"O deixa andar de Joaquim Chissano trouxe-nos a paz", escritora Lina Magaia fazendo o rescaldo dos 30 anos da independência
(Maputo) Ouvímo-lá a propósito dos 30 anos da Independência Nacional.
Concretamente queríamos a sua opinião sobre os progressos alcançados, as dificuldades ao longo do percurso e os desafios para o futuro. A entrevista foi com a jornalista e escritora Lina Magaia. Na sua opinião, a guerra dos
16 anos foi um dos piores acontecimentos. A campanha de alfabetização dos
anos 80 e a Paz constituíram os melhores momentos e um Moçambique
desenvolvido é o que sonha para o futuro.
Fomos subindo os degraus até aos dias de hoje. O que marcou pela positiva a
nossa entrevistada logo nos primeiros anos da independência foi a campanha
de Educação de Adultos: "pois isso permitiu que as pessoas do Sul, Centro e
Norte do País tivessem a possibilidade de se comunicar na mesma língua".
Para Lina Magaia, "o processo de alfabetização parou por causa da guerra.
Porque a guerra fez com que a população deixasse de viver nas suas casas. A
guerra foi o maior constrangimento dos 30 anos da independência da
Independência".
Depois da Guerra, houve o momento de Paz, isto depois do ano de 1992. Aqui a
nossa entrevistada elogiou a figura do então presidente do País, Joaquim
Alberto Chissano: "o deixa andar de Chissano permitiu que tivéssemos Paz em
Moçambique porque ele não entrava nas políticas provocatórias vindas do
dirigente da Renamo".
Conforme a escritora Lina Magaia, "a paciência e tolerância de Joaquim
Chissano contribuíram muito para o País se tornar harmonioso. Não sei quais
foram os benesses que se deram a Dlhakama para ele se acalmar mas isso
contribuiu para a Paz. Esta Paz foi o melhor momento dos 30 anos de
independência".
Depois das Eleições Gerais de 1994, segundo a nossa fonte, "tivemos o
primeiro parlamento multipartidário. O parlamento perdeu mais tempo a
discutir ninharias", sobretudo "quem matou quem", do que "na aprovação de
Leis que poderiam benefeciar aos moçambicanos".
Lina Magaia revelou ainda que foi anti-histórico a revisão do Hino Nacional"
, porque segundo ela "Moçambique nasceu de uma história", tendo considerado
os portugueses como mais amadores da sua própria pátria do que os
moçambicanos: "Portugal nunca mudou do Hino Nacional, mesmo depois de 25 de
Abril porque o hino é um conjunto de conquistas de um povo" e acrescentando
que não considera fracasso Moçambique primeiro ter sido República Popular
para depois passar para República de Moçambique.
Magaia é pela manutenção da Frelimo no poder até eliminar a pobreza: "o
Partido Social Democrático Sueco lutou 30 anos consecutivos para eliminar a
pobreza no seu País e eliminaram porque era um partido consciente, mas a
oposição moçambicana luta constantemente pelo poder e não pela melhoria das
condições de vida do povo".
GLOBALIZAÇÃO ARRUINOU A PRODUÇÃO
Segundo a nossa fonte, "a partir de 1987 houve reestruturação da economia. A
nossa economia foi vandalizada pelas privatizações", tendo dado exemplo da
empresa Metal Mecânica e da Maquinag que produziam vagões e mobiliário
hospitalar, "empresas que já não produzem nada. É utópico estar toda a hora
a dizer que foi a guerra que destruiu as fábricas. Há lugares onde a guerra
não chegou mas que as fábricas estão paradas".
Para Lina Magaia, "o que faz a economia são as pequenas e médias empresas.
Não é concebível que num país onde se diz que a agricultura é a base de
desenvolvimento, recusar-se conceder créditos a agricultores, alegando que é
uma operação de risco", acrescentando que "preferem financiar o comércio,
sobretudo a importação e não a produção".
Quanto aos desafios do país, Magaia disse que "Moçambique tem que ser
Moçambique. Um País forte. Um País que diz não à globalização. Os nossos
quadros tem que negar ir ao mundo global. Devem ficar em Moçambique a
desenvolver o País. Mas para isso é necessário que o Estado tenha coragem de
fazer os seus quadros ficarem em Moçambique".
Lina Magaia enfatizou que "sonhava em um dia olhar para um sector da nossa
economia e dizer que a riqueza é tanta. Convidar-se um sector do mundo a
explorar a riqueza mas para ficar em Moçambique" e deu exemplo dos franceses
que "construíram uma ponte e cederam o direito de exploração a um privado e
mais tarde, passou aos franceses".
Questionámos se não seria um projecto igual ao da estrada Wintbank-Maputo,
onde está um consórcio sul-africano a explorar, tendo respondido que "a
ideia dessa parceria é boa mas está a parecer que quem gere têm tendência de
explorar porque o preço de portagem é agravado a cada dia que passa".
Outro sonho da nossa fonte é de que "gostaria de ver os moçambicanos virarem
os seus interesses para o Norte do País. O Desenvolvimento tem que ser de
Norte para Sul. Se olharmos para o Norte, iríamos buscar banana e outras
culturas e não importar tudo da África do Sul. A cultura de comprar no
estrangeiro até entrou na classe média porque acham que o que se produz fora
é melhor. Temos que passar de um país de consumistas para um país que
produz".
SOLUÇÃO PARA CRIMINALIDDE
A criminalidade é um dos males que afecta a nossa sociedade. Para a nossa
entrevistada, "este mal é produto de termos desprezado os Grupos
Dinamizadores que incentivavam a vigilância popular. O chefe do GD, os
chefes dos quarteirões e a população tinham informação de qualquer estranho
que entrasse no bairro e era logo interpelado pelos agentes da vigilância.
Hoje não há vigilância, por isso que há muita criminalidade. Eu gostaria de
ver as casas de Maputo sem grades nas janelas".
Magaia é defensora das chamadas cadeias abertas: "devia se criar unidades de
produção para os presos. Não é bom prender um ladrão e mantê-lo improdutivo
porque cria espírito de revolta".A nossa fonte disse "estar satisfeito com o
desempenho do Presidente Guebuza porque teve coragem de tomar algumas
medidas".
Questionámos a nossa fonte se falava da "Operação Produção" ao que
respondeu: "pode se fazer um programa com os mesmos objectivos que tinha a
Operação Produção porque o objectivo era desenvolver a aldeia, usando-se
aqueles que estavam em Maputo sem trabalhar".
Sobre o Programa do Governo, Lina Magia disse que "não é construindo escolas
que se acaba com a pobreza. O importante é o emprego. Se o moçambicano
estiver a produzir bem na sua povoação de certeza que terá força de
construir uma escola para os seus filhos. Ultimamente, vemos grandes
investidores como a Sasol e outros que quando vão implementar os seus
projectos, começam por construir uma Escola de alvenaria para as
comunidades. Não é isso que queremos. Não é a Escola de alvenaria que
valoriza o campo", sublinhando que "as pessoas devem estudar até a 4ª classe
e depois que fossem para escolas de Artes e ofícios para terem uma formação
profissional. A pobreza não se combate com a Escola".
Para terminar, Magaia disse que o grande erro do Governo liderado pelo
Presidente Armando Guebuza foi de ter acabado com o Ministério da Cultura.
Está instituição estaria vocacionada para conduzir a verdadeira cultura do
país" e elogiou o mesmo por voltar a percorrer a chama da unidade nacional
nas comemorações do 30º aniversário da Independência Nacional.
(Arménia Mucavele)