... e à falta de melhor os que querem (?) ser alternativa vão clamando por Deus ou pelo Diabo
O futebol político, em Angola, soma e segue, faltando apenas o relato do malogrado Jorge Perestrelo. Contudo, há novidades em campo. Desta a vez, a «bola» chama-se Lei Eleitoral e há um novo jogador: Cristiano André, presidente do Tribunal Constitucional. Eduardo dos Santos, como era de esperar, domina o esférico fintando a oposição, o seu próprio partido, o MPLA, remetendo a pelota para o outro extremo da arena (Tribunal Constitucional) onde foi amortecida por Cristiano André. Enquanto isso, a oposição vai clamando, a partir da arquibancada, por Deus… ou pelo Diabo
Por Jorge Eurico - MANCHETE - 21.06.2005
Surpreendendo tudo e todos e contrariando os discursos políticos que apontam para a necessidade imperiosa da realização de eleições com o intuito de se arejar o poder, cuja legitimidade há muito “expirou”, o Chefe de Estado angolano não promulgou a Lei Eleitoral aprovada (sem os votos da UNITA, pois claro!) recentemente em sede parlamentar por julgar que os tribunos do partido a que pertence, o MPLA, terão violado a Lei Constitucional.
Por essa razão, o Presidente da República remeteu a sobredita Lei para o Tribunal Constitucional no sentido desse órgão de soberania poder aferir se os deputados à Assembleia Nacional (AN) pelo MPLA violaram ou não o estatuto jurídico-político vigente no País.
A atitude de José Eduardo dos Santos, que já mereceu, em Luanda, a condenação por parte da UNITA, deixa a oposição nas «boxes», ganha a «pole-position» e acelera a caminho do seu grande propósito: distrair a oposição de modo a poder apanhá-la de calças na mão quando forem efectivamente fixados os minutos, as horas, os dias, as semanas e os meses para a realização das eleições aprazadas para o próximo ano.
Dilatar o tempo previsto para a realização das eleições é o verbo que o presidente do MPLA pretende conjugar nos próximos três meses de sorte a ganhar tempo por ter consciência plena que não será tão cedo que o «dossier» Lei Eleitoral sairá da secretária de Cristiano André, o presidente do Tribunal Constitucional.
Fonte próxima da direcção do partido no poder em Angola afirmou ao NL que “a remissão da Lei Eleitoral para o Tribunal Constitucional é uma «brilhante» ideia da única e inteira responsabilidade do camarada Presidente e não engaja o ponto de vista de alguns deputados à AN que se limitaram a cumprir o seu papel”.
A postura de Eduardo dos Santos, consubstanciada na remissão da Lei Eleitoral para o Tribunal Constitucional, é reveladora de que o presidente do MPLA pretende empregar daqui para frente uma nova filosofia na sua forma de ser, estar e fazer política nem que para tal tenha que correr em pista paralela à do partido da bandeira rubro-negra, o MPLA.
Enquanto isso, a oposição angolana – a quem falta a irreverência da juventude aliada ao calo de quem há muito não deixa os seus créditos por mãos alheias – ainda não terá dado conta que Eduardo dos Santos ao dar trabalho pela primeira vez ao Tribunal Constitucional, visa com esse gesto moralizar a sociedade, credibilizar esse órgão de soberania e, a partir disso, tirar dividendos políticos para a campanha eleitoral que, de forma velada, já teve início.