DEPOIMENTOS
Iniciamos hoje a publicação de alguns depoimentos a propósito dos 30 anos da Independência de Moçambique, que se assinala no próximo dia 25 de Junho, no país. É nosso interesse fazer chegar todos os dias, neste espaço, a opinião de uma ou várias individualidades do universo sócio, político, cultural e económico no país.
«Balanço negativo»,
FERNANDO MAZANGA, PORTA-VOZ DARENAMO
«São 30 anos que começaram por uma data muito importante – 25 de Junho de 1975 – altura em que Moçambique ascendeu à Independência. Houve euforia generalizada porque pensávamos que finalmente seríamos donos do nosso destino, contudo, foi “sol de pouca dura”.
Rapidamente o país foi controlado por um punhado de indivíduos que oprimiu os seus próprios irmãos. A tirania introduzida pelo regime de carácter marxista-leninista tornou a Independência num presente envenenado.
Por isso que moçambicanos revoltaram-se, tendo havido a primeira revolta a 10 de Dezembro de 1975, altura em que houve a primeira insurreição dos militares que estiveram na frente de batalha, durante a Luta Armada, não satisfeitos pelo rumo dos acontecimentos, e que mais tarde culminou com a criação da Resistência Nacional Moçambicana. Portanto, a história dos 30 anos da Independência Nacional está intrinsecamente ligada à luta de resistência.
A Frelimo não conseguiu dar alegria aos moçambicanos, nem tão pouco uma boa governação.
Houve uma sucessão de elementos que contribuíram para a quebra da própria dignidade dos moçambicanos, que foram obrigados a terem que viver em aldeias comunais, circulação limitada, através das guias de marcha, campos de concentração, apelidadas decampo de reeducação, onde moçambicanos recolhidos à força das grandes cidades foram atirados nas matas, por exemplo, no Niassa, acabando, muitos deles por serem devorados pelos leões, portanto, o balanço é negativo.
Houve, no entanto, um ponto positivo – Alfabetização e educação de adultos. Isso permitiu que as pessoas adultas aprendessem a ler e escrever, o que facilitou a comunicação através da língua Portuguesa, o resto foi humilhação».
Futuro sombrio
Quanto ao futuro, «com a subida ao poder de Armando Emílio Guebuza, tendo em conta o que foi proferido, recentemente, pelo seu porta-voz, o velho Marcelino dos Santos (que assegurou que a Renamo iria desaparecer até 2009), pertencente à ala ortodoxa comunista, receamos que o país esteja à beira do regresso para o sistema monopartidário. Se olharmos para o tipo de governação de Armando Guebuza, do tipo populismo barato, oneroso e onde a essência são os discursos de ordem política, está mais que evidente que Moçambique está no caminho errado. Tomando ainda em conta as últimas eleições intercalares (Mocímboa da Praia, Cabo Delgado) como foram conduzidas, onde a vontade das armas substituiu a vontade popular, então a democracia está ameaçada e sem democracia não há perspectivas de um futuro risonho em Moçambique».
IMPARCIAL – 20.06.2005