Quando este mês o presidente de Moçambique, Armando Guebuza, foi recebido na Casa Branca como um dos exemplos da democracia em África, o país concluiu a volta ao espectro político, mas sem ainda ter cumprido muitas promessas da independência. |
Em 30 anos de existência, que se assinalam sábado, dia 25, o país passou por um sistema revolucionário, logo transformado em regime marxista de partido único, viveu a guerra civil, aderiu ao multipartidarismo e abraçou a economia de mercado. "Não fomos nunca totalmente nada disso. Fomos sempre parcialmente uma coisa e outra, atravessando o tempo pisando nenúfares. Molhando-nos às vezes mas nunca acima do joelho", escreveu o escritor Mia Couto, a propósito das etapas que têm construído o país. Os regimes mudam, mas mantêm-se os problemas que transformam o país num dos mais pobres do Mundo e o aniversário da independência é comemorado com uma certa amargura pelas promessas que continuam por cumprir. "Temos de acabar com a pobreza absoluta, que envergonha a todos e magoa quem a sofre", apela o semanário pró-governamental Domingo na última edição, referindo-se ao facto de 54 por cento da população viver com menos de um dólar por dia. Outros números, como a esperança de vida ter caído para os 38 anos, a mortalidade infantil vitimar 124 crianças em cada mil e a existência de um médico por 24 mil pessoas traçam um quadro de baixo desenvolvimento de um país afectado por pandemias como a malária e, sobretudo, a SIDA, com uma taxa de prevalência de 13 por cento na população. O orçamento de Estado vive muito à custa de doadores internacionais, um grupo de países que o financiam directamente, e projectos, de construção de pontes a acções educativas, dependem de parcerias externas. "Talvez mais perigoso seja o efeito que essa enorme dependência da ajuda externa tem sobre a apropriação nacional do processo de formação de políticas e tomada de decisões, que parece ser muito mais fraca agora do que era nos finais dos anos 70", consideram os economistas Tony Hodges e Roberto Tibana. Como sempre acontece nos momentos de crise, o aumento no número dos pobres só é comparável ao do aparecimento de cada vez mais ricos, e a corrupção está na frente das preocupações da sociedade civil moçambicana e dos parceiros externos. Quando tomou posse em Fevereiro deste ano, o novo presidente, Armando Guebuza, inscreveu o combate à corrupção e ao "deixa-andar" como uma prioridade do seu governo e têm aumentado os casos de investigação que envolvem personalidades e dirigentes do anterior executivo de Joaquim Chissano, igualmente da FRELIMO. Apesar de estar "no bom caminho" da democracia, Moçambique mantém um debate político fortemente crispado pelos 16 anos de guerra civil entre FRELIMO e RENAMO, os dois únicos partidos com representação parlamentar. Enquanto se espera pelo aparecimento de uma nova geração de políticos não marcada pela guerra, a FRELIMO insiste em responsabilizar a RENAMO pela destruição do país e consequente atraso económico e social e a o partido da oposição denuncia todas as eleições, que perdeu, como "fraudulentas". "Hoje temos que começar do zero. Estamos de novo na luta pela nossa independência política, económica e cultural", resumiu Elísio Macamo, professor universitário que, em 1975, na véspera da independência, foi uma das crianças escolhidas para saudar Samora Machel, primeiro presidente de Moçambique, então em digressão triunfal pelo país. Agência LUSA |