Que estiveram em missão de manutenção de paz no Burundi
Dois dos duzentos e vinte oito jovens militares que representaram o país na missão de manutenção de paz nos últimos catorze meses no Burundi, encontram-se desde 19 de Fevereiro passado detidos nas celas do Comando do Exército em Maputo.
Dois dos duzentos e vinte oito jovens militares que representaram o país na missão de manutenção de paz nos últimos catorze meses no Burundi, encontram-se desde 19 de Fevereiro passado detidos nas celas do Comando do Exército em Maputo como reacção do Ministério da Defesa Nacional quando exigiam a devolução de milhares de dólares que dizem terem-lhes sido “roubados” pelo Governo moçambicano, quando era depositado na sua conta pelas Nações Unidas destinados ao pagamento do seu salário.
Num encontro que o ZAMBEZE manteve na manhã de ontem com um membro do gabinete de imprensa do Estado Maior General, tivemos a informação de que os queixosos não sabem o que aconteceu esclarecendo que a primeira fase do seu trabalho foi paga pelo governo moçambicano, mas “quando as Nações Unidas viram que havia dificuldades por parte do nosso governo em pagar salários é que começaram a enviar-nos o dinheiro”, disse o membro que aconselhou-nos depois a mandar por escrito as perguntas porque a resposta será oficial.
Trata-se de Saul João Domingos, natural de Gaza e Ismael Abdul Moiane, natural de Nampula ambos com idades compreendidas entre 24 a 26 anos que fizeram parte do grupo de duzentos e vinte oito jovens militares que estiveram nos últimos catorze meses no Burundi em representação do país na força de manutenção de paz e segurança no continente. No terreno, o contingente moçambicano descobriu que estava a ser “roubado” pelo governo moçambicano e em particular pelo seu ministério alegando que o salário que era lhes pago não correspondia nem sequer a um terço do real valor que as Nações Unidas enviavam aos cofres do ministério com esse propósito. De acordo com alguns jovens que denunciaram o facto ao ZAMBEZE, no Burundi, o contingente moçambicano, esteve integrado em dois grupos de trabalho: Primeiro no grupo da força de manutenção de paz e segurança da União Africana que durou sete meses e que devia ter sido pago mensalmente quinhentos dólares americanos, que ao câmbio do dia equivale a doze milhões de meticais.
No segundo, os militares nacionais estiveram integrados na força de manutenção de paz da ONU que durou igual período, mas já com direito de receber mil e vinte oito dólares por mês que correspondem, a vinte e quatro milhões e seiscentos e setenta e dois mil meticais.
Porém, nem no primeiro nem no segundo grupo de trabalho os jovens militares chegaram a receber o real salário, pois nas duas fases receberam apenas cento e cinquenta dólares que ao câmbio do dia equivalem a três milhões e seiscentos mil meticais.
Como se entornou o caldo
Meados do ano 2004. O grupo constata que a cada dia que passa, as diferenças entre eles e as forças de outros países africanos no que tange às condições sociais, como a falta de pão, leite, água e outros produtos básicos tendiam a piorar. Decidiu procurar pelo representante da ONU no Burundi com o objectivo de saber qual era o real valor que deviam receber. Em resposta, os militares nacionais ficaram a saber que tinham direito a receber mensalmente do nosso governo quinhentos dólares na fase da União Africana e mil e vinte oito dólares na fase da ONU.
Aliás, “o representante da ONU falou ainda que antes de partirmos para o Burundi, a ONU e os nossos países assinaram um acordo que entre vários pontos, dizia que as NU iriam depositar todo o dinheiro nas contas dos governos e, estes por sua vez, seriam os responsáveis pelo envio do dinheiro para os soldados no Burundi”.
Posto isto e devido à gravidade da informação, descrevem as fontes, o quartel onde se que encontravam estacionado o contingente moçambicano ficou agitado durante largos dias, até que o assunto chegou ao MDN e ao Estado Maior general por via do chefe do grupo.
O MDN não levou mais tempo, enviou dias depois ao Burundi um general com o papel de acalmar os ânimos do grupo, dizendo “que se existe algo que nós temos a receber será nos dado no nosso regresso a Moçambique alegando que o que recebíamos era somente para custear as despesas relacionadas com a logística”, contam os lesados.
Findos os catorze meses de missão no Burundi, o grupo regressa em Dezembro passado à “casa”, tendo cada um recebido apenas apenas trezentos dólares que correspondem a sete milhões e duzentos mil meticais.
Indignados os dois jovens em representação dos restantes duzentos e vinte seis colegas, vão ao MDN pedir uma audiência ao seu ministro, Tobias Dai com o intuito de pedir esclarecimentos sobre o destino que teria sido dado ao dinheiro que lhes pertence por direito.
Na altura foram atendidos pelo então chefe de gabinete do ministro, a exercer actualmente a função de vice-ministro do Interior, onde respondeu-lhes que o ministro não estava disponível para os receber, mas que no entanto podiam deixar por escrito as suas preocupações, com a promessa de que logo que o chefe estivesse disponível iria chamá-los.
Estranhamente, consideram as fontes, enquanto estavam à espera de serem chamados para o solicitado encontro com o seu ministro, a 19 de Fevereiro passado, os dois jovens foram detidos e encarcerados nas cela do Comando do Exército em Maputo sem direito de receber os seus subsídios e onde permanecem até hoje.
Aliás, “os dois jovens começaram a receber os seus subsídios a partir de 10 de Maio passado”, ressalvam as fontes para em seguida lamentar a suposta indiferença que está sendo demonstrada pelo deputado da coligação Renamo-União Eleitoral, António Muchanga alegadamente por ser a pessoa chamada a intervir com vista a anular a ilegalidade e sobretudo o acto de intimidação protagonizado pelo ministério da Defesa Nacional.
Muchanga distancia-se das acusações
Abordado pela reportagem do ZAMBEZE, o deputado da Renamo-União Eleitoral (RUE), António Muchanga refutou as acusações dos antigos membros do contingente moçambicano no Burundi alegando que “estou a trabalhar no assunto só que não tem sido fácil trabalhar porque as autoridades militares dificultam o trabalho”.
“Mesmo assim, entendo o desespero dos jovens”, disse para em seguida observar que no quadro desse encontro “mantive mês passado um encontro com o ministro da Defesa, Tobias Dai onde abordamos os problemas levantados pelos militares. Em resposta, ele disse-me que não está dentro do assunto, mas que no entanto, prometeu que iria se inteirar do problema com vista a buscar-se uma solução e sobretudo como é que funciona o acordo, só que até hoje ainda não cumpriu as suas palavras”, explica Muchanga.
Mande-nos uma carta
Depois de fracassadas as tentativas de ouvir o porta-voz do MDN, Joaquim Mataruca em virtude de se encontrar fora da cidade, conseguimos na manhã desta Quarta-feira falar com um membro do gabinete de imprensa do Estado Maior General que aconselhou-nos a mandar-lhe as perguntas por escrito alegando que a resposta será oficial.
Anselmo Sengo
ZAMBEZE – 09.06.2005