Em declarações à Agência Lusa em Lisboa, Malam Bacai Sanhá, um dos 14 candidatos aceites, explicou que está contra os critérios do Supremo de validar algumas candidaturas e excluir outras, dado que "vão contra a carta de transição" e contra "os direitos fundamentais dos cidadãos".
"Se se trata de uma decisão política, como ficou claro, então ninguém devia ter sido excluído", afirmou Sanhá, referindo especificamente a exclusão de Francisco Fadul, líder do Partido Unido Social-Democrata (PUSD).
"Se Francisco Fadul já foi primeiro-ministro não se percebe por que motivo foi agora rejeitada a sua candidatura às presidenciais", disse, admitindo, no entanto, que não teve acesso aos acórdãos do Supremo com os fundamentos para a decisão.
Sanhá referiu-se ainda à candidatura aceite do ex-Presidente Kumba Ialá para justificar a acusação de "decisão política" e de violação da carta de transição, aprovada após o golpe de Estado que o depôs, em Setembro de 2003, que define que em caso de renúncia, o Presidente fica impedido de se candidatar a cargos públicos por um período de cinco anos.
O Supremo Tribunal da Guiné-Bissau validou terça-feira 14 das 21 candidaturas às eleições presidências marcadas para 19 de Junho, depois de o anúncio da decisão, previsto para 27 de Abril, ter sido sucessivamente adiado.
Sobre a "ingerência" por parte da comunidade internacional, o candidato do Partido Africano da Independência da Guiné e Cabo Verde (PAIGC) questionou nomeadamente o prolongamento da estadia do representante especial da ONU para a Guiné-Bissau, o ex-presidente moçambicano Joaquim Chissano, até ao anúncio da decisão do Supremo.
"Não é por acaso que o representante do secretário-geral da ONU esteve no país até ontem (terça-feira), dia em que foi divulgada a decisão do Supremo", frisou.
Questionado sobre o interesse que poderia estar por detrás da alegada ingerência por parte da comunidade internacional, Sanhá disse não saber, mas "se o objectivo era evitar um conflito antes das eleições, este terá sido apenas adiado".
"Este processo já está à partida viciado e deixa a dúvida se os resultados eleitorais não serão também adulterados, dado que é o Supremo que os valida", acrescentou o candidato, referindo que "o conflito poderá surgir depois das eleições".
Caso isso aconteça, "a comunidade internacional deve depois assumir as suas responsabilidades", afirmou.
Questionado sobre se considera que também houve ingerência por parte de Portugal, Sanha disse acreditar que não.
"Portugal teve uma posição apenas no sentido de que se respeitasse a legalidade, ou seja, deu conselhos, mas manteve a neutralidade", considerou.
O candidato do PAIGC, que chegou hoje a Lisboa, disse que está em Portugal já em pré-campanha eleitoral, para contactar com "amigos" e tentar encontrar-se com representantes dos partidos e do governo português.
Quinta-feira, Malam Bacai Sanhá viaja para o Porto onde tem previstos encontros com empresários portugueses e volta sexta-feira a Lisboa para contactos com a comunidade guineense em Portugal, regressando segunda-feira a Bissau.