ANTÓNIO MARUJO
Reunião em Moçambique até ao fim da semana junta presidências das
conferências episcopais.
As rádios locais ou comunitárias, a formação e a economia social são
três sectores que deverão merecer a atenção das conferências
episcopais dos países lusófonos. A partir de hoje e até ao fim da
semana, as presidências dos bispos de Angola, Brasil, Cabo Verde,
Guiné-Bissau, Moçambique e Portugal reúnem-se na capital moçambicana
no sexto encontro do género. Só Timor estará ausente, já que São Tomé
está junto com a Conferência Episcopal de Angola.
A Conferência Episcopal Portuguesa (CEP) faz-se representar na reunião pelo presidente e vice-presidente, os bispos Jorge Ortiga (Braga) e António Montes (Bragança). O padre José Maia, presidente da Fundação Evangelização e Culturas (FEC), participa também no encontro, já que à FEC incumbe a coordenação e a logística destas reuniões.
As rádios comunitárias serão uma das áreas em que a delegação portuguesa irá propor uma maior cooperação. Em Angola, a Rádio Ecclesia, que pertence à Igreja Católica e está suspensa, e mais sete rádios comunitárias estão à espera de autorização do Governo para emitir. Em Moçambique, trata-se de articular a colaboração entre outra meia dúzia de emissoras comunitárias.
Guiné-Bissau, São Tomé e Cabo Verde já têm experiências de rádios ou
programas a funcionar sob a responsabilidade da Igreja, descreve o
padre Maia. E esta aposta na rádio impõe-se, sublinha o presidente do
conselho de administração da FEC, porque a telefonia constitui, em
África, um meio de comunicação fundamental, ligando a comunidade e
ajudando o desenvolvimento cultural, entre outras coisas.
Portugal quer organizar reunião em 2006
No encontro do ano passado, realizado na Guiné-Bissau, o bispo de Luanda (Angola), Damião Franclim, falou da necessidade de dar passos para que os povos construam a sua própria autonomia e consolidem a liberdade, recorda José Maia. Por isso, a CEP e a FEC irão fazer propostas em outros dois âmbitos que podem ajudar nesse caminho: a formação — de professores, nomeadamente —e a economia social.
As "escolas de navegadores", na linha da informatização e da sociedade do conhecimento, serão uma das iniciativas para corresponder à preocupação da liberdade, autonomia e igualdade de oportunidades, diz o padre português. A formação de professores — área em que a FEC tem experiência, pois formou já 600 docentes só na Guiné-Bissau — pode ser outra área preferencial de trabalho, se as propostas portuguesas forem aceites.
Na área da economia social, a delegação portuguesa leva o compromisso
de uma maior articulação entre as três entidades católicas que mais
cooperação fazem: Caritas, Fundação Ajuda à Igreja que Sofre e Fundação Evangelização e Culturas. A possibilidade de apoiar a criação de micro-empresas a partir dessa coordenação estará também em cima da mesa.
O intercâmbio de clero e seminaristas, falado e previsto nas conclusões de encontros anteriores, ainda não avançou tanto quanto os líderes das conferências episcopais desejariam. "Depende mais de cada bispo", diz José Maia, que irá ainda propor que a próxima reunião, em 2006, decorra em Portugal, onde se realizou o primeiro encontro.
PÚBLICO - 06.09.2005