O presidente da Gâmbia apelou segunda- feira aos guineenses para porem os interesses nacionais "à frente dos tribais" e considerou que não existe nenhum país africano e no mundo que seja composto por uma única tribo.
"Só há desenvolvimento se houver paz e estabilidade. A Guiné-Bissau não é integrada apenas por [tribos] balantas, manjacos, pepeis ou mandingas", sustentou Yahia Jammeh, em declarações à Agência Lusa antes de abandonar a Guiné-Bissau, onde participou na X Cimeira de Chefes de Estado e de Governo da Organização para a Valorização do Rio Gâmbia (OVRG), que decorreu segunda-feira em Bissau.
Referindo-se explicitamente à crise político-militar na Guiné- Bissau, Jammeh sublinhou que "seria bom" que a população guineense "interiorizasse" que nenhum país é composto por uma única tribo, mas sim por um conjunto de grupos étnicos.
"São os diferentes grupos étnicos que constroem uma Nação", frisou, aludindo à contestação desencadeada desde o início do ano pelo Partido da Renovação Social (PRS, maior da oposição), cuja base de apoio política é sobretudo da etnia balanta.
"A paz e a estabilidade na Guiné-Bissau passam pelas mãos dos guineenses. A comunidade internacional vem apenas ajudar. Mas o desenvolvimento não pode ser construído apenas pela Guiné-Bissau. É precisa também a ajuda da comunidade internacional", sustentou, referindo-se às críticas de "ingerência estrangeira" feitas pelo movimento de apoio à candidatura de Kumba Ialá, suportada pelo PRS.
"Esta é uma oportunidade de ouro para os guineenses provarem que os cépticos estão errados. Se não o quiserem fazer em benefício próprio, que o façam pensando nas próximas gerações, nos seus filhos", sustentou.
Durante a sua estada em Bissau, Jammeh reuniu-se à margem da cimeira com os seus homólogos guineense, Henrique Rosa, e senegalês, Abdoulaye Wade, bem como com o enviado especial do secretário-geral das Nações Unidas para a Guiné-Bissau, o ex-chefe de Estado moçambicano Joaquim Chissano.
O encontro serviu para Henrique Rosa informar os seus interlocutores dos últimos desenvolvimentos na crise política guineense, tendo como pano de fundo a referência de que o Supremo Tribunal de Justiça (STJ) poderá excluir as candidaturas de Kumba Ialá e de outro ex-chefe de Estado, João Bernardo "Nino" Vieira, às presidenciais de 19 de Junho próximo.
"Gostaria que os guineenses fossem votar para exercer os seus direitos democráticos, mas sem violência. Devem também aceitar os resultados, de forma a poderem andar de mãos dadas, para que a comunidade internacional possa ajudá-los", acrescentou Jammeh.
O presidente da Gâmbia afirmou, por outro lado, que não está pessimista em relação ao evoluir da situação política na Guiné-Bissau, pois, argumentou, "em todos os processos eleitorais há discussões políticas acaloradas".
NOTÍCIAS LUSÓFONAS - 10.05.2005