NA CONTENÇÃO DAS DESPESAS
Aplaudimos, efusivamente, a medida, anunciada na última segunda-feira, pelo ministro das finanças moçambicano, Manuel Chang, de que na realização das despesas do Estado, o governo vai impor, daqui, para frente, a contenção nas rubricas de combustível, passagens aéreas e encargos com alojamento.
Ou seja, menos combustível para abastecer viaturas em que se fazem transportar quadros e dirigentes do Estado; menos deslocações; menos bebícios e comícios à custa do erário público, etc.
Concordamos, ainda, quando assegura que os recursos do Estado, obtidos através da colecta de impostos, serão direccionados a programas e actividades de alívio à pobreza absoluta e crescimento económico e social.
Assim, seguindo o raciocínio de Chang, périplos, financiados pelo erário público, como o efectuado, recentemente, pelo presidente da República, Armando Guebuza, para “agradecer” à população por ter votado nele e no seu partido não têm razão de ser.
É só imaginar quanto é que o PR e a sua comitiva gastou em alojamento, combustível, alimentação, etc., numa mera viagem de “agradecimento” e “auscultação”.
O que pretendemos dizer é simples: - Sim, aplaudimos a medida de racionalização dos recursos disponíveis, mas que tal anúncio não esgote em mera propaganda, sem efeitos concretos, é preciso que a contenção das despesas seja extensiva a todos, incluindo altos dirigentes do Estado moçambicano.
Só um périplo a que nos referimos(do Rovuma ao Maputo), o rombo causado ao erário público podia servir para a construção de várias unidades sanitárias.
Recordamos que além de gastos directos com combustível, alojamento, alimentação, etc. na tentativa de garantir o melhor acolhimento popular, os governos locais fizeram questão de conceder tolerância de ponto no dia da chegada do “grande chefe” e no dia que iria “falar à população”.
Imagine-se quanto é que se perdeu, em termos económicos, para garantir, na nossa opinião, ganhos políticos míseros.
Se se exige sacrifícios a apenas alguns, enquanto os altos dirigentes do Estado continuam a gastar o pouco que entra nos cofres do Estado por tudo e por nada, seguramente o fim último pretendido - alívio à pobreza absoluta - será inalcansável. Não basta arrancar uma meia dúzia de viaturas, em que se faziam transportar os quadro do Estado ou impedir a estes de viajar que se poupam os recursos do Estado.
Aliás, até aqui os novos governantes acham que pisando a dita classe média - formada pelos alguns quadros do aparelho do Estado – se combate o deixa andar, o propalado entrave ao desenvolvimento do país. É que foram os quadros do aparelho do Estado que, por exemplo,
ficaram(no Ministério da Saúde e da Agricultura) sem as viaturas em que se faziam transportar, também, para o serviço. A-propósito, a referida medida, de retirada de carros de afectação pessoal, só porque não são chefes, foi um grande vexame. O resto, o tempo dirá quem tem razão...
São os quadros(alguns dos quais com vários diplomas universitários) que no Ministério de Administração Estatal foram obrigados a «estudar» o discurso do «camarada presidente», lido no acto de tomada de posse, como se eles tivessem dificuldades de ouvir ou perceber o que Guebuza disse. JF
IMPARCIAL – 15.06.2005