A campanha para as eleições presidenciais guineenses de 19 de Junho começou morna e quase sem comícios, reinando a falta de informação nos meios de comunicação social, sem indicações dos locais onde decorrem as iniciativas dos 16 candidatos.
Por José Sousa Dias da agência Lusa
No sábado, primeiro dia da campanha, a televisão guineense não transmitiu tempos de antena dos candidatos, e na rádio nacional foram também reduzidos.
Hoje, em Bissau, o agora candidato Kumba Ialá deu início às actividades de campanha, que começou oficialmente sábado, e, depois de uma breve declaração à imprensa, percorreu as principais vias e bairros de Bissau perante a indiferença da população.
Na ausência de qualquer dirigente do Partido da Renovação Social (PRS, que apoia a sua candidatura), Kumba Ialá, de dedo em riste e com metade do corpo fora do tejadilho da viatura em que seguia, recebeu alguns "vivas" de poucos populares, sendo insultado, vaiado e alvo de gargalhadas na maioria dos locais por onde passou, sobretudo no popular Mercado do Bandim.
A "caravana" automóvel era constituída apenas por três viaturas, "escoltadas" inicialmente por seis motorizadas que, aos poucos, ora porque os motoristas caíam, ora porque se atrasavam, ficaram reduzidas a duas no final do "cortejo".
Atrás, seguia uma motocicleta conduzida por um jovem, bem disposto e trajando uma saia feita de cordas com as cores da bandeira da Guiné-Bissau, que dizia repetidamente ao jornalista que não era a favor de Kumba Ialá e que estava em "missão de sondagem" para o Partido Africano de Independência da Guiné e Cabo Verde (PAIGC, no poder).
Na sua intervenção, feita na primeira sede do PRS, na zona de K+Ndoc, no bairro da Ajuda, Kumba Ialá afirmou que não tem "qualquer receio" da investigação criminal ordenada pela Procuradoria-Geral da República (PGR), insistindo em negar que esteve presente na madrugada de quarta-feira na Presidência da República.
Numa atitude inédita, o ex-presidente guineense (2000/03) pediu aos militares que se mantenham neutros e nas casernas e que respeitem a Constituição, "avisando-os" para não se meterem na política.
Novamente de barrete vermelho na cabeça, depois de o ter retirado quando, a 15 deste mês, se auto-proclamou presidente da República, e perante pouco mais de três dezenas de apoiantes, Kumba Ialá voltou a insistir que o seu principal adversário nas presidenciais é outro ex-chefe de Estado, João Bernardo "Nino" Vieira (1989/98), que continua ausente do país sem que se saiba quando regressa a Bissau.
Sábado, a Rádio France Internacional (RFI) indicou que "Nino" Vieira será recebido segunda-feira em Dacar pelo presidente senegalês, Abdoulaye Wade, mas ninguém da sua candidatura confirmou nem o encontro nem adiantou para quando o regresso a Bissau.
O maior comício que marcou o começo da campanha foi realizado em Gabu, 200 quilómetros a leste de Bissau, por Malam Bacai Sanhá, apoiado pelo PAIGC, na presença do seu líder, Carlos Gomes Júnior, também primeiro-ministro.
Na sua intervenção, Bacai Sanhá realçou que pretende fazer uma campanha "limpa e sem insultos", embora tenha referido que a sua candidatura é "representativa de todos os guineenses e não se uma só etnia", numa alusão a Kumba Ialá e ao grupo étnico que constitui a sua principal base de apoio, o Balanta.
Francisco Fadul, antigo primeiro-ministro e candidato apoiado pela força política que lidera, o Partido Unido Social-Democrata (PUSD), indicou à Agência Lusa que só hoje ficará definido o calendário das iniciativas, devendo iniciá-la, a partir de segunda- feira, no interior do país.
Dos restantes 12 candidatos pouco ou nada se sabe, uma vez que não divulgaram à imprensa as suas acções de campanha, o que, a par das dificuldades com meios técnicos e logísticos dos órgãos de comunicação social locais, torna impossível a cobertura da campanha.
Hoje, o principal noticiário da Rádio Difusão Nacional (RDN, estatal), às 13:00 locais (14:00 em Lisboa), abriu com a indicação que hoje se cumpre o segundo dia da campanha eleitoral, mas não apresentou qualquer reportagem, limitando-se a indicar que aguarda que o governo disponibilize meios para fazer a cobertura.
Entre os seis jornais, na sua quase totalidade semanários, ainda nenhum publicou qualquer edição desde sexta-feira e a televisão, que esteve vários dias sem informação, devido à falta de meios técnicos, também não apresentou qualquer notícia sobre a campanha.
Em Bissau, e em flagrante contraste com anteriores votações, são poucos os cartazes e grande a indiferença da população, que, à passagem dos candidatos, continuam o seu caminho, levantando a cabeça apenas para a baixar de seguida. Quem faz a festa são as crianças, que correm ao lado dos pequenos "cortejos".
NOTÍCIAS LUSÓFONAS - 29.05.2005