O HIV/SIDA mata mais sul-africanos do que qualquer outra doença ou praga social como a criminalidade, segundo um estudo conduzido pelo Conselho de Pesquisa Médica Sul-Africano (MRC) divulgado esta semana. O estudo, que ainda não foi entregue às autoridades competentes - designadamente ao Ministério da Saúde - mas já está em poder de vários órgãos de comunicação social, mostra que uma em cada 3 mortes tem na origem o vírus da SIDA.
O governo do presidente Thabo Mbeki, que tem repetidamente negado No que a SIDA seja a principal causa de morte no país, não reagiu ainda a este estudo. Solly Mabotha, porta-voz do Ministério da Saúde, disse terça-feira que o seu ministro não pode fazer comentários sobre um documento que ainda não foi entregue ao executivo.
De acordo com o estudo, 30 por cento das mortes de homens e 36 por cento das de mulheres registadas no ano 2000 na província de Gauteng (a mais industrializada do país, onde se situam Joanesburgo e Pretória) foram devidas ao HIV/SIDA.
No Kwazulu-Natal, a situação é ainda mais grave, sendo a SIDA a causa de 41,5 por cento dos óbitos, segundo o relatório do MRC.
Para Mark Heywood, um dos directores da ONG Treatment Action Campaign, que há vários anos luta pela implementação de programas de prevenção e tratamento da SIDA, tendo já ganho dois processos judiciais contra o governo, a situação actual deverá ser ainda pior do que a reflectida pelos números deste estudo, relativo a 2000.
«Em 2000 estávamos no início de um período de rápida infecção pelo HIV e muitas mais pessoas foram infectadas desde então e deverão estar agora a morrer», salientou Heywood. Na opinião de Letitia Rispel, directora do Departamento de Saúde da província de Gauteng, pode até acontecer que a situação actual seja melhor, uma vez que nos últimos anos foram implementados vários programas nesta área, como o de prevenção da transmissão do HIV de mães grávidas para os recém-nascidos e o programa de tratamento com anti-retrovirais, iniciado o ano passado.
Este último ainda só beneficia entre 20 e 30 mil pacientes, numa população de mais de cinco milhões de seropositivos. A ministra da Saúde, Manto Tshabalala-Msimangque, que está geralmente em consonância com o presidente Mbeki na questão da SIDA e resistiu vários anos a implementar o tratamento com anti-retrovirais, voltou a recomendar na semana passada uma dieta de alho, cebola, batata africana, beterraba e azeite como forma de combater o vírus HIV.
Esta “recomendação” provocou protestos generalizados entre activistas e especialistas da classe médica. A ministra voltou a salientar que os anti-retrovirais são «altamente tóxicos, enquanto uma alimentação equilibrada não pode fazer mal a ninguém».
IMPARCIAL - 19.05.2005