Brasil: novo escândalo de corrupção
Paulo Maluf, várias vezes governador estadual, presidente da Câmara de São Paulo e candidato à Presidência da República, está detido desde a madrugada de ontem. Considerado um dos políticos mais influentes da última década no Brasil, Maluf entregou-se à Polícia Federal, horas depois de a sua prisão preventiva ter sido decretada pela juíza Sílvia Maria Rocha. O seu filho, Flávio Maluf, com a prisão também decretada, entregou-se ao amanhecer.O ex-presidente da Câmara (do Partido Progressista) e o filho foram acusados de branqueamento de capitais, remessas ilegais para o exterior, desvio de dinheiro público e associação criminosa. No entanto, o mandado de captura que culminou na prisão de pai e filho não se reporta àquelas acusações, mas sim a coacção a testemunhas e destruição de provas. Em telefonemas gravados pela polícia, Flávio e Paulo Maluf tentaram coagir e ameaçaram um negociante ilegal de divisas, Vivaldo Alves, para que este, que foi chamado a depor, se recusasse a falar.
Mas Vivaldo falou, e muito. Afirmou à polícia que durante anos foi o responsável pelo envio para o estrangeiro de dinheiro dos Maluf, que, só em três contas nos EUA, movimentaram 250 milhões de dólares. Com base no depoimento de Vivaldo e nos dados por ele fornecidos, o Ministério Público diz ter encontrado o elo que faltava para ligar Maluf ao desvio de milhões de dólares, presumivelmente pagos, entre outras, pela empresa de construção civil Mendes Júnior como ‘luvas’. Esta empresa venceu as licitações para construção de duas grandes obras em São Paulo, obras suspeitas de sobrefacturamento.
Dezenas de processos têm ligado Maluf a corrupção e branqueamento de capitais ao longo da sua carreira, mas ele nunca foi condenado em última instância e nunca tinha sido preso. Maluf defende-se dizendo que não tem contas no estrangeiro e que está a ser vítima, juntamente com a sua família, de uma tentativa de extorsão.
'LIGAÇÕES' PORTUGUESAS
No turbilhão das sucessivas denúncias de corrupção no Brasil, várias empresas portuguesas têm sido citadas. E algumas estão mesmo sob o olhar das comissões de inquérito do Congresso Nacional. A primeira foi o Banco Espírito Santo por alegadamente ter estado interessada num esquema de troca de favores com empresas brasileiras que renderia uma generosa doação ao ‘saco azul’ do Partido dos Trabalhadores.
Depois, em denúncias semelhantes, foi a vez da Portugal Telecom e do Millennium BCP, sem que até agora tenha sido provado algo contra as três. A última foi a Somague, mas de forma indirecta. A construtora é sócia da empresa ‘Leão & Leão’, acusada de ter pagado ‘luvas’ mensais de 18 mil reais ao actual ministro das Finanças, António Palocci, quando este governava a cidade de Ribeirão Preto.