Como um menino pobre de Goiás se tornou tesoureiro de Lula, arrecadou R$ 33 milhões, virou eminência parda do governo e é comparado a PC Farias. À DINHEIRO, ele desabafou
OLHO - Por Ivan Martins, Leonardo Attuch e Hugo Studart
Em 1971, quando o presidente do Brasil era o general Emílio Garrastazu Médici, um garoto de sorriso grande e olhos azuis saiu sozinho do vilarejo de Buriti Alegre para estudar em Goiânia, capital do seu Estado. Filho de agricultores pobres, quase iletrados, o menino de 16 anos tinha três irmãos e uma ambição – estudar matemática. Graças à habilidade com os números e à capacidade de trabalho, Delúbio Soares – tal é seu nome – cumpriu uma trajetória que o levou de professor a sindicalista, e daí a dirigente partidário. Hoje, aos 49 anos, ocupa o cargo de secretário de Finanças e Planejamento do PT. É o homem do dinheiro, o tesoureiro da máquina, o interlocutor privilegiado com os homens do capital, de quem recolheu R$ 33 milhões para a vitoriosa campanha de Lula em 2002. Na semana passada, 33 anos depois daquela viagem inaugural, o menino goiano emergiu do anonimato para o centro de uma grande polêmica. Ele é alvo de uma bateria de denúncias que o comparam a figuras sombrias do passado recente, como Paulo César Farias e Ricardo Sérgio de Oliveira, tesoureiros das campanhas eleitorais de Fernando Collor e Fernando Henrique Cardoso. Dizem que nomeia e demite no governo, que manda nos fundos de pensão, libera verbas e aprova projetos. O senador adversário Tasso Jereissati, do PSDB, chegou a atirar abertamente contra ele da tribuna: “O projeto das PPPs foi feito para o Delúbio deitar e rolar”. O tesoureiro é também acusado de ter engordado o patrimônio da sua família. Foram tantas acusações que o governo teria pedido ao seu financista que se mantivesse afastado de Brasília. Na última quinta-feira 19, cansado de receber pedradas, Delúbio resolveu desabafar. “Não sou rico, vivo de aluguel e não indiquei ninguém para o governo”, disse à DINHEIRO.
Para entender esse novo personagem da República é necessário perceber que se trata, por história e temperamento, de um homem de partido. Delúbio está no PT desde a sua fundação, em 1980, e foi como representante do partido que ele ocupou posições de direção na CUT e no Codefat, o Conselho que administra verbas sindicais. Ele atua com disciplina e eficácia em nome da ala moderada do petismo, conhecida como Articulação, à qual pertencem Lula e o ministro José Dirceu. Essa é talvez a grande diferença em relação aos caixas de campanha de outros governos. PC Farias era um aventureiro inteligente que ganhou dinheiro à sombra do presidente que ajudou a eleger. Nada tinha de militan-
te. Ricardo Sérgio era um tucano ambicioso que operava de dentro do governo como diretor do Banco do Brasil e agia “no limite da irresponsabilidade”. Foi fácil jogá-lo às feras quando sua presença se tornou escandalosa. Com Delúbio é diferente. “Ele não é um operador camuflado”, diz José Genoino, presidente nacional do PT. “Delúbio é dirigente partidário, foi eleito secretário de Finanças e responde ao partido, que é responsável por ele.” O tesoureiro do PT não ocupa cargo de governo e, até o momento, as insinuações de enriquecimento não ganharam substância. Jereissati, quando procurado pela DINHEIRO, admitiu que não tinha evidências para sustentar sua acusação. Também o cientista político Roberto Mangabeira Unger, que batizou a Lei das PPPs de “Lei Delúbio”, esquivou-se de comprovar sua afirmação. Até agora tudo sugere que o tesoureiro do PT é um cidadão de classe média que vive do seu salário de dirigente. Ele e a mulher Mônica Valente, secretária de Gestão da Prefeitura de São Paulo, alugam há 10 anos um apartamento de 60 metros quadrados. O imóvel tem dois quartos e nenhuma dependência de empregada. Aliás, não há empregada. Delúbio se veste com termos da Casa José Silva, popular, locomove-se num Santana do partido e almoça em restaurantes self-service. Para os encontros com empresários prefere conversar nos lobbies dos hotéis paulistanos. Seu preferido é o discretíssimo L’Hotel. Delúbio passou 20 anos sem tomar um gole de Coca-Cola em protesto contra o imperialismo. Hoje, seu único luxo aparente é o consumo de charutos cubanos Cohiba Lanceros, daqueles de R$ 200 a unidade. É comum deixar dois deles acesos ao mesmo tempo, um em cada sala de reunião. “Qual o problema? Sou um cidadão normal que paga imposto de renda. Não tenho direito de fumar charuto?”, defende-se.
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Por que um sujeito com esse tipo de comportamento tornou-se o alvo de todas as suspeitas em Brasília? Primeiro porque se move com demasiada desenvoltura entre os gabinetes, supostamente – o
que ele nega – como portador de pleitos empresariais. Funcionários da Odebrecht têm dito em Brasília que contam com Delúbio para ajudá-los a receber uma dívida antiga de R$ 800 milhões. O próprio Delúbio demonstra na entrevista à DINHEIRO ter uma posição ambígua a esse respeito. Sustenta que quando um empresário liga para ele com uma reivindicação, está falando com “a direção do partido” – e não com a pessoa física do tesoureiro. “O PT se arrisca muito ao considerar esse tipo de comportamento natural”, avisa o ex-presidente Fernando Collor de Mello, do alto da experiência de quem perdeu o mandato graças às estripulias do seu tesoureiro. O próprio Delúbio parece tranqüilo. Afirma que nada faz de errado e que tudo que faz, faz em nome do partido. Atenua? Em pleno governo, ele tem pedido contribuições para a compra de uma nova sede do PT. Alguns empresários acham isso um tremendo constrangimento, mas Delúbio rechaça: “Doar para o PT não vai colocar ninguém em vantagem”. É irônico que parta de um petista a tese de que empresários podem dar dinheiro a um partido político sem esperar nada em troca. O fato acima de controvérsia é que o PT hoje tem muito dinheiro, embora seu tesoureiro aparente não ter. No ano passado Delúbio diz que lidou com uma verba de R$ 45 milhões. O partido está tão bem que teria pago a dívida de R$ 1,2 milhão que Ciro Gomes fez na campanha presidencial. Por enquanto, essa informação e tantas outras histórias que circulam a respeito de Delúbio, carecem de comprovação. O protagonista garante que jamais serão comprovadas. A um amigo, ele olhou firme nos olhos, dias atrás, e disse o seguinte: “Levantam dúvidas só para me sacanear. São os ossos do ofício de quem leva essa carga espinhosa de ser tesoureiro.”
ULTIMA HORA(Directamente do Brasil)
NOTA: Depois desta entrevista(não aqui transcrita), a secretária, através de seu advogado, entregou ontem à noite, ás 19.ooh, Uma agenda recheada de vários documentos à POLICIA FEDERAL, que foi também televisionada para que sirva como testemunho e protecção dos documentos
No Depoimento e acariação na Comissão de Ètica, que durou 7 horas, transmitida em directo pela Televisão para todo o Brasil, foi solicitada protecção de VIDA para esta secretária, por se temer que seja um arquivo que possa levar até o IMPECHMENT do Governo.
15.06.2005