A economia de Moçambique tem beneficiado "muito pouco" com a aposta do Governo em mega- projectos empresariais, considera o economista moçambicano Carlos Nuno Castel-Branco, que defende a diversificação da base produtiva do país.
Nos últimos anos, Moçambique foi palco de grandes investimentos privados, com destaque para a fundição de alumínio da Mozal, orçada em cerca de dois mil milhões de euros, e a exploração dos jazigos de gás de Pande e Temane pela petroquímica igualmente sul-africana SASOL, numa iniciativa avaliada em mais de mil milhões de euros.
Contudo, as isenções fiscais de que gozam os grandes investimentos em Moçambique, os elevados montantes de lucro que estão autorizados a repatriar e a reduzida mão de obra que empregam, devido ao recurso a tecnologias de ponta, tem levado vários sectores nacionais a duvidar da contribuição efectiva destes empreendimentos na luta contra a pobreza em Moçambique.
Falando sobre a evolução da economia nacional, por ocasião do 10º aniversário do Banco Internacional de Moçambique (BIM), Carlos Nuno Castel-Branco afirmou que o contributo das grandes empresas para a balança comercial é uma "ilusão".
"Sem aumentar muito significativamente as ligações fiscais, de emprego e com fornecedores dentro da economia, muito pouco do que os mega projectos produzem pode ser efectivamente retido pela economia".
Para o economista, que é igualmente docente na Universidade Eduardo Mondlane, "uma aposta ainda maior em mega projectos poderá reduzir ou impedir o desenvolvimento da competitividade de outras actividades económicas, devido a efeitos macro-económicos nocivos".
Carlos Nuno Castel-Branco alertou ainda para o risco de aumentar a vulnerabilidade da economia do país a "choques" e o perigo de volatilidade macro-económica, devido a uma maior concentração de mega-projectos.
Por outro lado, o académico expressou dúvidas sobre a capacidade de o país sustentar um número de mega-projectos muito maior do que aquele que já tem, "dados os constrangimentos institucionais, de qualificações e macro- económicos enfrentados".
NOTÍCIAS LUSÓFONAS - 19.09.2005