Por Sebstião Nkambule (Quénia) 25 de Setembro 2005
Naquilo que é descrito como uma "ofensiva diplomática" junto das comunidades moçambicanas no exterior, o representante de Moçambique no Canadá, Armando Panguene, manteve um encontro a semana passada na cidade canadiana de Vitória com um grupo de moçambicanos desavindos com a Frelimo desde os primórdios da luta pela independência.
No final do encontro, os participantes compromoteram-se a contribuir para o engrandecimento de Moçambique e “enterrar as diferenças que os dividiam”. Os emigrantes moçambicanos optaram por cessar as hostilidades que alguns deles vinham desenvolvendo contra o governo da Frelimo. Em contrapartida, as autoridades moçambicanas promoteram dar ajuda a todos quantos quizessem regressar a Moçambique, incluindo a oferta de cargos em empresas onde o governo é accionista. Aos moçambicanos que optarem por permanecer no estrangeiro, o governo irá conceder passaportes e regularizar a cidadania dos respectivos filhos e esposas. O embaixador Panguene mostrou interesse em nomear um cônsul em Vitória de entre os nacionais moçambicanos ali residentes.
O encontro foi organizado por Francisco Nota, antigo secretário da Renamo para o sector da informação e propaganda. Durante a guerra civil, Nota esteve em vias de ser expulso do Canadá em face de pressões exercidas por Maputo junto das autoridades daquele país. Embora na altura detentor de estatuto de refugiado, Francisco Nota agia como representante da Renamo.
Desde os últimos dois anos, Francisco Nota tem vindo a tentar uma aproximação à Frelimo depois de entrar em conflito com a direcção do movimento renamista por questões ligadas à gestão irregular de fundos. Francisco Nota terá adquirido bens imobiliários no estrangeiro quando teve a seu cargo o pelouro da propaganda da organização de Afonso Dhlakama.
Para provar a seriedade das suas demarches junto das autoridades moçambicanas, Francisco Nota empenhou-se em ataques virulentos contra o antigo movimento rebelde, na pessoa do seu líder, Afonso Dhlakama, em particular durante a campanha eleitoral de 2004. Tudo indica que tal iniciativa, feita através da imprensa independente moçambicana, começa a dar frutos.
O encontro de Victoria enquadra-se na estratégia da Frelimo em manter do seu lado todas as comunidades moçambicanas no exterior, depois do Parlamento moçambicano ter aprovado uma lei autorizando a eleição de deputados pelos círculos eleitorais de África, Europa e Américas. Francisco Nota indicou a a Panguene a sua intenção em encabeçar a lista de candidatos pelo círculo eleitoral das Américas no próximo plebiscito que está programado para ter lugar em 2009. Diz-se que Francisco Nota concorrerá pela lista do PDD, partido de Raúl Domingos, outra figura dissidente da Renamo com estreitas ligações a figuras proeminentes da Frelimo, mormente Nympine Chissano. Domingos e Nota são oriundos de Sena.
Francisco Nota é apontado como estando em contactos com o GPZ na mira de obter a licença e apoio financeiro para um projecto agro-pecuário que familiares seus desejam levar a cabo no vale do Zambeze. O GPZ terá expressado interesse por tal iniciativa, particularmente pelo facto de Francisco Nota dizer contar com apoio técnico de sectores ligados à CIDA, Agência Canadiana para o Desenvolvimento Internacional.
Participaram no encontro de Vitória moçambicanos residentes no Canadá e Estados Unidos. Após as discussões formais seguiu-se um beberete num hotel de Vitória onde se encontrava hospedada a delegação encabeçada por Panguene.
Antes de ingressar no corpo diplomático, Armando Panguene desempenhou funções no Ministério da Defesa. Foi governador de Cabo Delgado e de Nampula.