No princípio deus criou o céu e a terra. Mas logo depois, respirando omnisciência, concluiu que o céu e a terra, contrariamente aos cérebros da maioria dos dirigentes partidários em Moçambique, não podiam permanecer vazios, era preciso preenchê-los com maravilhas. Então criou as estrelas, a cevada (matéria prima importante para o fabrico da cerveja), o pai da Quiyone e várias outras maravilhas.
Um enjoado dia, deus se cansou da sua criação, pois entendia que a mesma carecia de perfeição, principalmente em relação ao relevo, pois, porquanto se recordasse não fora sua ideia original que o Monte Quilimanjaro permanecesse vitaliciamente onde está.
Não, o plano era o de que, por volta do ano 1998, aquando das eleições municipais em Moçambique, aquele aglomerado de rochas voasse e viesse desabar sobre o
edifício onde funciona a CNE, soterrando todos os que lá ocupam posições de chefia.
- Vou destruir a Terra - decidiu o pai lá do céu.
Foi com tal propósito em mente que criou o homem, mas como precisasse garantir a loucura deste, criou também a mulher, dizendo: «Ela destruirá o homem e ambos
constituirão a tendência suicida da natureza».
Mas, no princípio deus era muito burro... Se ao menos tivesse acatado os conselhos de Sócrates, o grande filósofo, não teria cometido um lapso de tal gravidade que até custa a acreditar...o de criar um tipo de seres cujas almas comportavam a "areté", ou seja, a "virtude".
Ora, como todos sabemos, a "arete" socrática significa exactamente isto: thkdgsakf gfd, o que para os leigos pode ser traduzido em "aquilo que se torna um ser bom e perfeito naquilo que é". Por exemplo, a "virtude" do cão: é de ser (aquilo que deve ser) um bom guarda e caçador; a da Lurdes Mutola: correr e correr mesmo que ninguém a esteja a perseguir; a do Baptista: beber vinho e esquecer o juízo no
porta-luvas do carro; e assim por diante. Todos virtuosos, as plantas e os animais, e até os malfadados homens, viviam em perfeita harmonia. Havia fartura e felicidade. O termo ug encontrado nas escavações arqueológicas em Manyikeni, ecoando nas
cavernas, ilustra que os animais tinham, inclusivamente, o domínio da palavra, ou seja, eles proseavam com os homens e diziam coisas muito interessantes, mais interessantes pelo menos do que dizemos nós no Moçambiqueonline. Era perfeitamente normal ouvir um luze-cú (pirilampo) gritar: "ó leão, passe-me o papel higiénico!".
E deus disse: "Deste modo nunca conseguirei destruir o mundo. Tenho que criar uma espécie de anticristo".
E começou a cogitar como é que faria...
Passados alguns segundos, lançou para a terra uma fatia de maná celestial. Um porco que andava a passear pelo prado verdejante viu o maná, cheirou-o, gostou e
comeu. Resultado: foi assolado por uma dolorosa diarreia, de tal azar que foi obrigado a defecar ali mesmo na relva. Era um excremento castanho com alguns
tons amarelados. Estavam patentes os vestígios da última refeição do porco, isto é, mangas podres. Era um excremento tão mal cheiroso, mas nem por isso pior que o hálito da minha sogra. Era, acima de tudo, como diria o meu professor de psicologia: "um senhor cocó".
Todavia, aquele excremento era muito estranho: crescia a cada dia; era impermeável à erosão das chuvas e dos ventos; e inclusivamente, ninguém conseguia removê-lo do chão para o deitar mais adiante na floresta... Por causa disso, começou a girar em seu torno um rico anedotário popular. Contava-se por exemplo de um lavrador que, passeando pelo planalto, por pouco não o pisa. Fica-se por ali especado a olhar para aquele montinho de ex-comida... «Parecem fezes», desconfia.
«Pelo menos em termos de aspecto, parece fezes». Após o que, passa um dedo pelo montinho e cheira: «Tem cheiro de merda». Depois lambe o dedo vagarosamente e exclama: «Merda! Sabe a merda. É merda». E, aliviado, acrescenta: «Ainda bem que não pisei».
Entretanto, o excremento ia crescendo dia após dia.
Passado um mês, já tinha o tamanho do lenço do Iaacub Sibindi. Mais um mês e alguém jurou ter visto o namorado de Edite, a minha irmã, isto porque o excremento foi ganhando características humanas, embora continuasse a tresandar. Algum tempo ainda e... da porcaria se fez um homem. O fulano já balbuciava algumas palavras, como por exemplo: futuro melhor, boicotem as eleições, não aceitamos os resultados das eleições, reabilitarei Xipamanine, etc.
Então Deus esfregou as mãos e disse:
- Está feito: das fezes criei o homem que corromperá toda a humanidade. Faltar-lhe-á aquilo que um dia Sócrates, preocupado com o descalabro do mundo, chamará "enkrateia" ou seja "autodomínio", ou ainda, "o domínio da própria racionalidade sobre a própria animalidade". A destruição do mundo é uma questão de séculos.
Deus chamou então o anjo mais novo do céu e ordenou que ele escolhesse um nome para a sua nova criação, à qual, ele pessoalmente ou divinamente, costumava
chamar, "das fezes nascestes, às fezes tornarás".
O anjo-criança gritou maravilhado: "PASSA A CHAMAR-SE POLÍTICO".
E Deus viu que era muitíssimo bom.
*Escritor e ensaísta
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