O constitucionalista guineense Carlos Vamain afirma que há muitos problemas na Guiné-Bissau e sublinha que dois deles – ‘políticos’ fardados nos quartéis e divisões étnicas – não serão resolvidos com as presidenciais.
CORREIO DA MANHÃ - 12.06.2005Correio da Manhã – As Forças Armada guineenses interferem na vida política do país?
Carlos Vamain – As Forças Armadas guineenses são desde 1974 altamente politizadas. Nós temos políticos fardados nas casernas, herdeiros de Amílcar Cabral que, de vez em quando, reclamam dos ideais de Amílcar quando não deviam fazer isso. Enquanto tivermos políticos nas casernas, não vamos ter paz. Não basta os militares dizerem que se submetem ao poder político. A ausência do Estado de Direito é que conduz a essas situações de sobressaltos nos quartéis porque permite que os militares tenham a última voz senão a primeira no país.
– As presidenciais vão resolver os problemas existentes?
– Tenho a convicção que não. Os problemas são tantos que não se resumem a estas eleições, sobretudo estas que são as mais polémicas. Centrou-se toda a atenção em três candidatos, esquecendo-se de outros. Kumba Ialá, ‘Nino’ Vieira, e Malam Bacai Sanhá qualquer um que vença as eleições não vai trazer a estabilidade. Porque qualquer um deles terá sempre problemas que são criados pelos outros dois. Qualquer um deles terá dificuldade de coabitar com os outros. Tudo isto aliado à fragilidade institucional de que o país sofre. O país existe mas as instituições do Estado estão abaladas. É preciso reconstruir o Estado na Guiné-Bissau no sentido de se criarem condições para que haja uma identidade, coesão e estabilidade nacionais para que o país possa sair do marasmo total em que se encontra.
– Estão criadas condições para eleições livres e transparentes?
– Não. Infelizmente no país não são os melhores que ganham. Isso em decorrência da falha da nossa democracia, na medida em que o eleitorado é muito manipulado e etnicamente dividido. A decisão do Supremo Tribunal de permitir as candidaturas de Kumba Ialá e ‘Nino’ Vieira veio agudizar ainda mais estes problemas. Portanto, não estão criadas condições objectivas para que hajam eleições livres, justas e pacíficas.Carlos Menezes