O nome de Pretória é mais um dos que têm vindo a cair
na toponímica da nova África
A mudança oficial do nome da capital executiva sul-africana, de Pretória para Tshwane, decidida no mês passado, de acordo com o desejo da maioria negra da população, no poder desde 1994, vem na sequência de uma série de alterações que ao longo das últimas décadas se verificaram ao longo de todo o continente, de modo a tentar apagar a memória dos tempos coloniais. Sul-africanos, angolanos, moçambicanos e outros povos decidiram que as suas cidades sejam identificadas pelos nomes que possam ter mais a ver com as respectivas regiões e não com personalidades de origem europeia, como o era o general Andries Pretorius, comandante-geral dos Voortrekkers (os pioneiros) que no século XIX deixaram a colónia britânica do Cabo e se encaminharam para o Natal.Tshwane, que significa “somos os mesmos”, é o alegado nome de um chefe tribal da etnia venda que alguns dos actuais líderes tradicionais negam até que alguma vez tenha existido. A África do Sul é um país onde diversas culturas se encontram no processo de virem a formar uma só nação, com mais de 45 milhões de habitantes. Recordemos algumas das outras transformações toponímicas que tem havido na África Austral.
LOURENÇO MARQUES – A capital de Moçambique, que tinha o nome de um administrador colonial português e é uma das cidades mais bem planeadas da África Austral, recebeu em 1975, a partir da proclamação da independência, a designação de Maputo, corruptela do nome ronga que designava a antiga a baía de Ka-Mpfumo, ou Mafumo, “o lugar para onde se ia e lá se encontrava o governo, os chefes, ou quem tinha autoridade”.
JOÃO BELO - A terra que evocava o comandante João Belo, que também é nome de fragata, tem agora o nome muito mais poético de Xai-Xai, capital da província de Gaza, onde nasceram os primeiros dirigentes da Frelimo: Eduardo Mondlane, Samora Moisés Machel e Joaquim Chissano. Fica na foz do rio Limpopo.
VILA PERY - A capital da província moçambicana de Manica, numa região algodoeira por onde passa o oleoduto da Beira, tornou-se após a independência o Chimoio.
SALISBÚRIA – A capital da antiga Rodésia, que em 1980 se tornou independente sob o nome de Zimbabwe, tinha o nome do terceiro marquês de Salisbury, que foi primeiro-ministro britânico, e em 1982 mudou de designação, de forma a prestar homenagem a um dirigente africano do século XIX.
LEOPOLDVILLE– Fundada em 1881 pelo explorador Henry M. Stanley, que lhe deu o nome do seu mecenas, o rei Leopoldo II dos belgas, a capital do Congo passou em 1966 a designar-se Kinshasa, uma antiga aldeia existente no local.
ELIZABETHVILLE - A capital da província do Katanga, no Sueste da República Democrática do Congo (RDC), perto da fronteira com a Zâmbia, era uma homenagem à rainha Isabel dos Belgas, mas depois da proclamação da independência e da africanização dos nomes passou a designar-se Lubumbashi, nome que faz lembrar o efémero primeiro-ministro Patrice Lumumba.