<>Alguns órgãos de comunicação social, por sinal com maior cobertura e com maior facilidade de chegar à verdade, igualmente, optam por dar coro a vozes condenatórias sem lhes acrescentar nenhumas perguntas de indagação da verdade.
Quando alguém tenta se agarrar à verdade torna-se uma minoria isolada, porque a orientação geral parece a de mentir colectivamente, distorcendo-se, deste modo, a verdade dos factos.
A Polícia em Mocímboa da Praia, que tem vindo a acompanhar os acontecimentos desde o início, apresentou uma versão diferente da versão geral conveniente, razão pela qual ninguém mais voltou a publicitar a versão da PRM veiculada pelo respectivo porta-voz do Comando Provincial, em Cabo Delgado, Alexandre Chigulane, no RM-Jornal, das 12.30 horas, de Terça-feira, dia 6 de Setembro corrente.
Ele disse o seguinte: “De acordo com as informaões chegadas do Comando Distrital da PRM em Mocímboa da Praia, por volta das 15.30 horas, de Segunda-feira (dia 5 de Setembro), um grupo de membros e simpatizantes do partido Renamo se encontrava reunido na sua sede, mas quando estavam de regresso às suas residências, eles foram emboscados por um grupo que se presume ser de membros do partido Frelimo. Então, daí começou a escaramuça”.
Estes são os dados que a Polícia forneceu a todo o povo moçambicano sobre como começou o problema em Mocímboa da Praia. De acordo com esses dados, se há alguém a ser condenado e a ser legalmente responsabilizado é o grupo de indivíduos que emboscou os militantes da Renamo quando regressavam de uma reunião na sua sede.
Mas, por incrível que pareça, quem está detido neste momento não é quem emboscou mas quem foi emboscado!!! Que raio de justiça é essa? É isso justiça e legalidade que os patronos das comissões de legalidade defendem para este País?
É, precisamente, por aqui que paira uma percepção pública indelével de que os órgãos de controlo de legalidade e de administração de justiça em Moçambique são parciais e sempre a reboque do partido no poder, ou seja, estão tão umbilicalmente obsecados à defesa do partido no poder que ficam, deliberadamente, cegos perante os factos da realidade objectiva.
Por outro lado, vários telefonemas que ao longo da semana fizemos para diferentes fontes em Pemba e Mocímboa da Praia permitiram-nos confirmar o seguinte:
- De facto, a 4 de Setembro, a Renamo conferiu posse em cerimónia pública a Saíde Assane, como “edil-sombra” daquela formação política para Mocímboa da Praia, gesto democrático comparável ao de “ministros-sombra” já empossados em Maputo pelo partido Renamo, em princípios deste ano, sem que o acto tenha provocado emboscadas nenhumas.
- Que na Segunda-feira, 5 de Setembro, os membros e simpatizantes da Renamo voltaram a reunir-se na sua sede para conhecer de novo local do seu “edil”, Saíde Assane, e para receber orientações sobre como proceder daí para frente.
- Que após as apresentações de praxe, os responsáveis da Renamo em Mocímboa e Cabo Delgado usaram da palavra, explicando aos militantes que aquele acto punha fim há mais de dois meses de manifestações de rua por parte da Renamo. “Daqui para frente, já não há manifestações, porque já tomou posse o nosso presidente do Conselho Municipal. Qualquer preocupação que houver é só vir apresentar neste gabinete”, foi dito na cerimónia, segundo várias fontes nossas.
- Que findo aquele acto, os presentes dispersaram-se, dirigindo-se para as suas residências, ao que foram emboscados no caminho por um grupo de militantes da Frelimo, armado de flechas e outros instrumentos contundentes.
- Que das escaramuças aí verificadas, 13 pessoas, do lado do grupo da Renamo, ficaram feridas.
- A Renamo levou os feridos para a PRM local, onde está aberto um processo sobre esse incidente. Depois, os feridos foram encaminhados para o hospital local.
- Do sector de Saúde, apurou-se que houve oito mortos, cinco por flechas e três por armas de fogo.
- Que as armas de fogo foram inicialmente disparadas pela Polícia local contra os elementos da Renamo, os quais lograram arrancar duas armas com as quais mataram, pelo menos, um polícia e feriram gravemente a outro.
- Que após os incidentes, a Renamo se recusou a devolver as armas à PRM, alegadamente, porque esta é parcial e usa as armas para matar militantes daquela formação política. Em vez da PRM, a Renamo se disponibilizou a entregar as armas às FADM, o que, realmente, veio a acontecer três dias após as escaramuças.
- Que estes factos foram presenciados por alguns dos órgãos de comunicação social representados em Cabo Delgado.
- Estes são os factos que pudemos recolher, por telefone, a partir de Maputo. Esperamos que nossos colegas que estiveram no terreno tenham melhor informação sobre o assunto, pois o povo tem o direito de saber a verdade, independentemente, da cor política do prevaricador.
Da maneira como se falseam os factos históricos em Moçambique, corremos o risco de sermos vaiados pelas gerações vindouras que sentir-se-ão tão envergonhadas quão lesadas por terem uns antepassados tão cobardes que não se importavam em falsear a História de todo um povo só para garantir um mercedes-benz e meia dúzia de mordomias que a proximidade ao poder político do dia oferecia.
Nós somos a favor de que se faça uma investigação independente séria e imparcial antes do coro de vozes, muitas das quais, nem sabem o que estão a condenar. Algumas dessas vozes apenas aprecem só para acenar de que lado é que estão em relação ao poder político vigente, imaginando que dessa forma miservável garantem a sua eternidade nas poltronas de um poder imerecido, o que nos dói bastante porque alguns desses precipitados têm responsabilidades na necessária investigação dos factos.
Ou seja, alguns dos que correm a emitir comunicados de repúdio e condenação são os mesmos que nos deveriam contar a verdade dos factos, isto é, nos contar o que aconteceu e como aconteceu, responsabilizando os implicados de uma forma justa, imparcial e, pedagogicamente, educativa.
Até porque é cobardia e falta de coragem humana alguém insistir em bater nos mortos e, constantemente, fugir de enfrentar os vivos, aqueles que lhe podem responder pela mesma medida.
Se no seio da população podemos considerar a cobardia uma atitude vulgar, já nos parece inaceitável uma cobardia institucional, que leva dirigentes de órgãos com responsabilidades enormes na aplicação da justiça no País a mostrarem-nos, sem lhes termos pedido, de que lado é que estão no xadrez político nacional.
Outro grande azar de Moçambique, é que, neste País, não há diferença entre políticos e académicos!
Salomão Moyana
>
ZAMBEZE - 15.09.2005