Chefe da secreta também já caiu
Depois da queda de vários ministros e de toda a cúpula do partido governamental (PT) do presidente Lula da Silva, o chefe da Agência Brasileira de Inteligência (ABIN, a polícia secreta de Brasília), também foi forçado a demitir-se. É que deputados e senadores de todos os partidos ficaram furiosos ao saber que Mauro Marcelo Lima Silva, de 45 anos, director-geral da ABIN, os considerava umas “bestas” e os tinha descrito dessa forma num documento oficial.
O governo, sublinhe-se, não fez absolutamente nada, mas a reacção no Parlamento foi tão forte que o próprio director da ABIN optou por ir ao palácio da presidência já perto das 23 horas de quarta-feira (madrugada de ontem em Lisboa) e apresentou a demissão. Provocador, mesmo após deixar o cargo, afirmou aos jornalistas que não se arrependia do que tinha dito. Homem de muitas bravatas e menos discreto do que deveria ser um alto dirigente do serviço secreto, Mauro Marcelo fez em Fevereiro uma ‘estranha’ viagem a Cuba, onde esteve durante uma semana a aprender como actua a ‘secreta’ de Fidel Castro especializada em apoiar grupos revolucionários espalhados pelo mundo.
O documento que fez cair o chefe da ‘secreta’ de Lula, e que chegou às mãos de um deputado, que o divulgou, foi redigido no passado dia seis e dirigido ao agente secreto Edgard Lange, interrogado dias antes na comissão de inquérito que investiga corrupção no governo e a suspeita participação da ABIN nesse processo. Nesse documento, Mauro Marcelo elogia Lange por ter resistido bravamente “ao ataque das bestas feras” (referindo-se aos deputados e senadores membros da comissão), ainda mais no próprio “picadeiro delas” (o Congresso).
A actuação da polícia secreta no governo Lula tem sido alvo de muitas críticas. Com acções nada discretas e quase sempre atabalhoadas, não tem alcançado grandes resultados e parece ter uma acção mais política, a favor do governo, do que a favor do país. O próprio agente Edgard Lange, que participou em escutas e gravações ilegais e outras autorizadas em empresas estatais onde se suspeita de desvio de verbas a favor de partidos aliados do governo, afirmou na comissão de inquérito que, ao chegar perto de mais do foco das irregularidades, recebeu ordem do governo para parar imediatamente as investigações.
CORRUPÇÃO... SÓ NO HAITI
Convidado de honra no Dia Nacional de França, o presidente brasileiro reconheceu a existência de corrupção em larga escala... mas no Haiti. Na Universidade de Sorbonne, onde discursou, Lula “fintou” um convidado, que lhe perguntou o que é pior, a fome ou a corrupção, respondendo que no Haiti não será possível restabelecer a democracia e pôr fim à fome sem primeiro conter a corrupção que grassa naquele país das Caraíbas. Na Praça da Bastilha, numa festa organizada por Abílio Diniz, dono do grupo Pão de Açúcar, Lula cantou com Gilberto Gil, que incentivava a multidão a gritar o nome de Lula.Domingos Serrinha, São Paulo - CORREIO DA MANHÃ - 15.07.2005