Criada há 20 anos para apoiar o desenvolvimento e preservar a herança cultural dos países lusófonos, a União das Cidades Capitais de Língua Portuguesa (UCCLA) prepara-se agora para abraçar um novo desafio: responder às necessidades das populações mais carenciadas. Por Joana Haderer
da Agência Lusa - 26.06.2005
Fundada a 28 de Junho de 1985, por iniciativa do então presidente da Câmara de Lisboa, Krus Abecassis, a UCCLA, sigla que também significa União das Cidades Capitais Luso-Afro-Américo- Asiáticas, teve ainda como fundadoras Bissau, Luanda, Macau, Maputo, Praia, Rio de Janeiro e São Tomé.
Hoje, a organização internacional reúne 23 cidades-membro de Angola, Cabo Verde, Guiné-Bissau, Moçambique, São Tomé e Príncipe, Timor-Leste, Macau, Brasil e Portugal, além de 45 empresas sedeadas em países lusófonos, representantes da banca, comunicações, transportadoras aéreas, energia, turismo, construção civil e obras públicas.
Se a história da UCCLA se tem pautado pela cooperação e apoio à recuperação de património cultural e à construção de infra- estruturas de saúde, desportivas e de saneamento em diversas cidades- membro, intervenções financiadas unicamente pela Câmara de Lisboa, o futuro passa por procurar responder às necessidades básicas das populações e reduzir a pobreza.
O objectivo é também alargar os associados, passando a incluir as cidades que não são capitais nem ex-capitais e as comunidades portuguesas espalhadas pelo mundo, além de novas empresas, adiantou, em entrevista à Lusa, o secretário-geral da UCCLA, Francisco Lopo de Carvalho.
"A UCCLA talvez tenha sido o embrião da Comunidade de Países de Língua Portuguesa (CPLP), embora funcionem de formas diferentes. A CPLP tem uma intervenção a nível dos Estados, enquanto a UCCLA lida a nível do poder local, as entidades que estão mais próximas dos problemas das populações", explicou o responsável à Lusa.
Sustentando que alguns países "têm problemas complicados de desenvolvimento e pobreza", Francisco Lopo de Carvalho recorda o exemplo de um autarca de uma cidade africana que pediu o apoio da UCCLA para reabilitar o edifício da câmara, mas admitiu não ter água, electricidade, rede de esgotos e de vias de comunicação nem capacidade para financiar posteriormente a manutenção do prédio.
Para o secretário-geral, "a UCCLA, como entidade que se quer posicionar na ajuda ao desenvolvimento, tem de olhar para os problemas básicos das populações, olhar para os problemas da diminuição da pobreza, e aqui olhamos para os Objectivos de Desenvolvimento do Milénio definidos em 2000 pelas Nações Unidas".
"A prioridade da UCCLA é a lusofonia, mas para ter condições para manter e expandir a lusofonia, tenho de ter condições para a população se manter. Em vez de pensar apenas em obras pontuais, a UCCLA tem de compactar essas acções com intervenções para a satisfação das necessidades básicas às populações", defendeu Lopo de Carvalho.
Esta situação provocaria um aumento exponencial das necessidades financeiras da UCCLA, que deixariam de ser comportáveis pela Câmara de Lisboa, pelo que seria necessário recorrer ao financiamento das entidades multilaterais de desenvolvimento, como o Banco Mundial, a União Europeia ou as Nações Unidas, além da participação das empresas associadas da organização.
Segundo Lopo de Carvalho, "algumas cidades têm carências tão extensas no tempo e na dimensão que já não as sentem, e têm alguma dificuldade em identificar as suas prioridades".
"O objectivo é desenvolver uma "cooperação chave-na-mãoÈ: a UCCLA identifica o problema, formata os projectos, recorrendo a técnicos dos diferentes países e das empresas, planeia a execução do projecto, estima os custos, apresenta os dossiês às entidades internacionais e obtém o financiamento, sendo depois a promotora da iniciativa", descreveu o responsável.
Na opinião do secretário-geral, esta actividade seria geradora de negócios, atraindo a cooperação das empresas.
Numa altura em que Goa, na Índia, poderá ser a próxima cidade a aderir, a UCCLA deverá também abrir-se a outras cidades e comunidades lusófonas espalhadas pelo Mundo.
"Há que estender o conceito de cidades, permitindo o acesso de novas, que não só as capitais e ex-capitais", sustentou.
Lopo de Carvalho recorda as comunidades portuguesas "de extrema importância" residentes no Luxemburgo, Venezuela e Estados Unidos, que acredita que estão disponíveis "para ajudar quem mais precisa".
"A lusofonia tem de se ver. E isto é a forma de afirmar a lusofonia, porque no fundo o objectivo é criar uma comunidade lusófona sem barreiras culturais", defendeu o responsável da UCCLA.