O Senegal quer entrar no Conselho de Segurança das Nações Unidas, como um dos novos membros permanentes, e para isso tenta aumentar a sua influência regional, transformando a Guiné-Bissau numa espécie de país subsidiário. Já o foi assim em 1972, com Leopold Sédar Senghor, que queria mandar em Amílcar Cabral e no PAIGC. Já foi assim em 1998, com Abdou Diouf, que procurava ter Nino Vieira como seu vice-rei. E é-o agora com Abdoulaye Wade, que julga poder utilizar Kumba Ialá como bem entender. O Senegal é o sonho francófono da África Ocidental, o quintal africano de Paris; e por isso não quer ver uma Guiné-Bissau onde 17 candidaturas debatam de igual para igual quem é que deve ficar na Presidência da República.
Num território onde o índice de analfabetismo é ainda grande, não havendo sequer 47 por cento dos cidadãos a falar e a escrever minimamente a língua oficial, o português, Dacar julga que pode dar cartas e continuar a exercer a sua influência, tal como a exerce na pobre Casamansa, apesar de na mesma existirem anseios autonomistas. No dia em que o Senegal e a República da Guiné (Conacri) deixassem de querer interferir no que acontece em Bissau, talvez as populações guineenses fossem mais felizes e deixassem de viver em tão grande tensão.
Portugal e o Brasil deveriam fazer um esforço excepcional de leccionar a língua portuguesa a muito mais de 50 por cento da população guineenses, de modo a que ela fossse mais livre das influências quer dos caudilhos internos quer dos vizinhos pouco oportunos.
O que é preciso hoje, tal como Amílcar o defendeu há 33 anos, é que os guineenses não se dividam segundo as suas linhas étnicas. Não mais balantas, mandingas, beafadas, manjacos, papéis, fulas ou mancanhas. Mas pura e simplesmente cidadãos de um país novo, desde 1973 adiado.
As promessas de Madina do Boé estão por cumprir.
Jorge Heitor 27 de Maio de 2005