O líder da Renamo-União Eleitoral, Afonso Dhlakama, manifestou-se preocupado com a actual situação das forças de defesa e segurança que no seu entender está a pôr em causa a estabilidade do país.
Falando, ontem, em Maputo, durante uma conferência de imprensa, Afonso Dhlakama “atacou”, particularmente, a situação nas Forças Armadas de Defesa de Moçambique, acusando o Partido Frelimo de estar a transformar as FADM numa força partidária à semelhança do que aconteceu com as extintas Forças Popular da Libertação de Moçambique (FPLM).
O líder do maior partido da Oposição em Moçambique, voltou a invocar o Acordo Geral de Paz, reafirmando que o documento assinado a 4 de Outubro de 1992, entre o Governo da Frelimo e a Renamo, prevê a criação de um exército único no país, e que devia ser constituído por homens oriundos da Renamo e outros da Frelimo.
Apesar do AGP não ter sido cumprido na íntegra em relação à constituição do exército único, Dhlakama referiu que no ano passado quando faltava seis meses para o início da campanha das últimas eleições gerais começaram a acontecer movimentações estranhas ao nível das FADM.
Na altura, segundo Dhlakama, o seu partido minimizou o assunto na expectativa de se tratar de uma simples movimentação que visava criar uma nova estrutura orgânica ao nível do exército moçambicano.
Mais tarde, a Renamo acabou descobrindo que essa nova orgânica criada ao nível das FADM, tinha como objectivo prejudicar aquele partido. O presidente da Renamo referiu que nesta alegada reestruturação do exército, foram tomadas posições inexplicáveis que culminaram com a desmobilização de oficiais oriundos da Renamo, entre majores generais, coronéis, entre outros quadros que agora se encontram no “olho da rua”.
A título de exemplo, Dhlakama revelou que neste momento as Forças Armadas de Defesa de Moçambique possuem 23 batalhões dos quais apenas 2 é que estão sob o comando de coronéis da Renamo.
O líder da Renamo indicou que antes destas “mexidas” ao nível do exército, a situação era completamente diferente e o princípio que reinava no comando dos batalhões, era de metade para cada uma das partes. Citou também o caso das chefias ao nível do Comando Geral do Exército, indicando a existência de nove repartições (entre órgãos de logística, de reconhecimento, operações etc), que neste momento, estão a ser dirigidas por elementos só da Frelimo, o que não acontecia no passado, pois a Renamo tinha o privilégio de controlar algumas repartições do comando geral. Ao nível da Marinha e Força Aérea, a Renamo viu, igualmente, os seus homens afastados por razões não clarificadas. Neste momento a Renamo diz ter ficado nas FADM apenas com um Coronel e um Major-General que estão lá simbolicamente, porque na prática, quem manda são os seus adjuntos, da Frelimo. Para além de estarem representados simbolicamente e sem fazer nada, o líder da Renamo alega que existem planos de desmontá-los por completo do Comando do Exército, incluindo o Vice-Chefe do Estado Maior, Mateus Ngonhamo, que se presume estar na eminência de ser transferido para uma secção Civil da Defesa. Espera-se que o lugar do general Ngonhamo, seja ocupado por Olímpio Cardoso, um dos oficiais generais oriundos das forças da Renamo, e actual Comandante do exército.
Perante esta situação, o líder da Oposição moçambicana antevê uma situação de perigo para a estabilidade do país tendo em conta que a qualquer momento o actual exército moçambicano será de um único partido. Como forma de contornar esta situação de crise nas FADM e que, para a Renamo é de certa forma «perigosa», o partido de Afonso Dhlakama criou uma comissão que dentro de dias vai dialogar com o Governo na tentativa de ultrapassar o problema. LC
IMPARCIAL – 16.06.2005