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Lemos, com estupefacção, uma entrevista dada semana passada a um jornal da capital pelo velho Marcelino dos Santos ao longo da qual ficámos a saber que, afinal, a propalada “livre vontade” que a Frelimo nos dissera que havia norteado a decisão de Joaquim Chissano de deixar a Presidência da República não passa de um “bluff”, já que a verdade, segundo Marcelino dos Santos, o ex-PR deixou o poder de Estado porque “já não havia condições para Chissano continuar, precisamente, porque era exigida uma nova postura do governo”!!
[16-06-2005]
Lemos, com estupefacção, uma entrevista dada semana passada a um jornal da capital pelo velho Marcelino dos Santos ao longo da qual ficámos a saber que, afinal, a propalada “livre vontade” que a Frelimo nos dissera que havia norteado a decisão de Joaquim Chissano de deixar a Presidência da República não passa de um “bluff”, já que a verdade, segundo Marcelino dos Santos, o ex-PR deixou o poder de Estado porque “já não havia condições para Chissano continuar, precisamente, porque era exigida uma nova postura do governo”!!
Mais adiante, e no mesmo tom, Marcelino dos Santos diz que era sentimento da cúpula da Frelimo que “ para se efectuar uma real mudança, para permitir que o País passasse para a recuperação de muitos degraus perdidos, era preciso que mudassemos a direcção”.
Aliás, em entrevista a este jornal (ZAMBEZE) pouco depois da tomada de posse do presente governo, Marcelino dos Santos afirmou que, com Guebuza na chefia ao Estado, o povo moçambicano tinha ( finalmente) ascendido ao poder, dando, desse modo, a entender que com Joaquim Chissano a governar, o povo deste País tinha descido do poder!
Quanto a nós, o velho Marcelino dos Santos é que parece ter recuperado muito poder com o actual governo.
Recentemente, vimo-lo em parangonas de jornais a afirmar que a LAM não vai ser privatizada porque ela representa a nossa soberania, afirmação esta não só espantosa e polémica como contrária a decisões anteriores tomadas pelo governo do mesmo partido no poder desde 1975.
Afinal, o que é que realmente, está a acontecer neste País? Houve ou não houve golpe palaciano para se afastar Joaquim Chissano do poder? E se Chissano foi, realmente, empurrado do poder, por que é que as coisas não foram tratadas com a devida clareza na devida altura a fim de se evitar que porta-vozes informais do actual governo o venham declarar em pedacinhos?
Todos nós temos interesse na verdade dos factos, pois só com a verdade dos factos é que se pode escrever a História verdadeira deste País.
Imaginem que a História vai registar que Joaquim Chissano largou, por livre e espontânea vontade, o poder de Presidente da República ao cabo de 18 anos de gabinete, quando a verdade, apenas dominada por alguns como Marcelino dos Santos, aponta para o contrário, aponta para um empurrão para fora feito pelos seus camaradas que haviam concluido que já não havia condições para ele continuar no poder porque era incapaz de operar novas mudanças!
Não estamos contra o facto de Chissano ter sido, eventualmente, empurrado do poder. Estamos é preocupados com a maneira como as coisas estão a ser informadas ao povo moçambicano. Sobretudo preocupados com os porta-vozes desses assuntos, os quais não se importam de se contradizer a cada momento que fazem discursos.
No dia 23 de Abril, em Malehice, Marcelino dos Santos disse ao povo moçambicano que Chissano era coisa raríssima da nossa terra para, dois meses depois, o mesmo Marcelino dos Santos afirmar que os da cúpula da Frelimo já estavam fartos de Chissano e, por isso, decidiram empurrá-lo para fora do poder! Coerência de discurso precisa-se, camarada Marcelino dos Santos, sob o risco de continuar a evidenciar o seu ilimitado entusiasmo pela saída de Joaquim Chissano da governação efectiva de Moçambique, o que nos entristece bastante a nós que tanto gostamos de Chissano como de Guebuza, ambos como discípulos e continuadores de Samora e Mondlane.
É que, em nosso modesto entender, a continuação de declarações bombásticas de Marcelino dos Santos sobre assuntos sensíveis da vida nacional põe em causa todo o discurso pomposo da transição pacífica com que Moçambique é conhecido e elogiado na região e no mundo.
O mesmo discurso denuncia, por outro lado, a existência de facções adversárias dentro da Frelimo, havendo aquelas que desde Dezembro até cá não se cansam de festejar a “saída dos outros”, o que, às vezes, é feito em detrimento do cumprimento da agenda dos que foram eleitos para trabalhar e não para olhar para trás, como se houvessem viajado durante os 18 anos do governo de Joaquim Chissano.
Nós queremos um Moçambique unido e exemplar, pelo que exortamos àqueles que estão na posição de poder para que se empenhem ao máximo na garantia dessa unidade através de trabalho e se abstenham das intrigas e da “caça às bruxas”, o que não significa que aqueles tiverem “culpa no cartório” sejam amnistiados. Não!
Aqueles que têm “culpa no cartório” devem assumir a responsabilidade dos seus actos, garantindo, desse modo, a transparência e prestação de contas da coisa pública que, eventualmente, tenham usado mal.
Devemos ser um Estado responsável em que os dirigentes, actuais e passados, sejam responsabilizados pelos seus actos, da mesma forma que o cidadão comum está sendo responsabilizado por aquilo que faz.
O que não fica bem é atacar, cobardemente, aqueles que já não se podem defender, atribuindo-lhes posturas e actos que nunca praticaram. Isso não! Isso é cobardia e vontade de semear um clima de suspeição, intriga e instabilidade social num país a precisar de muita serenidade e paz social porque já demasiado desestabilizado por vários males.
Mais uma vez, apelamos para que caminhemos para frente e não para trás! Os 30 anos de Independência Nacional devem significar maior responsabilidade e não maior irresponsabilidade política e social!
Salomão Moyana
ZAMBEZE - 17.06.2005
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