“Ainda não atingimos a independência económica que era o sonho de Samora Machel”, Alexandrino José, historiador e professor universitário ao “vt”
- “Porque razão não temos um negro dono de um banco neste País? Porque é que não se autorizou o projecto que a Lurdes Mutola tinha de se construir um Estádio olímpico junto ao Parque dos Continuadores?”, desabafo do historiador e professor universitário (Maputo)
Alexandrino José começou por caracterizar os primeiros anos da independência sob o ponto de vista económico pois, no seu entender não foram logrados os objectivos da independência porque o país continua dependente do estrangeiro: “nos primeiros anos da independência dava a entender que o moçambicano seria dono da sua própria economia mas agora, os moçambicanos são obrigados a contentar-se com aquilo que não é nosso” e acrescentando que “o desenvolvimento económico deve se concentrar no campo. É lá onde está a riqueza deste País”.
Conforme o historiador Alexandrino José, “fizeram fracassar o plano que Samora Machel tinha para Moçambique. Se o mesmo tivesse triunfado, não teriámos crianças a vender no Dumba-Nengue. O Plano de Samora era que depois de mais ou menos uma década de Independência Nacional passaríamos a independência económica, mas agora estão a trazer brancos para traçar os destinos da nossa economia”.
Na opinião do historiador e professor universitário, “depois da Independência Nacional tivemos 17 anos de guerra. A natureza dessa guerra tinha a ver com a pertinência política que era de recolonizar Moçambique”.
Por outro lado, o nosso interlocutor sublinhou que “os portugueses nunca quiseram que Moçambique ficasse independente. Por isso criaram a Renamo e este maior partido de oposição foi criado como procuradora do colonialismo. Uma força política que não confia no seu povo não pode ser democrática. Que democracia é essa onde sempre tem que se recorrer a comunidade internacional para qualquer passo que se pretende dar?
A CONTUNDÊNCIA QUE SE QUEBROU
Para a nossa fonte, “o que aconteceu de negativo nos 30 anos foi a luta contra a independência que trouxe efeitos devastadores para o País. Com essa luta as pessoas quebraram os termos da cultura e auto- estima. Dividiram os moçambicanos. Os indianos que tinham lojas no tempo colonial hoje dominam o capital financeiro neste País. Quem frequenta os cursos privilegiados são as pessoas da classe média e alta, etc”.
O combate ao neocolonialismo é o desafio que Alexandrino José apresenta para que o País possa se desenvolver de uma forma harmoniosa: “o Governo diz que está preocupado com a inflação e com o bem-estar de todos mas, quando aparece uma oportunidade de investimento dá-se oportunidade à pessoas de outra etnia e não aos da etnia bantu”.
“Porque razão não temos um negro dono de um banco neste País? Porque é que não se autorizou o projecto que a Lurdes Mutola tinha de construir um Estado olímpico junto ao Parque dos continuadores?”, desabafa o historiador Alexandrino José e sublinhando que “hoje não somos contundentes como nos primeiros anos da independência. Isso pode causar lutas tribais”.
De acordo com Alexandrino José, “a distribuição da riqueza neste País está muito mal. Aqui é possível numa instituição termos um chefe a andar de um carro do último grito mas se formos ao seu gabinete, podemos encontar o trabalho parado por falta de dinheiro para comprar tonner. Obriga-se a um funcionário que vive na periferia a ter que chegar ao serviço na cidade muito cedo para prestar contas a um outro que vive há uns metros do serviço, tem carro e nada faz”.
Para a fonte, “há uns que têm demais e estão a mandar naqueles que nada têm” e enfatizando que “dá para o Governo acabar de facto com o burocratismo na função pública. Primeiro deve se organizar o quadro do pessoal e depois criar-se condições de trabalho. A guerra contra o burocratismo tem que começar do topo para a base”.
O académico defendeu ainda que “deve-se pensar também numa nova política salarial onde todos os funcionários possam receber valores aproximados e não as diferenças salariais que se registam agora na ordem dos 50 a 60 por cento”.
Para terminar, Alexandrino José argumentou sonhar com um País livre da miséria espiritual, “onde possa reinar a justiça social e para isso é necessário que as autoridades deste País saibam que a guerra necessária não é contra a pobreza absoluta, mas sim, contra o neocolonialismo”.
(Arménia Mucavele)