O ex-Presidente português Mário Soares, um dos principais negociadores da independência de Moçambique, de que passam hoje 30 anos, afirmou em Maputo que não se sente arrependido do processo e que nada lhe pesa na consciência.
Durante uma palestra que proferiu na Universidade Eduardo Mondlane, em Maputo, Soares recordou as negociações de Lusaca, em 1974, entre o Estado português e a FRELIMO.
"Eu não dei, nós negociámos a independência", afirmou, respondendo a uma pergunta do porta-voz da RENAMO, Fernando Mazanga, sobre a opção tomada em 1974, que privilegiou na negociação a FRELIMO, então o movimento de guerrilha em Moçambique.
"Não estou arrependido, nada me pesa na consciência", afirmou Soares, que se encontrava rodeado pelo reitor da Universidade Eduardo Mondlane e pelo ex-presidente moçambicano Joaquim Chissano.
"Obrigado, moçambicanos, por vos terdes tornado independentes, por que não é livre um povo que oprime outro", acrescentou o ex- Presidente da República portuguesa, associando as lutas anti-coloniais às dos portugueses que combatiam o regime de ditadura de António de Oliveira Salazar e Marcello Caetano.
Num balanço sobre os últimos 30 anos no continente africano, Soares considerou, no entanto, que "as populações não vivem melhor do que viviam, talvez pelo contrário" e criticou a globalização que disse ter apenas um sentido.
"A globalização, na sua versão neo-liberal, que é a dominante, não tem sido nada favorável para África", considerou Soares.
"Não é possível impor uma boa governação de que tanto falam certos politólogos e burocratas sem resolver a fome no Mundo", defendeu.
"Não é o G-7, ou G-8, que confunde cooperação com caridade, que pode resolver esses problemas. É a ONU e as suas agências especializadas", acrescentou.
Na ocasião, foi assinado um protocolo de cooperação entre a Fundação Mário Soares e a Universidade Eduardo Mondlane, a maior instituição académica de Moçambique, que incide no apoio mútuo na área da recuperação de arquivos e na história contemporânea dos dois países, bem como em outras acções.
A Fundação Mário Soares é um dos principais promotores das iniciativas que, no próximo ano, vão assinalar os 70 anos do pintor moçambicano Malangatana Valente, com acções em Moçambique e em Portugal.
NOTÍCIAS LUSÓFONAS - 25.06.2005