O antigo presidente da Guiné-Bissau Kumba Ialá autoproclamou-se ontem presidente da República, afirmando que vai terminar o seu mandato de cinco anos, interrompido por um golpe de Estado em 2003.
CORREIO DA MANHÃ - 16.05.2005Ialá baseou-se no facto de o Supremo Tribunal ter considerado nula a sua carta de renúncia, e afirma agora que as eleições presidenciais de 19 de Junho são um caso “que se verá mais tarde”.
“Uma vez decidido o caso no Tribunal, decidi dirigir-me ao povo da Guiné-Bissau para revogar publicamente a carta de renúncia e, consequentemente, reassumir o cargo de presidente da República”, afirmou Ialá, lembrando que o Supremo reconheceu ter havido coacção na altura da assinatura da renúncia.
“O meu mandato não terminou e tenciono cumpri-lo até ao fim”, afirmou, não adiantando quando pretende voltar formalmente à presidência da República. Hoje, explicou, “será um dia de reflexão” e amanhã será realizada “uma manifestação de apoio ao retomar do poder”.
Durante a sua declaração política, o líder guineense apelou à comunidade internacional para ser “parte da solução e não do problema”.
Este anúncio, proferido a partir de sua casa, foi saudado por uma pequena multidão de apoiantes que se concentrou no local, transformando a conferência de Imprensa num pequeno comício.
Não houve, de imediato, reacções ao anúncio, tendo apenas o líder do PAIGC, Malam Bacai Sanhá, lamentado as declarações. “O Kumba não é a lei. Por isso estou confiante que haverá eleições”, afirmou.
O presidente interino, Henrique Rosa, não comentou o incidente, afirmando apenas, durante um evento oficial, que espera do dia 19 de Junho (dia das eleições) que “seja um dia de paz e democracia”.
Contactado pelo ‘Correio da Manhã’, Carneiro Jacinto, porta-voz do Ministério dos Negócios Estrangeiros português, limitou-se a afirmar que se tratou apenas de “uma declaração do senhor Kumba Ialá que carece de desenvolvimentos”.
Em Bissau o ambiente era ontem pacífico, embora dois veículos da Polícia de Intervenção Rápida, com cerca de 10 elementos cada um, percorressem as ruas da cidade.
A situação deverá ser hoje esclarecida, mas sabe-se que sem um apoio do Exército dificilmente Ialá poderá fazer vingar a sua posição, considerada por alguns constitucionalistas como absurda, pois a carta de renúncia, forçada ou não, abriu um novo ciclo político que não poderá ser interrompido em violação das normas constitucionais.F. J. Gonçalves com agências