O ministro das Finanças, Manuel Chang, está arrependido de ter revelado a um jornal local a lista dos seus bens, incluindo valores em bancos, ascendem os 500 mil dólares. Em entrevista ao serviço em português da BBC, transmitida no dia 30 de Abril, Chang disse que estava “arrependido”, e que não recomendaria a nenhum dos seus colegas a seguirem o seu exemplo. Do seu ponto de vista, a informação foi abusivamente utilizada por alguma imprensa, contrariando o espírito com que ela foi tornada pública. E o que é utilização abusiva dessa informação para o nosso homem do tesouro? Simplesmente, o facto de que, perante a informação por si disponibilizada voluntariamente, alguns jornalistas pegaram nas suas calculadoras e procuraram entender como é que um simples funcionário público poderá ter acumulado tanta riqueza. Chang não gostou, e retoricamente responde: “Tenho 30 anos de funcionalismo público, sou mestrado; então, tenho que ter qualquer coisa. Qual é o problema de eu ter uma quinta em Marracuene… uma “flat” no Alto Maé ... uma casa no Bilene”? Não vejo nenhum problema. Como também não vejo nenhum problema em que alguém, perante uma informação pública, faça a interpretação que julgar apropriada. No lugar de aconselhar os seus colegas a não seguirem o seu exemplo, Chang deveria antes ter ponderado sobre as possíveis implicações dos seus actos. Não dignifica um ministro tomar uma acção para depois vir a público dizer que está arrependido. Certamente que não é a postura que se espera de um ministro responsável pelo pelouro das finanças, a quem a probidade é altamente recomendável. Às vezes, como se costuma dizer, o silêncio é de ouro. O que é mais preocupante ainda é que as declarações de Chang à BBC demonstram uma consistente postura de ausência de ponderação, falta de uma avaliação atempada do impacto que podem ter palavras ditas por alguém do seu nível. E, felizmente para ele, as suas declarações foram feitas a uma emissora estrangeira, o que significa que só podem ter sido ouvidas por um pequeno grupo de pessoas. Mas ao recorrer ao seu nível de formação académica e à sua longevidade como funcionário público para justificar a sua incaracterística riqueza, Chang poderá ter ofendido muitos funcionários públicos com mais de 30 anos de serviço (alguns já reformados) ou outros moçambicanos que mesmo com o nível de doutoramento continuam diariamente a se sujeitar à humilhação de terem que se fazer transportar de “chapa”, o único meio de transporte a que, com os seus magros rendimentos, têm acesso. Para alguns seria com muita sorte se puderem ter o orgulho de exibir o título de propriedade de uma modesta “flat” na baixa da cidade de Maputo. A reacção de choque que muitos tiveram ao tomar conhecimento da incaracterística riqueza de um simples funcionário público deriva do facto de que num país onde não se produz riqueza nenhuma, não há condições objectivas para que haja pessoas tão abastadas ao nível que nos foi revelado. Nada mais, nada menos. Perante os insistentes relatos a que temos tido acesso sobre como os cofres do Estado ficaram escancarados e abandonados à sua sorte, não é difícil concluir qual é a proveniência da opulenta riqueza ostentada por alguns dos nossos compatriotas. E mais do que manifestar indignação perante a curiosidade de alguns jornalistas, uma demonstração de quão tanta riqueza terá sido acumulada, no meio de tanta pobreza, ajudaria a dissipar os equívocos. É uma questão de coragem e de honra.
SAVANA - 29.04.2005