Edwin Hounnou - [email protected]
Chimoio, é hoje um dos lugares mais cosmopolitas do país. O Chimoio tornou-se o refúgio onde centenas de expatriados brancos, «empurrados» do Zimbabwe nos últimos quatro anos por Robert Mugabe, vieram replantar as suas raízes. «Viemos para ficar», diz Francis Hakings, o líder dos zimbabweanos no Chimoio. A sua família, de origem inglesa, estava há quatro gerações no Zimbabwe. Em Moçambique, espera não sentir a maldição que tiveram no Zimbabwe.
Hakings não foi expulso da sua terra. Mas teve de pagar, de repente, aos 500 empregados as «indemnizações», como se os tivesse despedido.
“No dia seguinte eles apareceram ao trabalho. Nós dissemos-lhes que já não havia dinheiro para continuar”, recorda Lizz, mulher de Hakings. O clima era demasiado hostil para que decidissem ficar. “Tivemos que procurar um lugar onde pudéssemos continuar a fazer a única coisa que sabíamos fazer : trabalhar”.
Impedido por Mugabe de passar a fronteira com as máquinas e produtos agrícolas, teve de recomeçar do zero.
Como os outros zimbabweanos, estabeleceu-se à custa do empréstimo feito pela empresa multinacional de tabaco Damon, que continuava a precisar da sua produção.
Viveram os primeiros tempos em tendas, dando prioridade ao investimento na terra. Organizaram-se numa associação de «farmeiros» - nome que já se usava por aqui para os agricultores, e agora ganhou sentido.
Construíram uma escola para que os filhos estudem em inglês, com aulas extras de português. Trouxeram empresas de sementes, produtos e máquinas agrícolas. Construíram o primeiro matadouro a sério da região.
“Esta prosperidade não tem reflexo nos nossos bolsos”, avisa John Wilson.
O principal problema dos farmeiros é o financiamento. O baixo preço do tabaco, a que estão agarrados por causa do empréstimo, não dá lucro. “Queríamos começar a plantar mangas, lítchies” , explica Wilson, frutas tropicais que podem dar-se bem nos solos do Chimoio.
Os bancos moçambicanos não emprestam sobre a terra, que por causa da nacionalização, praticamente não tem valor. Wilson alugou a sua terra por cerca de um dólar o hectare.
Ele é de uma leva anterior de expatriados, veio em 1980, quando o seu país, que se chamava Rodésia, passou a ser Zimbabwe, em 1980. «Previ o que, mais cedo ou mais tarde, iria acontecer», disse.
O tempo deu-lhe razão. Uma nova comunidade, um grupo de gente desponta com o mesmo ofício com quem discutir os assuntos da terra.
Não que a Wilson desagrade Moçambique - casou com uma mulher do Chókwè, com a qual tem dois filhos pequenos. “Aqui a cor da pele parece não importar”, diz. Com os seus compatriotas, agricultores de mão cheia e forjados, ganhou um novo alento. Arranjou um sócio e está a plantar um campo de proteas, uma flor exótica, para exportar. A produção é apoiada por uma ONG holandesa para o desenvolvimento.
O AUTARCA – 13.09.2005