BRASIL/ MOÇAMBIQUE
O escritor e ator Rogério Manjate, editor de MADERAZINCO - único site de literatura existente em Moçambique , de onde já conhecia PALAVRARTE e se correspondia com seus editores, esteve há pouco tempo no Nordeste do Brasil e teve a oportunidade de se encontrar com correspondentes do nosso site no Nordeste : Cláudio Aguiar (Pernambuco) e Luiz Alberto Machado (Alagoas), que realizou a entrevista que apresentamos.
Os editores
- Vamos começar pelo papo na praia da Pajuçara, em Maceió, na beira do Atlântico, bebericando e conversando sobre muitas coisas. Uma curiosidade bastante interessante é que falamos a mesma língua, cada qual com suas peculiaridades, embora você esteja no Índico e nós brasileiros, no Atlântico. Inclusive, há aquele fato de que depois de alguns quilômetros saindo de Maputo, outras línguas surgem. Fala um pouco a respeito disso, dessa diversidade lingüistica e da formação moçambicana.
Uma das riquezas de Moçambique é a grande diversidade cultural, tu tens um rio que divide o país de uma forma peculiar, a sul do Rio Zambeze tens uma sociedade patrilinear e a norte matrilinear; isto provoca uma grande diferença. Mais, tens cerca de 23 línguas nacionais, e isto pode implicar a presença de mesmo número de culturas, com as suas semelhanças e diferenças.
É mais ou menos isto, andas 400 Km, e ouves uma nova língua. Meus pais falam chope, que apenas percebo, nasci em Maputo, falo changana e ronga; as línguas que se falam a partir dos cerca de 900 km de Maputo eu não percebo, só identifico uma ou outra palavra por elas serem bantas. A língua portuguesa é que estabelece, a famosa unidade nacional, é a língua oficial, mas que não é falada por mais de metade dos 16 milhões de habitantes, devido ao alto índice de analfabetismo. Como podes imaginar a literatura não é para muitos, confinando-se às cidades, e para os privilegiados. Esta coisa das línguas, vai associada com a diversidade de ritos, de danças, de ritmos musicais que este país tem. Por exemplo, o norte de Moçambique, tem grandes influências árabes, pois estes estiveram antes dos portugueses a fazerem trocas comerciais (no entanto Vasco da Gama descobriu Moçambique) aliás há semelhanças nesse aspecto com o nordeste do Brasil, e essa influência está presente na música, na gastronomia, e mais. Por isso, moçambicanidade é algo que se vai construindo a cada dia e vai levar muito tempo, e não sei que rumos tomará com a globalização ocidental. E a moçambicanidade é algo que a literatura vinca bastante.
- Fala agora sobre a literatura moçambicana, como ela se encontra hoje?
A literatura de Moçambique é jovem ainda, porque durante um período ela era feita apenas por portugueses ou descendentes, e até que os moçambicanos tivessem direito a escolarização, para poderem entrar nesse universo levou muito tempo, isso só começou no início do século passado. E eles aprendiam e apreendiam valores europeus, tanto que eram obrigados a renegar a moçambicanidade (todos os valores culturais nativos) tornando-se assimilados, e aceites como portugueses de segunda ou terceira... e só nos anos 40 é que houve uma espécie de rebeldia, a partir deste tempo é que se sente a presença de elementos moçambicanos, o pensamento africano dos escritores (Noémia de Sousa, Craveirinha, e outros). E ainda hoje dá-se continuidade disso, e tornando-se a literatura moçambicana cada vez mais universal, moçambicanamente eu acho - sente-se isso em Patraquim, Mia, White e outros... e já o fazia Rui Knopfli nos anos 50. Mas neste momento a economia do mercado das cabeças dos políticos lixa tudo; mas nos últimos 5 anos voltam a aparecer mais livros, algumas editoras, mas como em todos os países pobres, existe uma falta de políticas culturais e educacionais, generalizada. E isso é fatal. Acredito que daqui mais 5-10 anos vai ser mais expressivo ainda, porque já existe um pequeno movimento literário esporádico, concursos literários para jovens, há pequenas manifestações privadas nesse sentido e no apoio à edição de livros. Falar da literatura moçambicana actualmente, é perigosa a generalização; os bons autores continuam bons, e continuam a produzir, muitos deles esporadicamente... a literatura tem como chave o trabalho individual, mas o colectivo é fulcral, como por exemplo a formação de novos leitores. Por isso edições são de 1000 exemplares, mal distribuídos, reeditados 5 anos depois, se. Nada ou pouco está sendo feito, em relação à estrutura da literatura, das artes em geral. Mas segue o seu caminho, e vai crescer ainda mais. Há muitos autores a serem traduzidos, a serem conhecidos em várias paragens.
- Sobre isso, você em 2000 organizou uma coletânea da literatura moçambicana publicada num belíssimo volume que conta, ainda, com a presença de artistas do Brasil, de Cabo Verde e de Portugal. Como se deu essa experiência? Como você vê o intercâmbio entre esses países?
Existe na cidade do Porto, o projecto Identidades e a Cooperativa Cultural Gesto, como se pode perceber pelos nomes, eles vêm desenvolvendo trabalhos que implicam cooperação com outros povos; e porque ambos são suportados por professores e alunos da faculdade de Belas Artes da Univ. Do Porto, em Moçambique começou com a Escola de Artes Visuais em Maputo; e depois as actividades alargaram-se, em 2000 foi a literatura, num diálogo com as artes plásticas, cujo trabalho será continuado ainda este ano se fundos houverem, mas no sentido contrário, os artistas plásticos fazem as obras e os escritores escrevem a partir delas, num diálogo de identidades. E isso envolve escritores e artistas plásticos do Brasil, Cabo-Verde, Portugal e Moçambique. A Colectânea Breve de Literatura Moçambicana é uma selecção de textos, poemas e contos, de vários autores que vão desde os anos 40 até 2000, deixando perceber as várias fases e temáticas da literatura moçambicana. Este tipo de intercâmbios é de extrema importância porque ultrapassa os políticos, que ficam sempre na mesma canção. Porque vai fundo, é muito baseado na identidade, nos afectos, no conhecimento do outro. E é através destes intercâmbios que percebemos até que ponto não somos lusófonos, mas sim moçambicanos, brasileiros, angolanos, que até falamos uma língua que não é tão mesma assim. Mas infelizmente estes intercâmbios são raros, porque nos nossos países, os políticos, não promovem cultura, agora criou-se uma coisa chamada CPLP, que é basicamente política, como se fosse um portal para gastar mais dinheiro em nome dessa cooperação. E o pior de tudo é que as iniciativas partem de Portugal e não directamente entre os restantes países, o que criaria uma maior dinâmica e verdadeira troca. Não existe cooperação Sul-Sul: dinheiro não há. Então ficamos nas estratégias neocoloniais
movidas pelo ocidente. Por exemplo agora há uma televisão via satélite chamada RTP África, feita directamente de Lisboa para os países africanos, onde mais de 75% de programação é portuguesa. Mas será que era esta a televisão que os africanos queriam? Foram perguntados? É feita para os imigrantes portugueses? para que africanos, os que estão em África ou na Europa?... Mas, "quem parte não é o mesmo que regressa", reza o aforismo. Neste momento a cooperação é triangular, e Portugal é o centro...
- Você foi agraciado em 2001, com o prêmio do Concurso Literário TDM, resultando na publicação do seu livro "Amor Silvestre". Como é que a literatura chega na sua vida? Aproveite e fale desse seu livro publicado.
Tenho um irmão que gosta de literatura, eu criança ele já era universitário, o exemplo da família, e isso influenciava-nos a todos. Em minha casa houve sempre livros, lembro-me de "Mayombe" do angolano Pepetela, e achava esses dois nomes engraçados e misteriosos... cresci e facilmente peguei num livro para ler. Dava-me prazer. E quem lê, muito facilmente pensa que pode escrever. E este meu prazer de leitura empurrou-me para o teatro. Não fui aconselhado, eu fui espontaneamente. Vi umas peças de teatro e achei que era capaz de fazer também. E a vontade de escrever um poema, um conto, foi aguçada pelo teatro. E mais, no mesmo teatro trabalho com escritores, o sueco Henning Mankell, como encenador, e também com o Mia Couto, numa relação em que ele é mais do que colaborador. E por acaso foi ao Mia que mostrei o meu bloco de poemas em 1996 e foi bastante carinhoso e disse-me: já és poeta. Usei esta frase como trampolim, até hoje. Com o tempo, eu fui rejeitando esses poemas, escrevendo outros. E na mesma altura comecei a escrever contos, que formam o livro Amor Silvestre. Os primeiros foram escritos em 1996, depois abandonei-os porque apercebi-me que eu ainda não tinha o domínio da linguagem literária, para poder contar as histórias. Então fui ler, mas era uma investigação às técnicas do conto. Por isso eu digo que se trata de um livro de um leitor, não de um escritor. O meu principal exercício até hoje é o de ser bom leitor. Em 99, finalmente apanhei livros do Guimarães Rosa, o mestre, e comecei por Tutaméia, e fui lendo cada vez mais contos, Garcia Marques, Canneti, Hesse, Tchekhov, e outros tantos... brasileiros também. Então este é o livro das influências, como acontece em todas as artes, afinal o que é ser original, acho que é preciso partir do que já está feito, onde parece que tudo já foi feito.... Só voltei a pegar nesses contos abandonados em 99, recriando-os e criando outros, e reescrevendo-os até ao dia em que fui deixar o exemplar para o concurso, que felizmente ganhei e valendo-me a publicação do livro. Em muitos dos contos, quis preservar a tradição oral, fiz investigação do conto tradicional moçambicano e africano, e quis manter a sua linguagem e saberes. E um deles é a recriação de dois contos num só. Outros foram escritos a partir de poemas, que ao relê-los, descobri que com um bom bisturi podiam contar uma boa história, e fiz a "clonagem". E tentei escrever esses contos como se fossem poemas, deixando o silêncio percorrer as palavras. Gosto muito da poesia. E este nome Amor Silvestre provém de uma pergunta que eu me fiz um dia: como é o Amor em pessoas tão pobres, na miséria?... E é a esta gente, às pessoas da Malanga (bairro onde nasci, cresci e vivo, nos arredores de Maputo) e todas Malangas deste país, que eu quero prestar uma pequenina homenagem.
- Como é conciliar literatura, agronomia e teatro?
Assim que acabei o ensino secundário, eu entro no teatro como amador, e a agronomia foi o curso que tinha escolhido, não tem nada a ver com sonho de menino, nada dessas coisas, mas decisão do momento... e sabes em países pobres sobre a arte é sempre a mesma coisa: "tens de fazer algo mais seguro". Mas os sonhos não são seguros. E eu sou desses loucos que escolheram o sonho para viver: "viver é melhor que sonhar". Eu, no entanto, me apaixonei pelo teatro, e o curso passou para segundo plano desde que entrei no Mutumbela Gogo e trabalhar como profissional, em 92 - são as digressões, os festivais, então leva tempo... Agora, a literatura e o teatro não precisam de conciliação nenhuma. São a mesma coisa quase. Eu tenho usado o teatro na minha escrita; escrevo como se estivesse a encenar e a ver acontecer no palco. E de certa maneira estou preocupado com a dramaturgia. E nos meus textos tento sempre criar imagens cheias de movimento. Procuro também imprimir a poesia do teatro, também o humor... não sei se o tenho conseguido passar para o leitor, mas esse é o meu objectivo ao escrever. Por exemplo a escrita do Guimarães Rosa, do Garcia Marquez é assim, e é bastante cinematográfica; o leitor vê o que lê. Os conhecimentos que adquiro na agronomia: é um curso superior, e qualquer um serve para a formação de qualquer um, e isto reflecte-se principalmente na capacidade da assimilação, da organização do pensamento... pensar rápido, ser pragmático. E penso que o facto de ter estudado ciências facilita-me nalgumas coisas no teatro, na literatura e aí fora.
- O que poderia falar da atividade teatral que você desenvolve em Moçambique?
O teatro moçambicano é novo ainda, e o que se fez nos finais dos anos 80 foi a incorporação dos elementos culturais moçambicanos no teatro, a dança e a música, e assim se fizeram adaptações de textos moçambicanos, contos que tinham a ver com a realidade de Moçambique, ao invés de fazer arte por arte, como se fizera antes, representando os clássicos europeus. Pois fez-se um teatro que se identifica com a cultura moçambicana, "todo o artista tem de ir aonde o povo está". E isso foi a chave do teatro em Moçambique. E o Mutumbela Gogo foi o precursor. É um teatro de improvisação, um teatro do actor. Muitas vezes partindo de um mote, e os actores começam a improvisar, construindo a peça, tal como na escrita de um conto ou romance. Por isso que há muitas criações colectivas. E também há uma ausência de dramaturgos, obrigando à adaptações de contos. E o teatro em Moçambique é de intervenção social, mas com bastante arte. Também adaptamos peças estrangeiras, já fizemos Dário Fo, Willy Russell, Chico Buarque e outros, neste momento estou para estrear Homens, de Jan Erickson, sueco. Em suma diria que é o teatro moderno europeu, mas com uma linguagem africana, moçambicana. Uma vez num festival em Zurique apresentamos "os meninos de ninguém", cinco dias esgotados, as pessoas iam lá para ver danças, o exótico, o africano selvagem, que é o que vem habitualmente dos africanos que aparecem por lá. Ficaram quedos: de onde vocês são? Estudaram na Europa? É Stanislavsky?... Porque era o teatro que eles conhecem, mas, com uma dose africana na expressão, no ritmo - música e danças, por acaso urbanas, o rap. E o grande desafio para nós é termos de abordar temas sociais actuais, que a priori são óbvios, e termos de transcender através da arte...
- Vamos falar agora do Maderazinco. O que é exactamente este projeto, quais os objetivos, a que se propõe?
O Maderazinco é apenas uma tentativa despretensiosa de fazer chegar a literatura moçambicana ao mundo, mas ao mesmo tempo criando um espaço novo para os jovens escritores moçambicanos. Por acaso fui movido pela mesma vontade que de outras revistas e jornais on-line, porque não há absolutamente nenhum site moçambicano sobre literatura, cultura; infelizmente este é o primeiro e único. Neste momento não há revistas literárias em Moçambique. O Maderazinco não tem apoios financeiros ou coisas parecida, senão humanos, ou mesmo literários, dos vários colaboradores. A classe política é cada vez mais inculta e eles é que são os burgueses.
Trabalho praticamente sozinho nisto, as pessoas agora não têm tempo para este tipo de coisas, por isso é difícil formar equipa, no dia que envolver dinheiro virão aos magotes para apoiar. Não me queixo, é apenas a realidade. O que mais me apraz, é que tem dado resultados maravilhosos. Foi assim que conheci os companheiros maravilhosos do Palavrarte, já pude privar contigo Luís, com o Cláudio Aguiar. Outros fazedores de literatura pelo mundo.
Pessoas que visitam o site têm endereçado palavras tão carinhosas e isso é espectacular. Muitas pessoas não conhecem a literatura moçambicana, e confessam que a partir do Maderazinco, dá para cheirar alguma coisa, por vezes estudantes visitam o site e pedem variadas informações. Isso me faz feliz.
- No meio da nossa conversa você me falou muito da literatura, da música e do teatro brasileiro, e, também, da preocupação de uma outra imagem que chega daqui em Moçambique. Como é que o Brasil chega até você, que impressão você levou do Brasil?
Brasil não conhece Moçambique, pois só lá chega quando há catástrofes, e grande parte de brasileiros com quem falei pensa que África é um país, quanto mais Moçambique! confesso fiquei chocado... e são pessoas que meia volta dizem, eu sou africano! Mas a nós o Brasil chega das telenovelas, que são vistas desde 85. É por isso que ouvi uma estudiosa portuguesa um dia dizer que "neste momento teme mais o imperialismo cultural brasileiro" mais por via da televisão, a telenovela. Vais hoje aos países que falam português, Portugal também, vais encontrar influências brasileiras na linguagem quotidiana. E isto também reflecte-se na música, só chega a brega. Mas pessoas bem informadas, cultas, conhecem um pouco mais do Brasil, mas melhor mesmo é indo... a literatura brasileira tem influenciado bastantes autores moçambicanos, sem sombras de dúvida. A música também, veja que eu, por exemplo, escrevi o conto Jorogina e o Mar, inspirado na poesia de José Craveirinha e também nas músicas do Chico Buarque e a eles dedico: a sensibilidade, a forma genial como o Chico trata as prostitutas na sua música.
Adorei o Nordeste, o grande movimento cultural que se faz sentir, as comidas, meu deus. Trago comigo uma imagem muito boa do Brasil, a força que vocês fazedores de arte têm, as grandes iniciativas que pude testemunhar, o grande movimento que se faz para o resgate das identidades culturais, (com algum (e contra o) preconceito) principalmente a africana, apesar de algumas vezes me parecer que querem ser mais africanos que os próprios africanos, a euforia é notável, e acho que é movido pela perda das raízes, o que se tenta buscar agora. E pensam que nós africanos também temos o mesmo problema, por exemplo a luta negra; os cenários são diferentes. Mas muitas pessoas esquecem-se que África também sofre as suas transformações, é a urbanização, globalização, essas coisas que afectam todas culturas.
- E os seus projetos literários e teatrais?
Neste momento ando a escrever os meus continhos e poeminhas, devagarinho, o compromisso é pessoal. Ando a estudar a escrita do romance, depois de nos últimos 7 anos ter estudado o conto. Quem sabe mais 5 anos escrevo um. Mas uma das coisas que eu trouxe do Brasil, foi a paixão pela escrita para crianças, ando a escrever poemas e contos para crianças também - "o semáforo / é um camaleão avariado / um mau aluno do arco-íris / anda a decorar as cores / verde amarelo vermelho / vermelho verde amarelo amarelo vermelho verde." Adoro, é tão prazeroso, porque sou eu, a minha infância, a minha criança... E vou tentar fazer com que a revista Maderazinco seja impresso, para que seja distribuído por aqui. No teatro a vida continua, vamos fazendo as nossas peças, temo agendados mais 3 espectáculos para este ano, e ando a pensar em fazer o meu primeiro monólogo, ou então encenação de uma peça. Pois estas duas coisas são os desafios seguintes para mim como actor.
- Encerrando, deixa uma palavra final para os que prestigiam o Palavrarte.
Eu conheci o Palavrarte através de uma amiga que mo aconselhou, eu também já o fiz chegar a várias outras pessoas. É um canto maravilhoso, onde o encontro com o outro é lúdico. E identifico-me bastante com esta revista, o facto de poetas, ficcionistas criarem o seu próprio espaço, fazerem-se conhecer em outras paragens, comunicando, e é exactamente o que estamos a fazer neste momento, o intercâmbio que não espera. Bem haja Palavrarte!
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