S. Tomé e Príncipe: 30 anos de independência
Trinta anos depois da independência, S. Tomé e Príncipe continua a ser um paraíso perdido, um dos países mais pobres do mundo, muito embora possua recursos suficientes para se transformar nas ilhas mais maravilhosas do Atlântico. O país atravessa um período conturbado, que assenta na crispação política e na crise financeira devido à má gestão.
Mas o mais grave é que não se vislumbra a curto/médio prazo um caminho que leve o país a um porto seguro por causa da permanente instabilidade institucional, por falta de estratégia e de objectivos claros e precisos, agora agravados pelo factor petróleo, que, em vez de ser a esperança dos são-tomenses, passou a contribuir para crises políticas e enriquecimento de alguns dirigentes. Esses novos-ricos exibem ostensivamente as suas viaturas e moradias de luxo, desrespeitam as regras mais básicas da educação cívica, enquanto a grande maioria da população vive com menos de um dólar por dia.
Em 30 anos de independência, o país viveu 15 num regime de partido único e os últimos 15 têm sido em regime de democracia pluralista. Todavia, durante estes últimos 15 anos, o país conheceu 14 primeiros-ministros, dois golpes militares (1995 e 2003) e um descrédito dos políticos perante a opinião pública nacional e internacional.
Por outro lado, os indicadores económicos e sociais são assustadores para um país de 150 mil habitantes. A dívida externa está estimada em 320 milhões de dólares, a taxa de desemprego ultrapassa os 30% e a de alunos que não concluem a escola primária é de 60%.
A pobreza atinge mais de 54% da população, sendo 15% na pobreza extrema. Um exemplo onde a pobreza e a falta de higiene andam de mãos dadas verifica-se na Feira de Ponto, situada na capital, S. Tomé. É um mercado onde, para sobreviver, os vendedores comercializam de tudo sem as mínimas condições de higiene. De câmbio de moedas estrangeiras até aos medicamentos, passando pela confecção de alimentos, tudo se vende.
A alegada corrupção na Justiça, a ocupação abusiva dos terrenos do Estado, o paludismo, a má qualidade da água, os constantes cortes de energia eléctrica e o aumento dos casos de sida completam o ciclo global do subdesenvolvimento do país.
As verbas provenientes da exploração do petróleo, que deveriam contribuir para o desenvolvimento do país, têm pelo contrário acentuado os conflitos partidários e pessoais. Os partidos políticos na oposição consideram que a participação do país nos negócios de petróleo está a ser feita de forma desorganizada e que a posição do Estado não está a ser defendida com coesão pelos representantes são-tomenses no Conselho Ministerial Conjunto com a Nigéria. Por outro lado, os sucessivos governos não têm sabido desenvolver a agricultura, pescas e turismo, áreas que deveriam ser prioritárias na promoção do investimento privado e no relançamento da economia.
PORTUGAL É O PRINCIPAL PARCEIRO
Portugal é o principal parceiro de cooperação de S. Tomé e Príncipe, destacando-se as estreitas relações económicas e políticas entre os dois países. Em Dezembro de 2004 foram assinados o programa indicativo de cooperação para o triénio 2005/2007, cujo orçamento ascende a 41 milhões de euros, e o plano anual de cooperação para 2005, cujo valor orçamentado é de 10,5 milhões de euros. A ajuda portuguesa assenta-se na valorização dos recursos humanos, no reforço dos serviços e infra-estruturas. Lisboa realiza a feira do livro português, assegura o funcionamento do centro cultural que permite o acesso à leitura, à internet e eventos culturais. Portugal garante a operação de um Aviocar no apoio às evacuações e transportes de emergência na ligação entre S. Tomé e Príncipe.
DEPOIMENTOS DE TRABALHADORES SÃO-TOMENSES EM PORTUGAL
“Os indicadores económicos e de desenvolvimento evoluíram negativamente. Nos 30 anos de Cabo Verde, uma cabo-verdiana disse que o país evoluiu mais do que nos 500 anos de colonização. Infelizmente, em S. Tomé e Príncipe passa-se o contrário.” João Viegas - Funcionário público
“Nem todos os são-tomenses lêem estes 30 anos da mesma maneira. O país excedeu largamente as expectativas de umas quantas pessoas. Prefiro estar do lado daqueles que não encontram razões para festejar um hino, uma bandeira, e um assento na ONU.” Alcídio Pereira - Economista
“A independência trouxe-nos aspectos positivos, mas deixou-nos marcas muito mais profundas do que as das crianças que aprendem dar os primeiros passos. Falta-nos uma estratégia bem delineada para o desenvolvimento do país e trabalho em equipa.” Liberato Moniz - Arquitecto
“Seria razoável ter-se uma ideia de esperança, de crença na liberdade, na justiça e na democracia. Mas lamentavelmente não podemos ter. Obliterados mentalmente, os dirigentes aprenderam e bem as lições dos mais corruptos políticos da África bem conhecidos.” Mário Bandeira - Psicólogo
Carlos Menezes - CORREIO DA MANHÃ - 13.07.2005