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Hermínio Morais, um general participou na formação do exército único e apartidário saído do Acordo Geral de Paz, surpreendeu-me semana passada com as ordens que deu aos militares das FADM.
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A surpresa não veio pelo conteúdo das suas ameaças, pois, muitos dos que o conhecem sabem que ele próprio nunca pensou em ir às famosas matas de Maríngwè. A surpresa veio-me mais pelo pouco que conheço dele.
Logo que acabou a guerra, Morais foi um dos antigos guerrilheiros da Renamo- dos poucos- que recomeçou as aulas que havia interrompido. É dos poucos ex-guerrilheiros que conhece ou devia conhecer o espírito e a letra do AGP e a filosofia que norteia o funcionamento das FADM.
Consta-me que agora está no fim do curso de Direito e com esta formação, custa acreditar no que ouvimos a sair de sua boca.
Custa-nos também acreditar que um homem como ele, coma experiência que tem de fazer guerra, lance palavrões como estes (iremos com granadas e armas AKM... para as matas de Maríngwè) quando sabe que movimentar uma tropa implica uma logística que ele e os seus chefes não têm.
Pode dizer que foi assim- com pouca ou nenhuma logística- que começou a guerra dos 16 anos.
Mas deve-se lembrar que tal guerra foi suportada no início e no meio pelos amigos de fora, que planificavam e executavam boa parte das operações e dirigiram mesmo o comando da mesma.
Os cenários de ontem não são os mesmos de hoje.
Também sabe o general Hermínio Morais que aqueles a quem agora pretende mandar para as matas, estão a receber salários bons, diga-se de passagem do Orçamento Geral do Estado. Têm, por conseguinte, o dia a dia assegurado com as suas famílias- mulheres e filhos-, e com os seus amigos.
Sabe também, Morais que, a Renamo entanto que ela, não tem condições nem para pagar autocarros de Maputo para Marínguè, a partir da Junta nem a partir de um outro qualquer ponto. Autocarro como quem diz: toda a logística para uma viagem que é o início ou reinício de uma vida dura de guerrilha.
Sabe o general Morais que as delegações provinciais da Renamo e quadros a nível distrital e provincial estão quase que abandonados pela cúpula. Agora querem tirar generais que estão acomodados para o sol e para a chuva em troca de quê?
Tendo Morais estes conhecimentos todos, porquê então se mete no ridículo?
Só ele, certamente, sabe porquê.
Mas que é mau para ele, para a sua família e mesmo para as causas que a Renamo defende, isso sim sabe.
Falar de guerra não pode ser um exercício fácil ou facilitado.
Ninguém, de bom senso, deve falar dela em tom de brincadeira.
Sorte é que estamos em democracia tolerante, que até deixa pessoas fazer ameaças, recrutamentos e convoca homens armados para se concentrarem em bases militares e nada acontece.
Nem um comunicado da nossa activa PGR.
Maus sinais estes que vivemos.
Lourenço Jossias - ZAMBEZE - 01.09.2005
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