Editorial
Nós temos, neste País, uma oposição do “caraças”. Uma oposição tipo bebé-mimado, uma oposição que precisa de ser solicitada para trabalhar, uma oposição carente de carinho e, por isso, sempre à procura de quem lhe acarinhe e dê um empurrãozinho para começar a trabalhar!
Nós temos, neste País, uma oposição do “caraças”. Uma oposição tipo bebé-mimado, uma oposição que precisa de ser solicitada para trabalhar, uma oposição carente de carinho e, por isso, sempre à procura de quem lhe acarinhe e dê um empurrãozinho para começar a trabalhar!
Temos uma oposição que ao longo destes seis meses do ano só apareceu em público duas ou três vezes para anunciar meia dúzia de ideias não concretizáveis e, depois, recolheu-se à sua toca à espera que o povo lhe peça para continuar a trabalhar.
Temos uma oposição satisfeita com o governo do dia, aliás, tão satisfeita com ele que, desde que o governo tomou posse nunca foi alvo de nenhuma crítica séria e consistente por parte da oposição, nunca a oposição convocou uma conferência de imprensa minimamente estruturada para dizer seja o que for da conduta do actual governo, muito menos, para nos dizer quais as ideias que ela tem vindo a discutir para inverter a actual situação do País.
A última vez que a liderança da oposição ensaiou um voo, diga-se, abortado, foi quando, há cerca de dois meses, anunciou a criação de um governo-sombra incompleto, no qual faltavam, e ainda faltam, quatro ministros-chave, nomeadamente o ministro das Finanças, o da Educação, o da Saúde e o da Justiça. Ou seja, com um eventual governo da Renamo ainda não teriamos um orçamento geral do Estado preparado e apresentado ao Parlamento pelo ministro das Finanças, ou seja, com um eventual governo da Renamo, sem o ministro da Educação, o ano lectivo, que agora termina o seu primeiro semestre, ainda não teria sido organizado pelo respectivo ministro da Educação!
Portanto, temos uma oposição indisciplinada, brincalhona com assuntos de governação, uma oposição que pensa que governar é só falar, falar coisas que não vai ser capaz de as concretizar.
Temos uma oposição completamente desestruturada a partir do último processo eleitoral, uma oposição que perdeu o seu norte com as últimas eleições e parece não ter mais ideias para continuar a combater o governo que saiu das últimas eleições.
Longe de estarmos satisfeitos com a falência da oposição, nós estamos muito preocupados com essa situação, pois gostariamos de ver Moçambique como um país com uma oposição robusta e competente, capaz de “fazer dançar” o governo do dia, criando, assim, condições para o governo adoptar cada vez melhores estratégias de satisfação das necessidades do povo, estratégias potencialmente acima do questionamento da oposição.
Mas, se a oposição anda tão falida como está, então, o governo do dia só faz aquilo que lhe apetece fazer. Se quiser passar todo este ano em comícios populares nas províncias a preparar as eleições provinciais de 2007 há-de o fazer à vontade, pois a oposição não tem capacidade política para apresentar ao público críticas consubstanciadas de quão onerosos para a tesouraria pública são esses comícios.
Se o governo actual quiser reactivar toda a legislação do tempo do monopartidarismo pode fazê-lo à vontade, pois a oposição, nos moldes actuais de funcionamento, não possui capacidade jurídica de contrapôr a isso argumentos convicentes que possam ter alguma adesão popular.
Está-se agora a debater o salário mínimo nacional, e não sabemos qual é a opinião da oposição sobre esse assunto, mesmo daquela oposição que, há cerca de dois meses, se apresentou em público com um ministro da Actividade labor e Desenvolvimento. Que actividade Labor é essa que não tem nada a dizer acerca da discussão nacional sobre o salário mínimo dos trabalhadores deste País?
Está-se a debater agora o PARPA II e a oposição nem sequer sabe o que é que significa isso de PARPA! Está-se a apresentar estatísticas muito optimistas da redução da pobreza absoluta em Moçambique e a oposição nem existe para corroborar ou criticar tais estatísticas, enfim, está-se a discutir muita coisa que tem a ver com o futuro de Moçambique mas a oposição está ausente desse debate tudo para, quando começar a campanha eleitoral, vir pedir voto a um povo que não defendeu durante todo este tempo que está a passar.
Há países onde partidos da oposição acabaram desaparecendo por falta de viabilidade.
Recentemente, o Novo Partido Nacional, da África do Sul, dissolveu-se e os seus militantes entregaram-se ao ANC, no poder, por manifesta falta de viabilidade política e social. É que durante mais de 50 anos, o Partido Nacional sul-africano esteve no poder, impondo e gerindo o sistema de “apartheid”.
Em 1994, nas primeiras eleições multipartidárias, o ANC ganhou-as com 62.65 por cento (252 deputados) contra os 20.39 por cento (82 deputados) do Partido Nacional.
Nas segundas eleições democráticas daquele país vizinho, em 1999, o ANC voltou a ganhar, desta feita, com 66.35 por cento (266 deputados) contra apenas 6.87 por cento (28 deputados) do Partido Nacional, que agora mudara de nome para Novo Partido Nacional (NNP).
De referir que nestas eleições, o Novo Partido Nacional perdeu a liderança da oposição, no Parlamento, a favor do Democratic Party, que elegeu 38 deputados.
Nas últimas eleições sul-africanas, realizadas em Abril de 2004, o ANC subiu para 69.69 por cento (279 deputados) e o Novo Partido Nacional ficou-se pelo 1.65 por cento (sete deputados), numa altura em que o líder da oposição fez coligação com outros partidos, formando a Aliança Democrática (Democratic Alliance) que elegeu 50 deputados num Parlamento de 400 assentos.
Com os últimos resultados eleitorais, o Novo Partido Nacional não teve outra alternativa senão dar a mão a palmatória reconhecendo a sua falta de viabilidade política e social, dissolvendo-se e entregando-se ao seu inimigo de sempre, o ANC.
Não será esse o futuro que espera o nosso maior partido da oposição?
É que, tal como o Partido Nacional sul-africano, desde 1999 que a Renamo tem vindo a baixar não só de assentos no Parlamento, como de motivação para fazer política, o que pode ser um indicativo de cansaço, desanimo e falta de confiança no futuro.
Se é assim, então, deveria avisar ao povo moçambicano que não está mais interessado em fazer política ao invés de se fechar em copas sem nada dizer perante o fervilhar de assuntos, cá fora, a precisar de uma intervenção contundente de um partido de oposição, minimamente, estruturado e organizado.
O que se diz aqui da Renamo é, igualmente, válido para o PDD, PIMO, PAREDES, PARENA, PCN, FAP, PALMO e outros que ainda tenham alguma pretensão de ser oposição. É nossa convicção que a oposição não se faz no gabinete, faz-se na praça pública junto do povo, ali onde, precisamente, está ausente a nossa falida oposição!
Salomão Moyana
ZAMBEZE – 09.06.2005