O líder da RENAMO, Afonso Dhlakama, afirmou que a guerra em Moçambique "acabou em 1992", numa altura em que crescem ameaças de sectores do maior partido da oposição de um "regresso à acção".
"Este encontro não é para enterrar o machado de guerra, porque a guerra acabou em 1992", defendeu Dhlakama, no início de uma palestra "de reconciliação" com meio académicos no Instituto Superior Politécnico e Universitário de Maputo (ISPU).
A palestra surgiu na sequência de graves críticas do líder da RENAMO aos reitores do ISPU, Lourenço do Rosário, e da Universidade Eduardo Mondlane (UEM), Brazão Mazula, acusados de "cobardia" e de fazerem o jogo do partido no poder, FRELIMO, pelo papel por ambos desempenhado durante as eleições gerais de 2004.
Antes da votação, o ISPU divulgou uma sondagem que dava a vitória à FRELIMO e ao seu candidato presidencial, Armando Guebuza, o que acabou por acontecer.
O reitor da UEM presidiu ao Observatório Eleitoral, o primeiro dos diversos grupos de observadores moçambicanos e internacionais a proclamar a vitória da FRELIMO e de Guebuza.
Na quarta-feira, Dhlakama insistiu que esta situação condicionou os restantes grupos de observadores e acusou a sondagem do ISPU de inverter as zonas de influência do seu partido, ao prever a vitória da FRELIMO nos meios rurais.
"Houve discussão mas não se pretendeu despromover os intelectuais. O intelectual também erra", acrescentou Dhlakama sobre o incidente, perante uma plateia com centenas de pessoas.
Diversos abraços entre o líder da oposição e o reitor do ISPU, bastante aplaudidos, parecem ter encerrado a polémica, alimentada pela resposta dos académicos de que "a oposição em Moçambique é fraca".
Respondendo a perguntas da assistência, Dhlakama considerou que "os intelectuais ainda correm riscos" e são pressionados pela FRELIMO.
"Quantos professores deste país foram despromovidos porque foram apanhados nas sedes do partido da oposição?", perguntou o líder da RENAMO.
Numa das raras aparições junto da sociedade civil, fora dos períodos eleitorais, Afonso Dhlakama adoptou um tom conciliatório, que não o impediu de reivindicar para o seu partido "a construção de um espaço democrático" e ouviu alguns assistentes afirmarem-se como "filhos da FRELIMO" mas reconhecerem o papel da RENAMO na mudança em Moçambique.
O tom do líder da RENAMO contrasta com recentes tomadas de posição do seu partido, nomeadamente o do ultimato dado pelos seus generais ao Governo para parar com o que consideram ser o afastamento dos militares da oposição das fileiras das Forças Armadas de Defesa de Moçambique (FADM).
Os militares da RENAMO avisaram que poderão voltar à acção caso não sejam satisfeitas as suas reivindicações.
Hoje, a RENAMO anunciou que vai dar posse ao seu candidato derrotado nas eleições municipais intercalares de Mocímboa da Praia e formar um Governo paralelo naquela vila da província de Cabo Delgado, norte de Moçambique.
As eleições foram ganhas pelo candidato da FRELIMO, com 52,67 dos votos mas desde o anúncio dos resultados, em Julho, a oposição tem realizado manifestações permanentes na localidade.
NOTÍCIAS LUSÓFONAS - 01.09.2005