Há dois anos, Miguel trabalhava no jornal «Tempo», ficou desempregado, com a privatização, e nunca mais conseguiu emprego fixo. Mas não se ficou. «O país não tem trabalho suficiente para todos e as pessoas têm de tornar-se ‘empregáveis’», diz, usando daqueles neologismos de que os moçambicanos gostam.
A ideia de montar a banca de engraxador no hotel foi dele. «Este sítio é estratégico. A informação vem ter comigo, e posso fazer os dois trabalhos». Miguel acaba de polir o bico do sapato de um cliente e pede desculpa por se retirar, mas tem de ir ao jornal. «Vou mandar um ‘mail’ para o Banco de Moçambique sobre a desvalorização do rand». E lá vai, quase a correr, este africano cheio de energia. Como se o futuro do país dependesse mais daquela notícia do que do seu espírito de iniciativa.