê repatriar mais 12 mil refugiados angolanos até Outubro deste ano. Em declarações à Angop, o oficial de informação da ACNUR, Malungo Germano, informou que na operação prevê-se o repatriamento dos 12 mil refugiados angolanos residentes na RDC, no Zimbabué, na Namíbia, na Zâmbia e na África do Sul. Neste quadro, vários refugiados cabindas, baseados na RDC e no Congo Brazzaville, temem um regresso forçado a Cabinda num momento que «se pepara uma forte ofensiva militar no enclave», adiantou um refugiado cabinda baseado na RDC.
No entanto, com a recente nomeação do ex-primeiro-ministro português António Guterres como Alto Comissário da ONU para os Refugiados, um representante dos refugiados cabindas nos Congos afirmou ao Ibinda.com que «deposita enorme confiança em António Guterres dado que conhece extremamente bem o dossier e a questão de Cabinda». |