O abraço de Lusaka
Rui Ochôa/EXPRESSO |
| Mário Soares evocou em Maputo o «espectacular e inesperado abraço de Lusaka» entre si e o primeiro presidente de Moçambique, Samora Machel, que há 30 anos abriu o caminho para um acordo de descolonização. |
«Foi uma coisa espectacular e inesperada porque o (ex-presidente Zambiano Keneth) Kaunda estava a espera que aquilo fosse uma coisa formal à inglesa (...) e nós avançamos um pouco e demos um abraço com a maior fraternidade», disse Soares ao EXPRESSO África referindo-se ao início das negociações.
O ex-presidente de Portugal e que liderou as negociações de Lusaka afirmou que tal aproximação se deveu ao desejo mútuo de um rápido acordo e porque ambas as partes combatiam por uma causa que era comum: o colonialismo e o fascismo português.
O clima permitiu que «a descolonização e transição para a independência (de Moçambique) fossem concretizados com relativa facilidade e enorme rapidez», acrescentou.
Aliás, Mário Soares considera que «a descolonização foi muito tardia» e ocorreu «num quadro internacional pouco favorável», o que explica as dificuldades que se seguiram.
Soares explicou que se a descolonização tivesse sido realizada cerca de duas décadas antes «teria sido preparada com tempo e em diálogo aberto com as populações, evitado as guerras de parte a parte» e os subsequentes traumas.
O ex-presidente português afirmou voltar a Moçambique «com muita emoção» para assistir a uma cerimónia de celebração da independência, depois de ter integrado também a delegação portuguesa que se deslocou a Maputo para a transferência do poder, a 25 de Junho de 1975.
Depois deste «lapso histórico para Moçambique, mas também para Portugal», o ex-governante português considera que «as coisas correram bem, com baixos e altos, mas estão a andar».
«A democracia em Moçambique está a consolidar-se, já há paz há uns anos a esta parte e portanto há todas as condições para que agora haja um surto de maior progresso para Moçambique», disse Mário Soares, que lamentou no entanto que 30 anos depois da descolonização e devido a um processo de globalização neo-liberal que não favorece África, as populações africanas no geral não estejam a viver melhor do que viviam.
Mateus Chale, correspondente em Maputo
EXPRESSO ONLINE - 24.06.2005