SEGUNDO AFONSO DHLAKAMA
O presidente da Renamo, Afonso Dhlakama, considerou semana passada os intelectuais moçambicanos de cobardes, ao refugiarem-se ao silêncio sobre actual situação do país, segundo disse, temendo perderem as mordomias.
«O pior inimigo do homem é medo», avançou Dhlakama, que lamenta a ausência dos intelectuais no processo de construção da democracia em Moçambique.
Falando aos seus membros e simpatizantes, em Maputo, por ocasião da passagem do 30º aniversário da Independência Nacional, assegurou que as grandes revoluções no mundo são feitas com a participação massiva dos intelectuais, que muitas vezes assumem a dianteira dos processos. Em Moçambique, lamentou Dhlakama, os intelectuais preferem envolverem em jogadas sujas para defender interesses pessoais.
Como exemplo, citou os reitores do ISPU e da Universidade Eduardo Mondlane, designadamente Lourenço do Rosário e Brazão Mazula. O líder da “perdiz” não perdoa o primeiro por, supostamente, ter subscrito uma sondagem adulterada, a título de encomenda, publicada meses antes das últimas eleições gerais, que dava vitória à Frelimo e o seu candidato à Ponta Vermelha, Armando Guebuza, por uma percentagem superior a 70 por cento. Referiu Dhlakama que antes da publicação daquela sondagem, a instituição dirigida por Lourenço de Rosário havia feito um trabalho que projectava resultados diferentes daqueles, mas que não foram divulgados porque apercebendo-se disso, o partido no poder terá pressionado o reitor a não fazê-lo, tendo visto até as obras ligadas àquela universidade embargadas.
Quanto à Mazula, acusado de ter se precipitado, com o seu Observatório Eleitoral, a apresentar resultados falsos das eleitorais gerais(felicitando até os presumidos vencedores), muito antes até dos órgãos eleitores concluírem o seu trabalho.
Festa paralela
O líder da “perdiz”(Afonso Dhlakama) e o seu partido concretizaram a promessa de celebrar os 30 anos da Independência de Moçambique à margem das comemorações oficiais.
Dhlakama e os seus seguidores cantaram e dançaram na sua sede em Maputo. Os discursos foram marcadamente para desmontar a versão oficial da história da luta armada até ao surgimento da Resistência Nacional Moçambicana - Renamo.
Sempre ovacionado pelos seus apoiantes, Dhlakama explicou que a Independência Nacional não é da Frelimo, mas de todo o povo moçambicano e que os seus benefícios devem ser para todos.
Disse ainda que contrariamente à Resistência Nacional Moçambicana, que derrotou militarmente o governo no palco das operações, Moçambique alcançou a Independência Nacional não graças à Luta Armada, porque a Frente de Libertação de Moçambique não tinha o controlo militar da situação, foi «graças ao golpe de Estado em Portugal que facilmente chegámos a -», apesar de reconhecer que tarde ou cedo o país iria alcançar tal objectivo porque o colonialismo se tornava insustentável no contexto internacional, que estava reconhecido aos povos o direito à sua autodeterminação.
Desilusão
Explicou que a Frelimo de Eduardo Mondlane é diferente da Frelimo de Samora Machel e Marcelino dos Santos. «Samora Machel e Marcelino dos Santos mudaram de linha política depois da morte de Mondlane», avançou, uma situação que veio a piorar depois da Independência Nacional, onde o pensar diferente se tornou um perigo até de vida.
Seis meses depois da Independência, se instalou uma desilusão generalizada, avançou Dhlakama por causa do sistema implantado.
Em consequência disso, revelou houve uma revolta militar na capital do país que durou três dias (10, 11 e 12 de Dezembro de 1975). Ele Dhlakama e outros militares tiveram que ser movimentados da cidade da Beira para vir abafar a revolta, que era liderada pelos guerrilheiros da Frente de Libertação de Moçambique na sua maioria da etnia Maconde.
Na qualidade de soldado, integrado na força dita libertadora de Moçambique o presidente da Renamo afirma terem sido protagonistas de muitos desmandos a mando dos seus superiores hierárquicos em defesa da nova filosofia política que estava a ser implantada – marxismo leninismo.
Nessas façanhas não escaparam os curandeiros (acusados de práticas obscurantistas), líderes religiosos e tradicionais.
As províncias que acolheram a Luta de Libertação Nacional, em especial destaque para Cabo Delgado e Niassa, a «oferta da Frelimo foram os campos de reeducação», referiu.
O líder da “perdiz” assegurou aos seus militantes que a Resistência Nacional Moçambicana salvou muitas pessoas nos campos de reeducação.
«Nós fizemos fracassar a Frelimo»
«Nós entrámos nos campos de reeducação e dissemos às pessoas para irem para casa porque já estavam livres», explicou à emotiva claque de membros e simpatizantes.
Dhlakama disse, igualmente, que foi graças à Renamo que fracassou a política das aldeias comunais, que, segundo garantiu, visavam controlar as pessoas.
«Estando todas as pessoas perto uma das outras, é fácil de controlar», indicou, afastando a possibilidade de que as aldeias comunais foram projectadas para facilitar o desenvolvimento – fácil acesso às escolas, aos hospitais, luz, etc.
Reafirmou que não foi à Praça da Independência, onde decorreram as celebrações centrais da Independência Nacional para não ouvir discursos partidários. «Eu sou líder de mais de metade da população moçambicana, não faz sentido para ir à Praça da Independência sentar e ouvir discurso da Frelimo», justificou.
Prontos para tudo
Dhlakama, no contacto com os militantes do seu partido, garantiu-lhes que a Renamo não vai permitir o regresso ao mono-partidarismo e até está pronta para tudo. «Vamos responder qualquer provocação da Frelimo», disse Dhlakama que assegurou estarem preparados para agir se «as coisas piorarem», tal como fizeram no passado.
Cerimónias centrais
Com ausência notória da presença do maior partido da Oposição em Moçambique, as cerimónias centrais decorreram, sem incidentes na Praça da Independência, com Armando Guebuza, a prometer colocar o país na rota rumo à concretização dos sonhos de Mondlane -ver Moçambique livre da pobreza absoluta. JF
IMPARCIAL – 27.06.2005