Adão Joaquim, presidente de uma coisa que dá pelo nome Plataforma Política Extra-Parlamentar, acusou a UNITA de possuir "23 mil paióis" com armas escondidas em todo o país. "Existe uma denúncia da população civil de que a UNITA ainda possui 23 mil paióis no país, o que constitui uma ameaça não só às eleições, mas ao próprio país", afirmou no final de uma audiência com o Presidente angolano, José Eduardo dos Santos. Tenho dúvidas se foi o senhor Adão que contou o caso ao senhor Eduardo ou se foi o contrário. Seja como for, ou Adão Joaquim prova o que disse ou, não o fazendo, deverá ir preso. Se nada disto acontecer (ou que é o mais provável) fica a ideia de que o Presidente angolano está a fazer jogo sujo (fantasma da guerra) para ganhar as eleições, se as houver.
Por Orlando Castro
A UNITA reagiu rápida e eficazmente dizendo que são «atoardas provenientes de uma boca alugada». O ónus da prova cabe, diz-se em qualquer Estado de Direito (será o caso de Angola?), a quem acusa. É claro que Adão Joaquim vai dizer que não tem forma de provar. Mas se ele não tem, é certo que Eduardo dos Santos tem. E se tem, está à espera de quê para pôr tudo em pratos limpos?
Do ponto de vista político, e isso está nos mais básicos manuais, a estratégia do MPLA e de Eduardo dos Santos é acenar com o fantasma da guerra para dizerem que não existem condições para que as eleições tenham lugar em 2006.
Também um dos órgãos oficiais do Governo (que com o MPLA e Eduardo dos Santos são a mesma coisa), no caso a Rádio Nacional de Angola, se prestou a mais um exercício de propaganda a favor do patrão. Teria sido fácil, no mínimo, ouvir imediatamente a Direcção da UNITA. Não o fez. Prestou um mau serviço à democracia, à paz e a Angola. Mas, é claro, prestou um bom serviço ao ditador que há décadas governa o país.
A UNITA, que julga já estar num Estado de Direito, diz que vai «processar judicialmente o autor» e exige que apresente as provas que possui, em juízo. Santa ingenuidade. O processo judicial nunca mais estará resolvido e o fantasma vai estar bem vivo. Numa ditadura não há poder judicial capaz.
Se são mentiras o que disse João Joaquim, a UNITA deve reclamar uma comissão independente, formada também por observadores ou especialistas internacionais, para provar aos angolanos e ao Mundo que tem razão. De outra forma, haverá sempre um João Joaquim qualquer a dizer que existem armas escondidas ou, quem sabe, que Jonas Savimbi ressuscitou.
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DIÁLOGOS LUSÓFONOS - 10.09.2005