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A mando do ex-director adjunto do SISE
Ianlamo Ali Mussa, espião, dissidente da Renamo e, ao serviço do SISE desde 2003, foi espancado, há dias, por membros das Forças de Intervenção Rápida(FIR.)
Ianlamo Ali Mussa, espião, dissidente da Renamo e, ao serviço do SISE (Serviço de Informação e Segurança do Estado) desde 2003, altura em que foi endossado pelo Departamento de Segurança e Defesa da Presidência da República, para o qual trabalhou desde o ano 2000, foi espancado, há dias, por membros das Forças de Intervenção Rápida(FIR), a mando do ex-director adjunto daquela instituição, António Xavier.
Mussa é espancado por se suspeitar ter influenciado a sua exoneração, na esteira de reivindicação de salário congelado faz três meses, daquele agente, sem razões plausíveis. Inclusive, esteve à porta de ser encarcerado nos calaboiços, não fosse a sensatez dos agentes do Comando da cidade de Maputo e da Policia de Investigação Criminal (PIC) que “ilibaram” o homem.
O espião renegado, confirma o que aconteceu consigo e revelou ao ZAMBEZE que o congelamento salarial, prende-se com a sua recusa em pactuar com aqueles que conspiravam contra Zumbire. Entretanto, António Xavier, parco em palavras, disse não ter nada a ver com a acusação que pesa sobre si, mesmo assumindo conhecer Mussa.
Segundo fontes do ZAMBEZE este espião esteve desde o ano 2000 ao serviço da Presidência da República, admitido como informante sobre os supostos esconderijos de armas e das tragédias militares nas “mangas” da Renamo, com destaque para a província de Sofala, tida como bastião político-militar da perdiz.
Desde a sua admissão auferia 7.300.000,00Mt, por mês, com a promessa que ser-lhe-ia atribuído casa e viatura, pessoais. Entretanto, em 2001, o ordenado foi cancelado por ordens de Almerino Manhenje, então chefe da segurança presidencial, situação que gerou conflito até que o assunto chegou à consciência pública. Doravante, em Março de 2003, Mussa, por encaminhamento de Chissano, passou a trabalhar para o SISE, sob o auspício directo do então director geral, José Zumbire.
Estabelece-se um Contracto Promessa, entre a instituição que dirige e o recém endossado, no qual estabelece-lhe um salário de 5 milhões de Meticais e prescreve o cumprimento das promessas presidenciais quanto a atribuição de um imóvel para habitação.
Insatisfeito com o rumo da situação, que mais parecia uma derrota para si, “Manhendje, pôs-se a perseguir aquele agente, em conluio com o adjunto de Zumbire, António Xavier e um outro agente, conhecido por Mariosse, que juntamente com Chambe, também agente, testemunharam a subscrição do contracto promessa”, revelaram as fontes.
Com a morte, súbita, de Zumbire, a 06 de Março do corrente ano, Mussa, outra vez, viu-se sem salário, sem nenhuma explicação. Os dois integrantes do contracto, Mariosse e Chambe, quando contactados, para melhor explicação, enxovalham-no e dizem para recorrer à Presidência da República, donde provinha, visto o seu protector ter falecido, uma alusão a Zumbire.
Chantagem e agressão
Chambe, numa destas investidas junto do SISE interpela Mussa, dizendo que caso este não lhe facultasse certas informações que partilhava com o falecido, iria destruir todos os documentos e instrumentos legais que lhe ligavam à instituição.
Não se tendo alcançado algo acordo, Mussa consegue falar com o director adjunto, no dia 21 de Abril, que manda-lhe voltar no dia seguinte, por não estar na posse dos documentos que o ligam ao SISE., esperando recebê-los de Mariosse e Chambe.
Cansado da situação e desprovido do seu salário, faz uma exposição à Procuradoria Geral da República, ao Presidente da República, à Direcção do SISE e à Primeira-ministra.
Entretanto, a única resposta veio da Primeira–ministra, em documento datado de 19 de Maio. “Sobre o assunto, informamos que esgota-se, a nível da Administração Pública, junto da entidade para a qual o senhor Ianlamo, Mussa prestou serviço”, reza a nota. Volta a dirigir a sua reivindicação contra o SISE, numa altura em que António Xavier foi exonerado e nomeado um novo director geral para aquela instituição, Gregório Leão. Isto, segundo nossas fontes enfureceu mais ao demissionário, crédulo que as investidas de Mussa teriam contribuindo para a sua exoneração.
Na Segunda feira, da semana transacta, o espião renegado, procura falar ao novo timoneiro da instituição, onde a secretária, a mesma que secretariou Zumbire, recebe os seus documentos reivindicativos e manda-lhe regressar na Quinta-feira. Nesse dia, é escusado dirigir-se ao Leão e perante a sua recusa, em arredar os pés dali antes de ser ouvido, a mando do trio supracitado, três agentes da FIR, de armas em riste, agrediram e escorraçaram-no, num espectáculo gratuito perante a vizinhança daquele edifício localizado na Sommershield. Momentos depois, um Land Cruser, descarregava mais de uma dezena de polícias, que carregaram o homem para o Comando da polícia para formalizarem a sua detenção. Nesta Quinta-feira, Mussa residiu, entre o Comando da Polícia e a PIC, donde foi liberto a noite, por falta de provas criminais, depois de várias investidas para o encarcerarem nos calaboiços.
No SISE declinaram prestar qualquer informação sobre o assunto alegando tratar-se de um processo interno e na PIC, disseram somente que, “o homem foi liberto por falta de matéria criminal”.
“ Quiseram usar-me contra Zumbire”
- Ianlamo Mussa, espião renegado pelo SISE
Falando ao ZAMBEZE, Ianlamo Mussa, confirma as ocorrências, mas iliba a Presidência da República. “O meu problema é com o SISE que congelou o meu salário há três meses, tudo manipulado por pessoas que sempre me perseguiram. E, penso que mesmo a minha reivindicação na base documental não chegou ao actual director que substitui Zumbire. Segundo fui informado, os documentos por mim entregues foram desviados. O Presidente Chissano, com quem trabalhei directamente, resolveu o assunto e transaccionou-o para o SISE, onde o então director assumiu-o com seriedade e completamente, razão pela qual sempre trabalhei sem problemas até à sua morte estranha”, referiu.
Mussa revelou ao ZAMBEZE que esteve com Zumbire 24 horas antes da sinistra morte, e que não se queixou de nenhum mal estar. “ Teve uma morte suspeita, com o agravante de que um conjunto de pessoas, que poderei divulgar, oportunamente, ligadas à segurança na Presidência da República, ao Ministério do Interior e ao próprio SISE terem tentado usar-me contra Zumbire, como já conspiravam contra ele”, frisou.
Quanto à sua agressão e tentativa de prisão, Mussa referiu que realmente foi agredido, tanto no interior do edifício do SISE assim como na rua. “ Fui encaminhado para o comando, entregue às autoridades na companhia de uma certa, que fui impedido de ler. Depois soube tratar-se de uma denúncia, falsa, na qual acusavam-me de ter agredido dirigentes do SISE, e que estava assinado por Salvador Uacheme, um oficial de permanência, iletrado, que foi manipulado pelas pessoas que me perseguem”, disse.
Acrescentou que, se escapou dos calaboiços foi graças à investigação imparcial da PIC e promete continuar a reivindicar o seu salário e as condições prescritas no alegado contracto promessa.
Osvaldo Tembe
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