Portugal com prioridade
A primeira-ministra moçambicana, Luísa Diogo, admitiu hoje o interesse de grupos «de muitas partes do mundo» na Hidroeléctrica de Cahora Bassa (HCB), mas destacou a preferência por Portugal, com quem Moçambique negoceia actualmente a reversão do empreendimento.
«Há muitos contactos, de grupos extremamente sérios de todo o Mundo. Os grupos da Ásia são muito fortes e temos também contactos a nível da Europa», afirmou Luísa Diogo, em declarações à estação pública Rádio Moçambique, sobre a atracção que a HCB exerce em meios empresariais internacionais.
Maputo e Lisboa estão a negociar a reversão para Moçambique do capital da HCB, detido maioritariamente por Portugal, num processo que se encontra atrasado, em resultado das mudanças de governo ocorridas já este ano nos dois países.
Recentemente, foi divulgado o interesse na HCB por parte do magnata do jogo de Macau, Stanley Ho, numa ocasião em que diversos grupos económicos da República Popular da China reforçam a sua presença em Moçambique.
Apesar destes interesses, Luísa Diogo ressalvou a preferência por Portugal, enquadrando o papel da HCB no desenvolvimento do Vale do Zambeze.
«Portugal é o nosso parceiro fundamental neste processo e sempre dissemos a Portugal, e reiteramos, que Cahora Bassa não é o empreendimento em si, tem grande responsabilidade no Vale do Zambeze», disse a primeira-ministra.
Luísa Diogo considerou Portugal como «um parceiro sempre importante», com quem o governo moçambicano «trabalhará, mesmo em relação a outras iniciativas que existam no Vale» [do Zambeze].
Para a governante, «neste momento, não se coloca a questão» sobre a eventual existência de espaço para outro parceiro.
Iniciadas há cerca de sete anos, as negociações sobre o capital da HCB, actualmente detido em 82 por cento por Portugal, consagraram em 2004 o princípio da reversão da empresa para Moçambique.
As duas partes acordaram igualmente no pagamento da dívida a Portugal pelos custos de construção e manutenção da barragem mas o valor da indemnização ainda não suscitou consenso.
Portugal reclama uma dívida de 1.8 mil milhões de euros, como compensação para a construção e manutenção da barragem, surgida ainda antes da independência de Moçambique, em 1975.
A parte moçambicana tem defendido que a dívida é da HCB a Portugal e que deve ser a própria empresa a pagá-la, através de um financiamento.
expresso áfrica - 19 Julho 2005